sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cristianismo


Os cristãos creem que Jesus Cristo é o filho de Deus. Os mistérios que envolvem a morte e a ressurreição de Jesus dão início ao Cristianismo. Jesus era judeu, viveu e morreu na Palestina. Os primeiros seguidores da “Boa Nova”, escritas nos evangelhos, eram judeus. A partir da chegada em Antioquia é que os anunciadores de Jesus forma denominados cristãos. As características que diferenciam o Cristianismo são a experiência do Espírito Santo e a ressurreição de Jesus (FONAPER, 2000a, p. 30).
A fé cristã precisa ter ações práticas. Não se deve justificar a opressão e a exploração. Só assim terá sentido as celebrações litúrgicas realizadas. Cristo é a inspiração básica para as boas ações. Vejam-se os exemplos de do teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer ou do pastor e defensor dos direitos humanos Luther King ou o padre polonês Popieluszko ou de D. Oscar Romero, ao engajarem-se em favor dos desfavorecidos. Todos eles possuem em comum: “eram cristãos conscientes e convictos; empenhavam-se por seus semelhantes, sem violência; foram mortos com brutal violência”. Suas lutas tinham como modelo Jesus de Nazaré. Neste sentido é que a essência do Cristianismo é esse Jesus Cristo. (KÜNG, 2004, p. 213-24).
Após divisões e concílios – reuniões para resolver questões de fé – “o cristianismo subdividiu-se entre ocidental e oriental” ocorrida em 1054. Com a reforma de Lutero o cristianismo ocidental dividiu-se em católicos e protestantes, iniciada 1517. (Ibid., p. 31).
A igreja é o “Corpo de Cristo” e a sua presença viva no mundo para o Cristianismo. Para seguir o exemplo de Cristo, seus seguidores ensinam, pregam os evangelhos e servem o próximo em especial aos necessitados. No Batismo o cristão aceita a igreja “recebe a graça e o poder para fazer a obra de Cristo e entre em nova vida, transcendendo a morte”. A eucaristia (ceia) é o momento da confirmação da promessa, feita por Jesus, de estar sempre entre eles (Ibid., p. 31).
A igreja ortodoxa constitui-se de diversas igrejas independentes e remontam ações missionárias no mundo mediterrâneo. “As mais antigas são a igreja ortodoxa grega e as igrejas sob os patriarcas de Alexandria, Antioquia e Jerusalém”. Além destas tem ainda as de São Cirilo e São Metódio, da Rússia, da Sérvia, Romênia, Bulgária, Antiga Checoslováquia, Polônia, Chipre e Albânia. Os ortodoxos compartilham maioria das crenças, mas possuem diferenças quanto ao estilo e a prática de vida cristã. A igreja ortodoxa não reconhece a autoridade do papa e “tem no patriarca o seu chefe” (Ibid.).
O termo ortodoxo – do grego – é usado pelas igrejas orientais. Essas igrejas estão marcadas pelo mundo grego. Além de linguagem do novo testamento, o grego era usado na liturgia e como linguagem inter eclesial. Os ocidentais chamavam-se de católicos e os orientais, ligados à Constantinopla preferiam “ortodoxos”. (Ibid., p. 32)
Em geral os ortodoxos usam os ícones, como forma de representação real. Eles são venerados de forma respeitosa. Os devotos consideram que através desses ícones podem adentrar “o tempo e o espaço sagrados”. Acreditam que existem poderes milagrosos, em especial os que são feitos com a mão, denominados de acheiropoietos. É também o símbolo da realidade transcendente e usado como referência de meditação (Idem).
Os cristãos consideram a Bíblia judaica como o Antigo Testamento, onde os desígnios de Deus fizeram com que se estabelecesse uma aliança com os homens, mas que tudo se completa efetivamente no Novo Testamento (Evangelhos), onde o messias – Jesus – esperado e anunciado no Antigo Testamento se realiza com a Vinda de Jesus Cristo.

