quinta-feira, 21 de março de 2013

1º Formação continuada do ER de Roraima

Foi realizada a primeira formação dos professores do ER (Ensino Religioso) de Roraima, no dia 14 de março. A professora Isabel da Costa Lima discorreu sobre a legislação da formação continuada dos professores de Roraima.

O propósito disto foi justificar, através da legislação, todo o processo da formação continuada dos professores. Fato é que ele deve acontecer para todas as disciplinas, como preconizado na lei.  Acredita-se que não seja trabalhoso para o professor participar destes encontros, visto que o processo de formação continuada pode até servir de ajuda no processo de planejamento e na dinamização do ensino-aprendizagem das aulas do ER.


Este processo de formação vem acontecendo desde o ano passado (2012), o que não isenta de os novos professores também participarem. Esta formação está prevista e incluída nas 25h do trabalho semanal do professor da educação básica.

Pretende-se nestes momentos fazer com que aconteça uma formação com fundamentação voltada para o diálogo e o conhecimento das religiões.

Os horários e dias da formação já estão definidos através do Calendário da formação do ER que serão amplamente divulgados neste blog e através de emails.

Referencial Curricular

Está disponível o Referencial Curricular para o Ensino Religioso de Roraima. Pretende-se com isto facilitar o acesso dos professores ao referecial que foi construído coletivamente nos encontros do início do ano letivo de  2013:

REFERENCIAL CURRICULAR PARA O ENSINO RELIGIOSO - RR

1. OBJETIVO

1.1 Objetivo Geral: valorizar o pluralismo religioso e a diversidade cultural característico da sociedade brasileira, compreendendo as diversas formas de concepção do transcendente na superação da finitude humana e que determinam,  subjacentemente, o processo histórico da humanidade.
1.2  Objetivos Específicos:
  • Proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas recebidas no contexto do educando;
  • Subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial, em profundidade para que ele possa dar sua resposta devidamente informada;
  • Analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas e manifestações socioculturais;
  • Facilitar a compreensão do significado das afirmações e verdades de fé das tradições religiosas;
  • Refletir sobre o sentido da atitude moral, como conseqüência do fenômeno religioso e expressão da consciência e da resposta pessoal e comunitária do ser humano;
  • Possibilitar esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção de estruturas religiosas que têm na liberdade o seu valor inalienável.

2. EIXOS TEMÁTICOS:

EIXO 1: Cultura de tradições religiosas:
             1  Filosofia e tradição religiosa: A ideia do transcendente na visão tradicional e na visão atual;
                1.1  Filosofia Tradicional: O homem pouco se conhecia;
                1.2  Atual: O homem conhece a si mesmo;
                1.3  A diversidade religiosa na visão tradicional e contemporânea.
             2  História e tradição religiosa: Com a evolução da história os conflitos religiosos foram diminuindo e houve o aumento de algumas denominações religiosas.
               2.1  A evolução da estrutura religiosa nas organizações humanas no decorrer dos tempos;
               2.2  A origem e a evolução das tradições religiosas;
               2.3  A evolução da estrutura religiosa no Brasil.
            3  Sociologia e tradição religiosa: Os grandes líderes políticos influenciaram de forma direta na escolha religiosa de seus povos.
               3.1  A função política das ideologias religiosas;
               3.2  A função social das diversas religiões;
            4  Psicologia e tradições religiosas: Em todas as religiões a questão da psicologia é latente pois a influência dos líderes é notada nos formatos das religiões (sermões, castigos, direcionamentos):
              4.1  A tradição religiosa na construção do inconsciente pessoal e coletivo;
              4.2  A inter-relação religiosa.

EIXO 2: Ritos
            1  Rituais:
               1.1  Religiões afro-brasileiras;
               1.2  Religiões indígenas;
               1.3  Budismos;
               1.4  Cristianismo (católicos e evangélicos);
               1.5  Islamismo (muçulmanos);
               1.6  Judaísmo;
               1.7  Espiritismo.
            2  Significados dos rituais religiosos.
            3  Os símbolos mais importantes de cada tradição religiosa.
            4  A espiritualidade como experiência religiosa, elemento vital para o fiel e suas formas de se relacionar com o sagrado (oração, culto, missa, etc).