O cristianismo no Ocidente
O Cristianismo baseia-se na vida e obra de Jesus Cristo. Um grupo de discípulos da Galileia, seguidores de Jesus receberam missão, “confirmada pelo Espírito Santo” (FONAPER, 2000b, p. 7). No século XIX o Cristianismo espalhou-se pelo mundo e é hoje a religião de um quarto da população mundial: “O Cristianismo é (ou deve ser) a resposta para a questão: ‘Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? ’ (Marcos, 10, 17). Jesus respondeu: pelo total desapego de si e de seus bens. Deus julga a todos por um critério: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos a mi o fizestes’ (Mateus, 25, 40)” (Ibid., p. 8).
O ensinamento de Jesus Cristo constituía algo muito simples. Ele simplificou a Bíblia judaica em amor a Deus e ao próximo, mas com a exigência do amor cristão (Ágape). A “Boa Nova” ou Evangelho (Gr. Euaggélion) “de salvação do pecado e da morte devem ser compartilhados”. É nos Evangelhos que estão os ensinamentos de Jesus, contados pelos quatro evangelistas. “A teologia tradicional considera que Jesus é o filho de Deus – a segunda pessoa da Santíssima Trindade -, que se tornou homem e veio ao mudo para salvá-lo através da pregação de sua doutrina, foi crucificado, ressuscitou, subiu ao céu e voltará, no momento do Juízo Final, para julgar toda a humanidade”. (Idem).
O Cristianismo, no início, se constituía de um pequeno movimento que teve a experiência do Espírito Santo a acreditavam na ressurreição de Cristo. No século II, houve uma mudança nessa constituição inicial. O que antes era a igreja que representava o “Corpo de Cristo” sob uma só cabeça, “transformou-se na imagem do exército romano, em um papa (líder espiritual da igreja), cardeais, bispos, padres, monges, freiras e o leigos. Outras formas de Cristianismo, como o presbiterianismo ou o congregacionalismo, tentam manter o primitivo modelo democrático do Corpo” (Ibid., p. 9).
Após a divisão do Cristianismo em Ocidental e Oriental ou Ortodoxo, houve tentativa de reunificação que falharam. Os motivos foram a rejeição de Cristãos Ortodoxos à autoridade universal do bispo de Roma (o papa). Esta autoridade tornou-se ainda mais absolutas no Vaticano I (1869-1870) que “afirmou a infalibilidade papal em assuntos morais e de fé. O Vaticano II (1962-1965) buscou um estilo mais consultivo da Igreja, mas isso ainda não foi alcançado na prática” (Idem). O Cristianismo Ocidental dividiu-se pela Reforma e as Igrejas reformadas. As modificações eram em relação à doutrina e à prática. Isso deu origem às igrejas luteranas, batistas, metodistas, presbiterianas etc. Há tentativas de ecumenismo com o CMI – Conselho Mundial de Igrejas – e o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) (Cf. FONAPER, 2000b, p. 9).
Os Cristãos concebem que Jesus Cristo é o poder divino no mundo. Jesus se identifica com Deus e parecia que Deus agia através dele. “Quem me vê, vê o Pai” (João,14, 9). Esta noção deu origem a crença de que Jesus era Deus e homem. Tal crença levou a algumas doutrinas cristãs: Encarnação, Cristologia, Trindade e Remissão:
A doutrina da Encarnação afirma que Deus estava presente em todos os momentos e aspectos da vida de Jesus, e isso, no entanto, não destruiu ou sufocou sua existência como ser humano.
A doutrina da Cristologia prega que Jesus era, portanto, uma pessoa em que as duas naturezas, a humana e a divina, estavam sempre e harmoniosamente presentes.
A doutrina da Trindade sustenta que Deus é sempre aquilo que foi revelado por meio de Cristo: Pai, Filho e Espírito Santo.
A doutrina da Remissão é a crença de que as coisas que Jesus fez durante sua vida, curando as pessoas e restituindo-as a Deus, independentemente de quão pecadoras tivessem sido, podem repetir-se hoje para os que têm fé; na morte na cruz triunfa sobre a separação de Deus provocada pelo pecado e pela morte. (Ibid., p. 12).
Em suas características essenciais o cristianismo é determinado pelo modelo de quem foi Jesus Cristo. Assim Küng resume o que é ser cristão:
Cristão é todo aquele que, em sua caminhada pessoal – e cada pessoa tem seu próprio caminho –, tenta se orientar por este Jesus Cristo. No fundo, nenhuma organização, nenhuma instituição e também nenhuma igreja deveria honestamente chamar-se cristã se não pode tomá-lo como referência (KÜNG, 2004, p. 214).
Os cristãos possuem o aspecto da esperança. Ela é a fonte de todas as suas ações. Para isso observa-se uma cultura de não violência, respeito à vida, de respeito mútuo entre homens e mulheres, solidariedade, justiça, tolerância e veracidade. O respeito entre as culturas e religiosidades do mundo também está no foco dos cristãos. O esperar representa então uma ação, o agir para que haja diálogo entre as religiões.

Taoismo

No Taoismo o Tao é o caminho e a fonte para a garantia de tudo neste ou em qualquer mundo. O Tao, então, é o “não produzido Produtor de tudo o que existe - a fonte de todas as coisas”. Vive-se de acordo com o Tao quando não se luta contra a maré. Já o Te consiste no poder de fazer com que o Tao realize em todas as coisas. Nas palavras do taoista Liu Ling vê-se uma resposta para se compreender o Taoismo: “Adotei o universo inteiro como minha casa e meu próprio quarto como minha roupa”. Neste sentido a virtude consiste na não-ação ativa (wuwei). O wuwei é quando “o Tao invariavelmente nada faz, e ainda assim nada deixa de ser feito” (FONAPER, 2000a, p. 16).
Considera-se que Lao-tsé, ou Lao Tzu tenha escrito o escrito da sabedoria chamado Daode Jing (Tao Te Ching: Livro do Caminho e seu Poder). Na verdade não se tem certeza da existência de Lao-tsé, mas o livro Tao Te Ching é considerado clássico do caminho da virtude. Nele é que se ensina:

Tao: “caminho” é aqui entendido em sentido amplo, como o princípio primeiro e último, indefinível, inominável e indescritível. Não, não é uma divindade pessoal, mas sim a razão básica do mundo inteiro, preexiste ao céu e à terra. Mão de todas as coisas e, mesmo sem agir, ele faz com que tudo surja tranqüilamente. Por isso Tao é, ao mesmo tempo, Te: “força” (“também virtude”). Te atua como força do Tao em todo produzir e evoluir e na conservação do mundo; ele se encontra em todos os fenômenos, fazendo-os ser o que são. Contudo, o Tao e sua força não podem ser apreendidos em lugar algum, não podemos dispor dele. É “vazio”, sem qualidades que possam ser percebidas pelos sentidos. E só quando o homem se encontrar também no estado de “esvaziamento” (wu), libertado da paixão e dos desejos, só quando ele acolhe a ordem cósmica, o Tao, como a lei de sua vida e de se deixa preencher pelo Tao, só então é que, no agir ou não-agir (wu-wei) desinteressado, ele imita o silencioso agir da natureza. Nesse momento ele está em harmonia com a natureza, ou mesmo pode alcançar a unidade com o Tao (KÜNG, 2004, p. 125).

Daí é que vem o tai chi como atividades físicas suaves, fluidas e lentas para o domínio da consciência, respiração e movimento. O objetivo é superar as tensões do corpo e os “bloqueios nos meridianos de energia”. A unidade homem-natureza é realizada pelo indivíduo na solidão, ou em “místico aprofundamento: pelo silêncio passivo e persistente, precisamente aquele não-agir ou não intervir (wu-wei), e justamente assim buscar a harmonia com a Grande Natureza, com o Tao, que é a harmonia perfeita” (KÜNG, 2004, p. 125-26).

O Taoismo é um movimento religioso. Nele foram inclusos elementos das antigas religiões chinesas, mas que chegou-se a uma imensa obra escrita. Esta obra são “experiências divinas aos Taoístas em estado de transe, sem que seja informado o autor, nem o momento da redação”. Estas obras estão reunidas no daozang. Esse se compõe de 1120 volumes. Eles versam sobre os cultos de purificação (exercícios de ioga, dietética, ginástica, procura de elixires), e sobre o prolongamento da vida. O Taoismo tornou-se religião da imortalidade e por isso muito popular. Com a morte o taoista sega para um dos paraísos ou para a ilha das bem-aventuranças. (Ibid., p. 126).

Tanto o Taoismo quanto o Confucionismo nascem na China por volta do século IV a.C. O início do Taoismo está associado ao nome de Lao Tzu, a quem é atribuída a criação do Tao Te Ching. Verifica-se a existência de três linhagens do Taoismo: o filosófico, o ióguico e vitalista e o popular e religioso. Suas preocupações eram com mais com o sobrenatural, diferente do confucionismo ligados à moral e à sociedade (FONAPER, 2000a, p. 16).

O pensamento yin-yang referem-se à ideia de que tudo no mundo possui dois lados. Um lado norte, sombrio, frio, escuro, femenino (yin) e o lado sul, ensolarado, quente, claro, masculino (yang). Há uma tensão claro-escuro, ativo-passivo, criativo-receptivo, duro-mole, masculino-feminino e ao mesmo tempo ambos possuem em si o germe de seu contrário. O yin e o yang no taoismo “pode ser cultivado, sobretudo na vida privada, sendo em larga escala determinante para a vida interior e espiritual do indivíduo e dos diferentes grupos. Ele é mais a religião do povo, mas, em tempos de caos e de divisão política, oferece também aos instruídos uma espécie de consolo filosófico” (KÜNG, 2004, p. 130). Pode-se comparar o yin-yang a céu e terra em que procedem da última realidade no Taoismo, o grande último (taiji) (Ibid.).

O princípio para a vida prática para o Taoismo é wei wu wei, isto é ação da não-ação, renúncia criativa. Não significa ser passivo, mas estar alerto contra a agressividade para se chegar a uma “atividade desprovida de ação” (FONAPER, 2000a, p. 17). Para se conseguir a saúde do corpo humano, o Taoismo compreende o corpo como um todo. A doença é vista como uma “perturbação do equilíbrio global das forças no organismo humano, como conseqüência da desarmonia e da desigualdade. (…) O homem está inserido em um sistema universal de relações, correspondências e fluxos de energia” (KÜNG, 2004, p. 123). Isto explica o fato de se buscar a quietude, a não-ação para a realização de um equilíbrio micro e macrocósmico, uma harmonia em todos os aspectos da vida. No yin e yang há complementariedade desta relação, na medida em que permanecem como um todo e ao mesmo tempo são opostos.

REFERÊNCIAS

FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.

FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz ocidental, Caderno 6, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000b.
 

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.

VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Islamismo

O Islamismo ou Islã é a religião de fidelidade a Deus. O profeta Maomé, que viveu historicamente no século VII, relata que o islã iniciou como modo de vida (din), prometido por Deus à sua criação. “A revolta e o pecado humanos significavam que Deus enviava constantemente profetas, incluindo Moisés, chamado Musa no Islã, e Jesus, a figura central do Cristianismo, chamado Isa pelos mulçumanos, para reconduzir as pessoas ao din apropriado”. Todos foram rejeitados, com exceção de Maomé. (FONAPER, 2000a, p. 34).
Maomé, nascido em Meca – Arábia Saudita – entre 570 e 580 d.C., teria recebido revelação do arcanjo Gabriel. No Corão contém as revelações desse arcanjo ao profeta Maomé. Nele contém preceitos religiosos, os dogmas e a moral do Islã. Além de religião o Islã forma uma comunidade social e política. A doutrina fundamental do Islã é o monoteísmo. Deus é único, é o Deus de Abraão, é Alá. “Islã significa submissão à vontade de Deus que criou todas as coisas. Os Anjos decaídos recusaram obediência a Alá e, por vingança, levaram Adão e Eva ao pecado.” O profeta tem como missão transmitir a mensagem de Alá. Para o islã o principal profeta é Maomé, porque ele restituiu a mensagem divina. Após a morte, no juízo universal, os bons receberão a felicidade completa. Os maus serão castigados com o fogo abrasador no inferno. É reconhecida a unidade de Deus através do culto. As orações deverão ser feitas cinco vezes ao dia, num tapete voltado para Meca. No Ramadã, que dura um mês, há os jejuns diários, podendo-se comer á noite. Proíbe-se comer carne de porco, bebida alcoólica e jogar cartas. Também é proibido o uso de imagens e estátuas para evitar a idolatria. Em seus templos, chamados de mesquita, somente homens fazem as orações. (Ibid., p. 35).
A oração para os mulçumanos desempenha papel central. Eles têm a obrigação (fard) de realizar a oração ritual (salat) “cinco vezes por dia em hora determinada”. A mesquita é o lugar do culto, das orações pessoais e comunitárias, lugar das reuniões, de negociações e de julgamentos, assim como do ensino teológico. Não há na mesquita, nem imagens nem objetos de devoções. Somente as palavras do Alcorão – ou corão – e ornamentos não figurativos. Não há música solene. “A solene recitação do Alcorão é a música suficiente” (KÜNG, 2004, p. 250-51).
O Islã iniciou com um pequeno grupo de pessoas. Maomé advertia o povo em Meca, no entanto, nem todas as pessoas ouviam a voz de Deus anunciada por ele. Houve perseguição em relação a esse grupo que teve que fugir para Latrine em 622 d.C. Essa fuga chama-se hijira, ou Hégira que foi acrescentado ao calendário lunar Islâmico. Há dois grupos de são dignificas pelos mulçumanos: os muhajirun – os que fizeram a hijira – e os ansar – auxiliadores de Maomé em Meca. Maomé costumava “buscar a verdade de Deus” no monte Hira. Numa caverna desta montanha ele “foi tomado pelo sentido de Deus”, pelo mensageiro Jibra’il (Gabriel) que dizia: “‘Iqra’, ‘Recita’. Recita o quê? ‘Recita em nome do teu Senhor que criou, criou o homem de uma gota’...”. Essas são as primeiras palavras do corão – o livro sagrado islâmico. Deus enviou sua palavra por meio de Musa e Isa, mas quem recebeu a mensagem de forma definitiva foi Maomé (Mohammad). É nele que há a compreensão de que só Deus é Deus - Allah. Além do corão, os Hadiths – tradições – feitos pelos profetas que conheceram Maomé (FONAPER, 2000a, p. 35).
A Caaba é o local onde Adão teria estabelecido um santuário. Abraão foi ordenado por Deus a fim de convocar toda a humanidade para visitar o local. Ao chegar lá os visitantes respondem a convocação de Deus dizendo: “Eis-me aqui, Senhor!” “Os rituais do Hajji, a peregrinação a Meca, foram instituídos por Abraão, incluindo o cricungiro da Caaba por sete vezes, no sentido anti-horário”. A comunidade mulçumana se dividiu em Sunni – Sunitas – que escolheram Abu Bakr como sucessor de Maomé e em xiitas – do partido de Ali – que acreditam ser seu parente mais próximo o sucessor. Mesmo assim “pouca coisa separa os dois grupos na crença e na prática” (Ibid., p. 40).
Ás vezes acontece coisas injustificadas pregadas pela mídia do Ocidente. Em geral
quando se fala do Islã, nossa mídia gosta de mostrar mulás barbudos, terroristas violentos e inescrupulosos, xeiques do petróleo super-ricos ou mulheres com o rosto velado. Os inúmeros mulçumanos pacíficos, tolerantes e abertos sofrem com estes estereótipos europeus, que destacam nos mulçumanos sobretudo a intolerância interior, a militância exterior e a rigidez e o atraso sob todos os aspectos ( KÜNG, 2004, p. 253).
É interessante perceber que no Corão a única referência à palavra violência assim diz: “E lhes ensinamos a fazer couraças para vós, afim de proteger-vos das vossas violências mútuas. Não estais agradecidos?”(SURATA, 21, 80) (O ALCORÃO, 2012, p. 129).
A profissão de fé (shahada) dos mulçumanos resumem-se à duas palavras. Elas são a mensagem central do Islã:
  1. Alah: a fé no único Deus, onde somente a ele é realizada a oração litúrgica. Isto se constitui no primeiro dever do mulçumano;
  2. Maomé: crença no último e definitivo profeta. É ele quem trouxe o Alcorão, é o enviado especial de Deus. (KÜNG, 2004, p. 255).
REFERÊNCIAS
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz ocidental, Caderno 6, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000b.