EIXO 3: Textos sagrados
            1  Revelação: a manifestação do sagrado nas tradições religiosas através da pessoa ou indivíduo escolhido pela divindade, na qual o mesmo o representa:
               1.1  Judaísmo: Torá
               1.2  Cristianismo: Bíblia e profetas.
               1.3  Islamismo: Alcorão
               1.4  Hinduísmo: Sacerdotes
               1.5  Espiritismo: Evangelhos, textos psicografados.
            2  História das narrativas sagradas: A origem dos acontecimentos religiosos dos textos revelados:
               2.1  Mitos;
               2.2  Formação dos textos sagrados
               2.3  Cristianismo e Judaísmo: Abraão e a fé.
            3  Cultura textual: A influência do contexto social, político e religioso determinante para a redação final dos textos sagrados.
               3.1  Contexto social, político e religioso;
               3.2  Cristianismo e Judaísmo: Moisés e as leis;
               3.3  Indígenas: sem regras aparentes.
            4  Exegese: explicação dos textos sagrados revelados e a percepção humana sobre Deus através da observação dos sinais pelo qual a divindade se manifesta.
               4.1  Análise;
               4.2  Interpretação.

EIXO 4: Ethos
            1  Normas, tradições religiosas e diversidades dos costumes referentes a:
               1.1  Família;
               1.2  Sociedade.
            2  Como as religiões tratam das questões relacionadas com:
               2.1  Violência;
               2.2  Sexualidade;
               2.3  Drogas;
               2.4  Trabalho;
               2.5  Aborto, etc.
            3  A fundamentação dos limites éticos e valores morais propostos pelas várias tradições religiosas:
               3.1  Direitos
               3.2  Deveres
               3.3  Respeito às diferenças culturais e religiosas.
            4  O comportamento ético.

    EIXO 5: Teologia
            1  Divindades: cada povo desde os primórdios adorava deuses representado algumas vezes por fenômenos da natureza, animais, imagens, etc.
            2  Verdade de fé: cada religião  crê em determinados símbolos, rituais.
            3  Vida além-morte: crença das tradições religiosas em relação à morte.

3. METODOLOGIA.
Considerando que o ato de construção do conhecimento se dá a partir da relação sujeito-objeto, cabe ao professor munir-se de um instrumento (método) que o auxilie nessa articulação.
De modo geral o professor de Ensino Religioso deve:
  • Observar. 
  • Informar-se.
  • Refletir sobre o que observou e se informou.
A abordagem didática dos conteúdos deve respeitar uma sequência cognitiva para que o processo de aprendizagem se dê numa continuidade, pois se “aprender é construir significados, ensinar é oportunizar essa construção”. Para que isso aconteça de maneira mais adequada, é necessário que se considerem o ensino religioso:
  • A construção do conhecimento a partir daquilo que o aluno conhece de si e de sua tradição religiosa.
  • A possibilidade de aprofundamentos.
  • A complexidade dos assuntos religiosos. Tendo em vista a pluralidade cultural que compõe o Brasil.
  • Ações didáticas em sala que promova a interação.
  • Conteúdos e procedimentos didáticos que levem em consideração a Faixa Etária e o ambiente cultural de interesse do aluno.

4. AVALIAÇÃO.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresenta a avaliação como contínua e sistemática, parte integrante e intrínseca ao processo educativo, com a função de alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica.
  • Para o professor permite reflexão sobre a prática, para revê-la, reorientá-la, recriar e reorganizar seus instrumentos de trabalho.
  • Para escola os resultados da avaliação possibilitam localizar as falhas e os limites da ação pedagógica e definir prioridades.
  • Para o aluno a avaliação é um instrumento que permite tomar consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização e investimento na tarefa de aprender.

AVALIAÇÃO INICIAL: é investigativa. Pode ser feita no início do ano ou início de conteúdo.
      _ Instrumentaliza o professor para que possa pôr em prática seu planejamento de forma adequada;
       _ Atende às características dos alunos.
       _ Levanta suas concepções prévias sobre determinados conteúdos, para possibilitar ao professor estruturar sua programação.
       _ Serve para gerar novos conhecimentos e para o aluno tomar consciência do que já sabe.
No Ensino religioso esse procedimento possibilita o reconhecimento de grupos culturais religiosos diferentes, identificados nas várias crenças dos próprios educandos e suas posturas em relação à própria fé, como, por exemplo, os radicalismos.