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.


VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.

Judaísmo

Na Torah, bíblia judaica, com significado de orientação instrução, a partir do Gênesis “os judeus veem um propósito e um desígnio no trabalho divino de criar o mundo e colocar os homens dentro dele. ‘Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom’” (FONAPER, 2000a, p. 22). No Gênesis também é mostrado que a paz e a harmonia foram afastadas. Na Torah é descrito o êxito dos israelitas do Egito. Ela se constitui de leis para um pacto com Deus, fundada no monoteísmo e um código ético rígido (Ibid., p. 23). Já a Tonach inclui a Torah e outros inscritos.
As escrituras do judaísmo configuram 3500 anos de atividade espiritual, ainda que não haja credo específico. Além da Torah ou Pentateuco que são os cinco primeiros livros da Bíblia, o Talmud é obra importante para os Judeus. Neste estão o Mishná que são as leis orais e o Gemará, são comentários das leis feitos pelos Rabinos (Ibid., p. 23).
O Judaísmo fundamenta-se na “crença do Deus vivo, transcendente, onipotente e justo, e que se revela à humanidade.” Isso leva à fraternidade entre os homens e a obrigação ética de prática da justiça, da misericórdia e “caminhar humilde no caminho de Deus”. O sistema de leis rituais e as normas alimentares são considerados sagrados para toda a vida cotidiana. Há observância do Shabat – da tarde da sexta-feira à tarde do sábado – em que é celebrado com rezas e leituras na sinagoga. As festas judaicas são a Páscoa, o Pentecostes, o Ano Novo, o Dia do Perdão e a festa dos Tabernáculos (Ibid., p. 23).
Seitas e movimentos, como os saduceus e os fariseus surgem no início da era cristã.
No século XII, Maimônides tentou relacionar o Judaísmo com a filosofia ocidental, particularmente com a aristotélica. Com Moshe Mendelssohn, iluminista do século XVIII, e como o hassidismo, que prega a misericórdia e o misticismo, ao lado dos ortodoxos, que defendem a adesão rígida à Torá, os reformadores dentro da tradição de Mendelssohn, repudiam a obediência estrita às leis rituais e ressaltam a compatibilildade do Judaísmo com os valores seculares liberais. Entre essas duas posições, o Judaísmo conservador defende um meio-termo: aceitação da Torá adaptada às condições modernas (Ibid., p. 23).
O povo judeu acredita descender da tribo de Canaã, no Oriente Médio e crê descender de Abraão, que se tornou pai de uma grande nação. Deus fez aliança com Abraão onde prometeu uma terra fértil. Sabe-se que as terras nunca tiveram um único dono, mesmo assim os judeus sentem-se ligados a essa promessa. A terra, então, se torna crucial para eles. Houve sucessivas alianças de Deus para com o povo, através de mediadores:
  1. Abraão: recebe de Deus ordem para ir à Terra Prometida;
  2. Os patriarcas Isaac e Jacó (este pai das 12 tribos de Israel);
  3. Moisés: aceitação da aliança com a Lei no monte Sinai;
  4. Davi: reinado como instrumento de mediação da vontade divina. (Cf. FONAPER, 2000a, p. 24).
Com Davi o rei é ungido passando a se chamar messias. Os reis despontam o povo e a esperança messiânica “voltou-se para um futuro rei que viria inaugurar o reino de Deus na terra”. Salomão ergue o primeiro templo, lugar de devoção, culto e peregrinação. Foi construído um segundo templo após o exílio da Babilônia, no século V a.C., que fora destruído em 70 d.C. pelos romanos (FONAPER, 2000a, p. 24).
Houve conflito de Deus com os que queriam seguir outros deuses. Os profetas, então, “falaram poderosamente em nome de Deus” (Yahweh). Para tanto era necessário ser santos. Na Tenach e em especial na Torah (lei) tem o significado de ser santo. Nela está incluso os mandamentos positivos e negativos. “Ao observá-los, os judeus estão dizendo ‘sim’ ao propósito de Deus de usar Israel para começar seu trabalho de reparação”. Trata-se da linguagem do amor, traçando o caminho de aceitação de Deus que escolheu Israel para a reconciliação dele com a comunidade (Ibid., p. 25).
Podem-se indicar duas ideias que fundamentam o Judaísmo: Um Deus transcendente que ama a criação e a dignidade humana configurada pela intuição moral gravada por obra divina nos corações. Deus propõe um contrato sagrado de respeito à vida e a promoção da justiça. Essas ideias são chamadas de monoteísmo ético. Os judeus, ao combinarem o monoteísmo ético com os antigos rituais, possuem um sentido de identidade. Os dez mandamentos são o código central para atender a vizinhos e suas famílias. O homem é para o Judaísmo capaz de fazer o bem ou mal, mas o bem se sobrepõe ao mal. O pacto de Deus com Abraão consiste numa vida na presença de Deus e a circuncisão, para isso os judeus terrão a terra de Canaã, a Terra Prometida (Ibid.).
Após a destruição do templo no primeiro século de nossa era e a expulsão da Terra Prometida, os judeus permaneceram na diáspora. No século XIX houve um movimento, chamado sionista, com o objetivo de reunificar os judeus a Jerusalém. Após a segunda guerra mundial viu-se a necessidade da restauração do Israel como Estado judeu. Ainda que tenha se realizado tal restauração, não há unificação em relação em relação às formas de realização do Judaísmo. Existem o Judaísmo ortodoxo, o conservador, o reformista e o liberal. Discute-se aí se a Torah deve ser seguida ao pé da letra ou seguir o espírito, se os verdadeiros judeus são os descendentes ou devem-se incluir outros (Ibid.). E ainda se mulheres devem assumir ou não funções rabínicas (VALLET, 2005, p. 29).

REFERÊNCIAS
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz ocidental, Caderno 6, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000b.

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.


VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.


Budismo

O Budismo define-se como “uma filosofia de vida baseada integralmente nos profundos ensinamentos do Buda para todos os seres, que revela a verdadeira face da vida e do universo. (…) é uma religião pratica, devotada a condicionar a mente inserida em sue cotidiano, de maneira à levá-la à paz, serenidade, alegria, sabedoria e liberdade perfeitas” (O QUE É BUDISMO?, 2006, p. 5).
Buda significa o iluminado. Essa iluminação foi atingida por Shiddarta Gautama entre os século VI e V a.C.. A “iluminação” pode ser definida como “a verdade última mediante a qual uma pessoa liberta-se do ciclo do renascimento”. Shiddarta tornou-se o Buda, ensinando às pessoas a se livrarem do renascimento e do sofrimento. Para os budistas a verdade da disciplina do Buda (sasana) sempre existiu. A sasana implica a meditação e o exercício espiritual e o darma (ensinamentos do Buda) (FONAPER, 2000a, p. 18). Buda (2500 atrás) ensinava a disciplinar o espírito para chegar a uma consciência clara e brilhante. O objetivo era tranquilizar o corpo, as emoções e acalmar o espírito, em fim para “estar atento a tudo quanto faz, diz ou pensa. O esquecimento do próprio eu e a arte de viver com atenção são elementos do ensino de Buda. Para ele “o reto esforço e a reta atenção (Sati) constituem uma condição para a concentração meditativa (samadhi) que leva à perfeita iluminação (bodhi)”. Considerado o despertado, o iluminado, Buda irradia tranquilidade, soberania, superioridade e paz (KÜNG, 2004, P. 149). Ele era jovem e rico príncipe que experimentou a realidade da vida quando deixou o luxo e percorreu o país. Viu o mundo, o sofrimento, o envelhecimento, a doença e morte. Experimentou a instabilidade da vida como o grande problema da existência humana. Como tudo está associado ao sofrimento, verificou que sua vida não tinha sentido. Deixou sua família e saiu da sua pátria para ir às fronteiras da Índia e do Nepal, renunciando sua nobreza. Gautama tinha 29 anos e buscou o objetivo de “encontrar a redenção definitiva do sofrimento”, sendo um monge. Seguiu diversos ascetas e viveu nos rigores de exercícios respiratórios, jejuns e mortificações, mas sem resultados. Deixou tudo e foi para um rio praticar a meditação. Após muito tempo de concentração profunda ele experimenta a iluminação, redenção e libertação, tornando-se assim o Buddha – isto é desperto e iluminado. Neste momento Sidharta encontra as “repostas para as quatro perguntas primordiais: o que é o sofrimento, de onde ele vem, como pode ser superado e qual o caminho para superá-lo”. Essa passou a ser sua principal mensagem, chamada de Quatro Nobres Verdades (Ibid., p. 150-51). Surge então uma religião com características de espiritualização e interiorização alcançados com as próprias forças e não dado por um Deus.
O Buda desenvolveu uma religião com doutrina e caminho de salvação. Sua intenção era de curar o sofrimento e ajudar as pessoas as encontrar libertação e redenção. O domínio da dor e de reconhecer os próprios limites, finitude e condição de mortal. Observou que nado o que se vê é estável, até a própria existência é perecível. O sofrimento deriva dos próprios apegos e a solução será libertar-se do próprio eu, através de um caminho de renúncia de si mesmo. Desta forma é que se terá a compaixão universal. A intenção de Buda é fazer com que as pessoas tenham experiência de ética e prática (Ibid., p. 153).
O Budismo consiste na doutrina que une religião e filosofia (há os que não a consideram uma filosofia) objetivando à santidade e a libertação da dor. A causa da dor são as paixões e desejos e “apego aos objetos exteriores”. Para que a dor possa se extinguir são necessários quatro caminhos:
  1. A ciência que demonstra a vaidade e a realidade do mundo externo;
  2. A observação das cinco proibições: Não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir, não se embriagar;
  3. A abstinência dos dez pecados: assassínio, roubo, fornicação, mentira, murmuração, injúria, insensatez no falar, inveja, ódio e heresia;
  4. e a prática das seis virtudes transcendentais: dar esmola, moralidade perfeita, paciência, energia, bondade, amor ao próximo (FONAPER, 2000a, p. 14).
A iluminação chega ao homem quando em suas práticas não toma alimento além da refeição do meio-dia, evita espetáculos mundanos, não ornamenta nem perfuma o próprio corpo, evita leitos macios e elevados do chão e vive na pobreza. “A virtude suprema é a meditação pura. Aí se descobre que o mundo aparente é ilusório, e é nisso que reside a esperança da libertação. É só pela contemplação interior que o homem pode superar-se. Na meditação o homem esvazia-se de qualquer desejo” (FONAPER, 2000a, p. 19). É possível a purificação completa das almas quando houver sucessivas reencarnações até chegar ao Nirvana (paraíso). A essência da prática religiosa consiste em três joias: a primeira é Buda, a segunda é Dharma (ensinamentos e a verdade sobre todas as coisas), a terceira é a sangha (a comunidade de praticantes) (FONAPER, 2000a, p. 19).
O ensinamento do iluminado resume-se em abster-se do mal para chegar ao bem, no objetivo de purificar a mente. As quatro nobres verdades consistem em: 1. A existência é cheia de sofrimento (dukkha); 2. O sofrimento deriva do desejo e do apego; 3. O sofrimento pode sessar totalmente (Nirvana); 4. Tudo está ao alcance pelo Caminho Óctuplo. Esses são os samma (correto): compreensão, pensamento, fala, ação, existência, esforço, atenção e concentração. Todos esses descritos como corretos. (Ibid., p. 20).