AVALIAÇÃO FORMATIVA: É formal e Sistemática, deve ser organizada de acordo como os conteúdos significativos, e que levem ao conhecimento. Acompanha o processo, considerando o contexto, a faixa etária e o desenvolvimento pessoal do aluno.
  • Observação sistemática (registros em tabelas, listas, diário de classe).
  • Análise de produções dos alunos.
  • Atividades específicas (seminários, construção de textos, círculos de debates).
  • Auto – avaliação (reflexão).
No Ensino Religioso essa etapa tem como referencial a capacidade de percepção das diferenças entre as tradições religiosas, gerando o diálogo, a construção e a reconstrução do conhecimento do fenômeno religioso.

AVALIAÇÃO FINAL: Consiste na aferição dos resultados que indicam o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que os alunos tenham realizado a respeito dos diferentes conteúdos essenciais.
Obs.: É importante lembrar que os conteúdos absolvidos são mensurados apenas como recebimento da informação haja vista, que a vivência e a real aceitação dos preceitos religiosos é de caráter subjetivo do indivíduo.

5. REFERÊNCIA.
FONAPER. Ensino Religioso: referencial curricular para a proposta pedagógica da escola. (Col. Caderno temático nº 01), 2000.

terça-feira, 19 de março de 2013

Calendário da Formação Continuada

Após consulta, sobre o dia da formação continuada e os temas dessa formação, foi elaborada uma programação para o ano de 2013. Como escolhemos a quinta-feira como dia base para os encontros, definiu-se por toda primeira quinta-feira do mês. Para esta quinta-feira, dia 21 não haverá formação.  Nosso próximo encontro será apenas no dia no dia 04 de abril, conforme o cronograma:

Cronograma da Formação Continuada do Ensino Religioso de Roraima – 2013

AÇÃO
EVENTO
Mês
Dia
01
Legislação da formação continuada (ER)
Março
14
02
Esclarecimentos acerca do ER como disciplina
Abril
04
03
Seminário: História Oral
Abril
26
04
Cultura e tradições religiosas: Filosofia e tradição religiosa
Maio
02
05
História e tradição religiosa
Junho
06
06
Sociologia e tradição religiosa
Julho
04
07
Psicologia e tradição religiosa
Agosto
01
08
Os Ritos
Setembro
05
09
Textos Sagrados
Outubro
03
10
Ethos: das normas aos comportamentos éticos
Novembro
07
11
Teologia
Dezembro
05


Defesa realizada

A defesa da dissertação da roraimense Jacilda Barreto de Araújo  foi realizada nesta quinta-feira, dia 14 de março. Sua ênfase foi o ensino religioso em Boa Vista e a logoterapia. Procurou, em sua apresentação,  identificar as causas da crise existencial dos adolescentes e a forma com a qual chegaram a dar sentido às coisas. Explanou sobre temas importantes para os adolescentes como sentido da vida, trabalho, amor e sexo. Sua fundamentação foram as pesquisas do psiquiatra austríaco Viktor Frankl e a do educador Paulo Freire no que se refere à "como dar sentido à vida".

Em sua banca de defesa os professores Luiz Alencar Libório, orientador, Antonio Mota, avaliador da UNICAP e Thiago Antonio de Avellar Aquino, avaliador externo da UFPB. Estiveram presentes o Coordenador do Curso de Mestrado em Ciências da Religião, Gilbraz Aragão, os professores Sergio Sezino, Drance Elias e seus alunos do mestrado. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Formação Continuada do ER

Será na Quinta-feira, dia 14 de março, a formação continuada dos professores do Ensino Religioso de Roraima. O local escolhido foi a Escola Monteiro Lobato, localizada na avenida Ene Garcez, no Centro.

INÍCIO: Manhã: 7h30min – Tarde: 14h

·       Acolhida

·       Legislação sobre a formação continuada.
        Esclarecimentos.

·       Formação para o Ensino Religioso.
        Encontros semanais
        Definir dia e horário – manhã e tarde

·       Socialização das experiências de sala de aula.
        Necessidades
        Formação

Para dúvidas pode escrever em comentários.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Defesa de dissertação sobre o Ensino Religioso de Roraima

Viktor Frankl
Nesta Quinta-feira, dia 14 de março de 2013, ocorrerá a defesa de dissertação do Mestrado em Ciências da Religião, na Universidade Católica de Pernambuco, da roraimense Jacilda Barreto de Araújo versando sobre "O Ensino Religioso em Boa Vista (RR) na perspectiva do sentido da vida: Abordagem Frankliana". A Professora é funcionária pública federal e trabalha atualmente no Instituto Federal de Roraima. Teve como orientador o Prof. Dr. Luiz Alencar Libório. Em resumo a professora destaca:

Paulo Freire
"Este trabalho tem o objetivo de analisar se o Ensino Religioso está contribuindo na formação dos adolescentes na sua totalidade, embasados nos pressupostos teóricos da abordagem frankliana que compreende o ser humano nos aspectos bio- psicossocial afetivo, axiológico e espiritual, com ênfase em quatro áreas a saber: sentido da vida, sofrimento, trabalho, amor e sexo. Procurou-se descobrir os sentimentos que os adolescentes vivenciam na pós-modernidade e o que fazem para vencer essa situação denominada crise de sentido. O “como dar sentido à vida” foi a chave da pesquisa fundamentada em Viktor Frankl e Paulo Freire. Foram feitos paralelos de suas teorias incluindo as diversas dimensões da adolescência no contexto do Ensino Religioso na perspectiva de descobrir a construção do sentido da vida. Sugeriram-se ideias metodológicas a serem utilizadas nas aulas do Ensino Religioso que possam contribuir  no desenvolvimento espiritual do aluno na perspectiva de formar futuros adultos solidários, ricos de espírito que possam amar a si próprio, ao próximo e à natureza."

quinta-feira, 7 de março de 2013

Formação continuada

Organizaremos os encontros semanais da formação continuada do Ensino Religioso do Estado de Roraima.

Para que isto aconteça faremos consulta nesta sexta-feira - dia 8 de março - quais melhores dia e horário da semana para realização desta formação.

Atenderemos a todos na videoteca da Escola Barão de Parima, nos horários de 7h30 às 11h30 ou a tarde: das 14 às 18h.

domingo, 3 de março de 2013

Religiões Tribais


As religiões tribais ou primais são aquelas que os estudiosos chamavam de “religiões primitivas”. São encontradas em culturas ágrafas entre as tribos de populações da África, Ásia, América do Norte e do Sul e Polinésia (GAARDER, 2005, p. 40). O que caracteriza essas religiões são a crença em espíritos e deuses que podem modificar o cotidiano, em geral apresentado por um conjunto de mitos, estórias contados de forma oral e que justifique a realização dos ritos. Nesses povos não há aspectos separados da vida social, ou seja, as políticas e as religiões estão imbuídas de uma mesma justificativa, concretizado pela tradição.

A miríade de forças que controlam o cotidiano, através de espíritos e deuses podem indicar ações como cultos aos antepassados e ritos de passagem. Em geral a figura do sacerdote é unificada e também é o líder político (GAARDER, 2005, 40).

Do Paraíso perdido aos homens “primitivos”

Às vezes, se sente vontade de fugir da “civilização” e voltar para condições mais primitivas, isto é, experimentar outras formas de vida. Sonha-se com um mundo melhor, ou com um paraíso perdido. Será que este paraíso existiu? “As ciências naturais nos ensinam que o mundo, a terra e o homem se desenvolveram lentamente ao longo de milhões e bilhões de anos!” (KÜNG, 2004, p. 19).

Monólito de Uluru (Wikipédia)
Na Austrália, o gigantesco monólito do Uluru, chamado atualmente de Ayer’s Rock; vestígios de vida humana, esqueletos, utensílios e pedra e pinturas rupestres dão conta que é possível o homo sapiens ter evoluído lá. Os aborígenes, seus habitantes originários, deixaram seus símbolos nas pinturas rupestres e os renovam constantemente. Com cerca de 230 mil aborígenes na Austrália, poucos tentam viver da forma tradicional, como viviam os antepassados há dez mil anos – caça, colheitas, frutos selvagens, raízes e pequenos animais são sua dieta. (KÜNG, 2004, p. 19-20).

Como explicar esses homens que viveram na Austrália há milênios “foram desde sua ‘descoberta’ caluniados pelos europeus, proscritos e reprimidos?”. William Dampier, pirata e descobridor inglês, vê os habitantes da região “como as pessoas mais miseráveis do mundo, sem vestuário e sem casas.”  Ele destaca que viviam em solidariedade, “mas seriam feios, quase não se diferenciando dos animais.” (KÜNG, 2004, p. 20).