Hinduísmo

O Hinduísmo se constitui de um conjunto de religiões da Índia. Há diversas formas de manifestações religiosas, dentre elas existem a religião popular e a filosofia religiosa. As raízes do Hinduísmo encontram-se na civilização do vale do Indo, que datam de 2500 a.C. A 1500 a.C.. A cultura dravídica, na Índia meridional e a religião dos árias no noroeste da Índia a partir de 1500 a.C. são consideradas desenvolvidas. Da religião ariana surge a Védica, fundada no sacrifício e possuem textos orais chamados Vedas. Os Vedas possuem diversas coletâneas de textos sagrados – Samhitas, Brahmanas, Upanixades – estas são Shruti que é “aquilo que se escuta”, onde está a verdade eterna, quando sofreram degeneração pela escrita. Existem outros textos que compõem o Smriti ou “aquilo que é lembrado”, São eles: Ramayana e o Mahabharata, onde está escrito o “venerado poema Bhagavad Gita. (Cf. FONAPER, 2000a, p. 7).
A sociedade védica (de vedas) parece originar-se da simbiose entre ética, misticismo, magia e ciência no primeiro milênio a.C.. O vedismo é uma forma religiosa do norte da Índia que influenciou todas as outras manifestações religiosas dos hindus. Veda “é o conjunto dos textos sagrados (escritos vários séculos após sua elaboração oral) com fins litúrgicos ou de sacrifício e que integram as revelações (shrutis) feitas pelas divindades aos rishis, sábios dos tempos védicos que também eram poetas e adivinhos” (VALLET, 2002, p. 120).
Na visão do Hinduímo não há origem: “é o caminho eterno que segue as regras e existências básicas da ordem cósmica à media que ela passa por ciclos infinitos”. (FONAPER, 200, p. 7). A fé dos hindus é como o Darma eterno.
A religião pré-védica é a mais conhecida pela civilização do vale do Indo. Nela há manifestação de símbolos de fertilidade e da Mãe-Terra e outros naturais como água, lótus (planta) e animais. O centro da força da terra estão em árvores e pilares (Idem).
Na religião védica a manifestação de deuses e deusas se dá em vários aspectos da vida. Todos os hindus reconhecem quatro objetivos de vida: darma, artha, karma e moksha. Há os quatro estágios da vida: Brahmakaria, grihastha, vanarasha, sannyasin. Na religião védica há um mundo de deuses e deusas elementares como Rudra e Indra e a trindade Brahma – que cria o universo no começo de cada ciclo – ; Vishnu – o que preserva; e Shiva – destrói e renova destruindo. “Os deuses se manifestam em avatares ou 'descendidos', quando aparecem na Terra. Os avatares mais importantes são só de Vishnu, principalmente quando aparecem como Krishna” (FONAPER, 2000a, p. 8).
As escola e tendências filosóficas que compõem o Hinduísmo são chamadas de darshanas:
  • Samkhya e Yoga: são os mais antigos. Samkhya é uma filosofia especulativa dualista e emancipacionista e Yoga é uma sistematização técnicas para alcançar a hiperconsciência (samadhi), através de práticas contemplativas objetivando atingir o estado de não-condicionamento.
  • Nyaya e vaisheshika: A Nyaya é penetrar, compreender ligando-se com a lógica. O Vaisheshika visa a explicar a origem, estrutura e evolução do universo numa configuração tomista.
  • Mimansa e Vedanta: O Mimansa constitui uma interpretação das escrituras védicas indicando os rituais e as cerimônias religiosas. O Vedanta é o darshama espiritualista e teísta e indica que a realidade não é como percebemos (Ilusão – maya) (Ibid., p. 8-9)
O essencial do Hinduísmo provém das escrituras Upanishads. Nelas há o diálogo entre o mestre e seu aluno na qual sua principal doutrina é “ainda que o poder de maya (a ilusão) faça o mundo parecer real, Brahman é a realidade última e sem forma” (FONAPER, 2000a, p. 9).
O atman – espírito ou alma – é indestrutível e idêntica ao Brahman. O Atman é determinado pelo karma (resultado das ações) que pode alcançar o moksha (libertação) através da samsara (nascimentos e mortes sucessivos) (Ibid.). Na concepção de Vallet há uma espécie de fusão do atman ao brahman que é o ser supremo e a personalidade se dissolve em um Si supremo” (VALLET, 2002, p. 123).
O darsham é o culto de contemplação da imagem e o puja é um ritual para o lar e o templo. O templo abriga a imagem de Deus e serve para trazer sua presença. Os hindus procuram evitar a contaminação do nível mundano e para isso preparam alimentos – vegetarianos (FONAPER, 2000a, p. 9).
As castas possuem importância em relação às funções realizadas pelas pessoas. Os varnas – como são chamadas as quatro castas no Hinduísmo – são:
  1. brahmanes: sacerdotes e profissionais liberais;
  1. kshatryas: dirigentes e militares;
  1. vaishyas: camponeses e mercadores;
  1. shudras: artesãos.
Inicialmente essas castas não eram tão rígidas como atualmente, serviam para demonstrar as qualidades e funções.
Os bhakti, no Hinduísmo, é a devoção que não necessita do sacerdote ou guru. Ela é a experiência da “união que existe entre a alma individual atman e o espírito universal Brahman”. (FONAPER, 2000a, p. 9).
O karma, caminho da ação, faz-se sem interesse, para que os feitos “bons ou maus não amarrem o atman (eu) a vidas sucessivas” (Ibid.). O Jñana – caminho do conhecimento – feito pelo guru (o que esclarece) com base nas escrituras “a natureza do Brahman, o universo e o lugar dos seres. A iluminação espiritual constitui-se no objetivo dos caminhos. A lei da verdade é o único Deus que manifesta-se nas formas de: criação (Brahma); preservação (Vishnu) e destruição (Shiva) (Ibid.).
No Hinduísmo não há um fundador e parece inexistir dogmas. Essa religião constitui-se de aspectos culturais que originaram a doutrina. Sua fé num Deus (em diversas formas), na autoridade dos vedas, na criação, conservação e destruição contínua, na transmigração das almas obedecendo o carma, na obediência da lei da varna e na libertação final constituem características fundamentais para o Hinduísmo. Além disto o respeito a todas as criaturas exige que alguns hindus sejam vegetarianos e outros sacrificam animais para se alimentar. Em relação a Deus alguns adoram Shiva e outro o Vishnu e as encarnações (Krishna ou Rama) e outros adoram deusas (Ibid., p. 11).

REFERÊNCIAS
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz ocidental, Caderno 6, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000b.

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.

VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.

  

Confucionismo

Kong Fuzi, ou em forma latinizada Confúcio, viveu mais ou menos entre 551-479 a.C., e que veio a ser considerado um sábio Chinês. (KÜNG, 2004, 114). Era considerado apenas um mestre entre outros, passa a ser mestre por excelência na era Zhou. Nesta época o confucionismo torna-se filosofia oficial e doutrina do estado. Confucio então passa a ser celebrado como símbolo da cultura chinesa. (Ibid., p. 121-22). Confucio não era místico, mas um reformador ético e social. Seus textos foram base do sistema político e religioso “estruturado para manter o equilíbrio e a harmonia entre o Céu, a Terra e a humanidade” (FONAPER, 2000a, p. 15).
Os ensinamentos de Confúcio estão nos Analectos e nos clássicos de grande importância: Livro das Mutações, da História, da Poesia, dos Ritos e os Anais de Primavera e Outono. Estes clássicos são atribuídos ao próprio Confúcio, onde ele indica as éticas e ritos da passagem (nascimento, casamento, morte) para a prática da ordem e da harmonia. Essas representam o equilíbrio de forças opostas do yin e do yang na sociedade. Ensina-se respeito à tradição e aos mestres. Há no confucionismo um humanismo que tem como princípio a ordem moral (Ibid. p. 15).
O ensinamento confuciano “têm como ideal de formação a humanidade, a piedade e a integridade”. Além a firme atitude moral, possibilita autonomia, ao invés de muitas leis a ética a prudência de vida eram mais consideradas. Todo confuciano deveriam dominar o conhecimento dos escritos (KÜNG, 2004, p. 122).
Confúcio criou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os rituais. O confucionismo era então uma religião do estado, em que o Império chinês, estabelecido por sociedade hierárquica, permanecia com os mesmo líderes. A religião do estado era mais praticada pela elite e as classes dominantes, da qual o povo não conhecia muito. Os pobres praticavam uma religião de adoração dos espíritos, que se caracterizava pela tradição e envolvidas com influências de muitas religiões (GAARDER, 2005, p. 85).
Como natureza e universo estão em harmonia, isto deveria ser aplicado ao homem. Confucio adotou o Tao, harmonia predominante no universo, como modela para a sociedade. Esta seria a forma pelo qual o indivíduo deveria viver, isto é, em compreensão e harmonia. O ser interior do homem deve atingir essa consonância com o Tao, assim ele achará o incentivo necessário, “o te, isto é, o caminho certo para a ação”. Precisa-se então de conhecimento e compreensão da tradição. “Esta ensina ao indivíduo as regras de comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das cerimônias religiosas, e qual é o devido lugar na sociedade”. Confucio considera o homem como naturalmente bom e o mal era consequência da falta de conhecimento, para tanto a educação implicava em transmitir os conhecimentos corretos. Quanto ao que caracteriza a regulação das relações o confucionismo é politicamente conservador, ou seja, concebe obediência do servo em relação ao soberano, da mulher em relação ao homem. Isto significou uma dificuldade em relação à autoridade. No entanto, há ideais que devem ser alcançados segundo Confúcio que são a piedade filial o respeito e reverência (GAARDER, 2005, P. 87).

REFERÊNCIAS
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.

FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz ocidental, Caderno 6, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000b.

GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.


VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

As religiões do mundo

Ao significado de religião pode-se responder através do batismo numa igreja, da adoração ao templo budista, dos judeus com sua Torá frente ao muro das Lamentações em Jerusalém ou ainda dos peregrinos muçulmanos na Caaba em Meca. É possível responder se há algum comum nesses fenômenos? As ciências da religião procuram investigar esse aspecto da religião, não para descrever plena e exaustivamente como um crente o faria, mas para entendê-la de uma perspectiva externa (Cf. GAARDER; HELLERN; NOTAKER 2005, p. 15).
O papel significativo que as religiões do mundo possuem em relação à vida social e politica são diversos. Ouve-se dos conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, de cristãos contra muçulmanos, muçulmanos e hinduístas, da guerra entre budistas e hinduístas. As seitas religiosas extremistas nos Estados Unidos e no japão praticam terrorismo. Ao mesmo tempo representantes de religiões fazem ajudas humanitárias em diversos lugares do mundo (Cf. GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 15). Em fim no fenômeno religioso há muitas contradições, no que se refere a um objetivo específico para as religiões.
Pode-se ainda sugerir como definição do fenômeno religioso a observação do contexto histórico e cultural de cada religião, visto que reuni-las num só conceito seria praticamente impossível. Outro caminho seria o que Nathan Söderbom (1866-1931) sugere como religiosa ou piedosa a “pessoa para quem algo é sagrado”. Rudolf Otto destaca o sagrado como o “inteiramente outro”, uma força, um sentimento de espanto, que tem o poder de atrair e do qual não se pode resistir. Mircea Eliade propõe uma relação sagrado versus profano. O sagrado para ele é “separado e consagrado” e o profano é o que está fora do templo (Cf. GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 19-20).
Outra noção que pode nos levar a uma explicação é fazendo referência às ideias do crente:
O crente tem idéias bem definidas sobre como a humanidade e o mundo vieram a existir, sobre a divindade e o sentido da vida. Esse é o repertório de idéias da religião, que se expressam por cerimônias religiosas (ritos) e pela arte, mas em primeiro lugar pela linguagem. Tais expressões lingüísticas podem ser escrituras sagradas, credo, doutrinas ou mitos (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p. 21).
O complexo das grandes religiões atuais configura-se em quatro grandes correntes: às originárias da Índia – hinduísmo e budismo –; da China – confucionismo e taoísmo –; do Oriente Médio – judaísmo, cristianismo e islamismo – e as tribais. As da Índia caracterizam-se pelo místico, as da China pelo sábio e as do Oriente Médio pelo profeta e as tribais pela oralidade. Em todas elas passaram por origem, tendo uma forma primitiva, uma meia-idade e sua transformação a partir do contato com a modernidade. Atualmente vive-se a pós-modernidade, momento de transição para o terceiro milênio a incoerência e a contradição parecem presentes no mundo das religiões (Cf. KÜNG, 2004, p. 15).
Ainda que se observem diferenças há entre elas semelhanças. Além das grandes questões sobre origem, destino, sofrimento, culpa, padrões de vida, ações e sentidos da vida e da morte; existem as repostas dadas pelas religiões que há proximidade. Elas possuem mensagem, por meio da fé, e caminho de salvação regrada por uma visão, uma atitude e uma norma para a vida (Cf. KÜNG, 2004, p. 16).
Segundo Küng deve-se ter uma visão objetiva frente às religiões. Ir à busca de vestígios que conduzem à paz e a um etos que oriente nas explicações do complexo mundo das religiões. Um esforço em direção à paz constitui um dos objetivos de sua obra. Suas perguntas sobre os sentidos da religião são fundamentais. Essas são resumidamente:
  • Porque bilhões de pessoas são religiosas?
  • Qual a origem e a natureza desses fenômenos?
  • Que desenvolvimentos tiveram?
  • Quais suas constantes éticas?
  • O que os separam e o que os une?
  • Quais suas contribuições para o etos da humanidade? (Cf. KÜNG, 2004, p. 16-17).
Não se pretende com isto uma espécie de unificação das religiões. Suas diversidades são importantes para uma contribuição nos enriquecimentos mútuos. Pretende-se, pelo contrário, um entendimento universal entre as religiões em vista de alcançar um etos comum da humanidade. O etos é uma dimensão dentro de diferentes religiões, ou seja, um aspecto comum entre elas. Não que se queira uma pretensa escolha de uma das religiões ou que se vá criar uma em substituição às demais. Deve-se pretender um empenho pela paz entre as religiões do mundo. Assim que pode-se afirmar que:
Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro. (KÜNG, 2004, p. 17).
Fundados nessas ideias de religiões que buscam realizar sacrifícios ou oferendas, ritos dos mais diversos, com ou sem organização, possuindo um ou vários deuses, mas que possuem o sagrado de comum em seus resultados, pode-se experimentar o místico, através de orações, rezas, meditações, incorporações de espíritos ou de orixás. Pode-se também observar as religiões em suas escrituras e mitos sagrados. Essas são revelações, as quais foram recebidas por profetas ou pessoas escolhidas, que funcionam como manifestações indicadoras de respostas às questões existenciais e estabelecimento de convivências.
É nessa tentativa de entender a efervescência religiosa do mundo pós-moderno e observar os hiatos, os vazios da existência humana e dos valores, inclusive de dar sentido à própria existência e à morte é que se pode trilhar um caminho com múltiplas respostas. Visava-se entre os anos 60 e 70 – século XX –, em vista do processo de secularização observado por diversos estudiosos, um contínuo processo de marginalização da Religião e por fim sua dessacralização e desaparecimento do sagrado. Havia os que apostavam numa religião purificada e secular e ainda os que devotavam no declínio irreversível da religião ao que a modernidade se opunha. (Cf. MARTINELLI, 1995, p. 271-72).
Já no final dos anos 80, a secularização é discutida e criticada. Estudiosos como Sabino S. Acquaviva, Peter Berger, Bryan R. Wilson, Thomas Luckmann, Niklas Luhmann, já haviam apontado para discussões teóricas da secularização sem, no entanto, prescindir da religião e sua relação com a sociedade. Viram-se nesta época novos fenômenos religiosos, seja pelo despertar de novos movimentos religiosos, seja pela crise do capitalismo.
Como pretende Acquaviva há na secularização uma espécie de eclipse. B. R. Wilson “quis defender a pretensão ocidental de conseguir captar a evolução religiosa em vigor dentro de um quadro conceitual comum, assegurado pela teoria da secularização” (MARTINELLI, 1995, p. 324).
No entender de T. Luckmann não se pode afirmar que o declínio do Cristianismo tenha causa no advento de ideologias laicistas e ateias. Para ele “a hodierna marginalidade da religião-de-igreja e sua secularização interna são, na verdade de um amplo processo, no qual jogam uma parte decisiva, tanto a excessiva institucionalização da Religião como as transformações globais da sociedade” (MARTINELLI, 1995, p. 302).
P. Berger nos traz a noção da sociedade como produto da atividade humana e define o humano como ser instável e versátil. Neste sentido para ele a cultura é instável e a religião seria “uma empreitada humana através da qual um cosmo sagrado é criado” (MARTINELLI, 1995, p. 298). Para esse autor a secularização é o “processo com que a religião perde sua autoridade tanto em nível de instituições como em nível de consciência humana” (MARTINELLI, 1995, p. 290).
No entender de Luhmann não há declínio da religião e nela não há uma função integradora, mas na nossa sociedade complexa “ela realiza a função geral de representação simbólica da totalidade e de redução da complexidade segundo a modalidade interpretativa”. É importante destacar que para este autor “a independência dos subsistemas da Religião é o autêntico significado da secularização” (MARTINELLI, 1995, p. 310-11).
Aqui não nos cabe teorizar sobre todas as discussões sobre o sentido da religião na modernidade ou pós-modernidade. Pretende-se focar sobre o sentido dado à Religião e à secularização em sua relação com o sagrado. Noutro aspecto pode-se ainda destacar as condições em que este sagrado relaciona-se com o sentido de etos dado por Küng. Busca-se um sentido ético diferente da simples interiorização de valores, mas de uma construção de sentido mais amplo para o entendimento das religiões do mundo em suas diversidades.


REFERÊNCIAS
FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio: O fenômeno religioso nas tradições religiosas de matriz oriental, Caderno 8, Caderno de Estudos Integrantes do Curso de Extensão – a distância – do Ensino Religioso,Brasília, [s/e], 2000a.
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GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.

MARTINELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e dessecularização.

O ALCORÃO, Base de dados: http://www.livroesoterico.com.br, Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do>, acesso em: 01 ago 2012.

O QUE É BUDISMO, Templo Zu Lai e BLIA – Associação Internacional Luz de Buda, 2006.

SMITH, Huston. As religiões do mundo: Nossas grandes tradições de sabedoria, São Paulo, Cultrix, 2007.


VALLET, Odon. Uma outra história das religiões. São Paulo, Globo, 2002.