Os relatos dos “descobridores” europeus afirmavam que os habitantes australianos eram “Homens sem cultura, sem religião”. Será que isto é verdade? O Certo é que as diferenças entre eles eram radicais. Eram chamados de “incultos e preguiçosos, porque preferem a caça, a colheita, a dança e as festas à agricultura, à pecuária e à construção de casas?” (Ibidem). Os nativos poderiam replicar:

“Vocês homens cultos, criaram a agricultura, desenvolveram até mesmo uma indústria agrícola. Nós homens primitivos, não matamos as florestas, não rasgamos a terra para plantar, não fomos atrás de propriedades privadas nem de acumular posses. Vocês homens cultos, desenvolveram a pecuária e matam os animais aos milhões. Nós, homens primitivos, não domesticamos os animais nem criamos unicamente para os matar e comer. Vocês homens cultos, construíram casas, aldeias e até mesmo cidades imensas. Nós renunciamos a moradias fixas e, para medida do possível, a nos envolvermos em roupas que nos isolem da natureza e dos ciclos naturais” (KÜNG, 2004, p. 20-21).



Os mais antigos vestígios de religião


Homo Neanderthalensis (Wikipédia)
Os europeus não podem se considerar superiores. O que existia antes da escrita, a história e a ciência? Por evolução procederam da natureza. O primitivo homem de Neandertal, parente próximo do homo sapiens, possuía elevada cultura: “sepultava os mortos, cuidava dos idosos e dos doentes, presume-se que possuísse uma linguagem elevada e evoluída.” Extintos há cerca de trinta mil anos, deixam lugar ao homo sapiens. Na Austrália foi encontrado esqueleto do homo sapiens com trinta mil anos de idade. “Estava coberto de ocre, sinal mundialmente difundido da ideia de uma vida após a morte. Ou seja, esse homem, ao que tudo indica, foi sepultado ritualmente. Um primeiro testemunho claro da cultura e da religião entre os primitivos!” O que é a cultura então? Nela inclui-se a religião? A cultura “é o conjunto de conhecimentos e procedimentos que caracterizam uma determinada sociedade humana, sejam eles de natureza técnica, econômica, científica, social ou religiosa” (KÜNG, 2004, p. 22).

Da história cultural aos ritos religiosos


Tudo o que caracteriza os aborígenes da austrália, em termos de religiões tribais não significa que eles estejam na idade da pedra. Significa sim, que houve muitas modificações em relação à forma com a qual sua manifestação religiosa se configurava no passado em relação à atualidade. “Os antropólogos dos nossos dias constataram: de tempos em tempos os aborígenes assumiram rituais e cânticos, mas também recursos e técnicas estilísticas e artísticas. Descobriram novos objetos sagrados, adaptaram seus mitos às condições modificadas.” (KÜNG, 2004, p. 22).
Historicamente as colonizações feitas às regiões onde existem povos tribais, eram considerados como “primitivos”, homens sem religião, se civilização, e suas manifestações eram consideradas superstições e magias. Há, no entanto, uma questão a se fazer em relação aos aborígenes da Austrália: “Porque os homens, antes de tirarem água da fonte, primeiro jogam nela um pedra? Por respeito à natureza: eles estão pedindo licença aos espíritos da água. Será isso uma superstição? Não só: a água poderia estar envenenada, a fonte da próxima vez poderá estar seca … Aqui nada é claro e evidente. Muita coisa os povos primitivos só explicam pela mitologia” (KÜNG, 2004, p. 24).

Havia na realidade um preconceito em relação à religião desses povos e, concretamente, considerava-se que “a religião teria se desenvolvido a partir da magia.”  Vê-se que as religiões tribais se desenvolveram de forma totalmente assistemática e não numa sequência: magia; crença nos espíritos; crença nas almas; crença em deuses; Fé em Deus. Tais explicações demonstram uma espécie de desenvolvimento fixo o que não ocorre na realidade. (KÜNG, 2004, p. 25).

Como encontrar empiricamente esta religião? Na visão de Küng pode-se encontrá-la em desenhos rupestres. Tais desenhos serviam para contar estórias, mas também possuem um significado cerimonial. Quanto a esses “significados os aborígenes guardam segredos”. Além dos desenhos, as decorações e adornos em pedras e paus sagrados possuem um significado religioso. T. G. H. Strehlow identificou grande diversidade de cerimônias religiosas nas tribos da Austrália. Há características nesse tipo manifestação que são evidentes: “Céu e terra são eternos. E céu e terra têm cada qual seus próprios seres sobrenaturais.” E Deus para eles? As tribos creem num Grande Pai que é imortal, tem pés de ema e tem mulher e filho ou mulheres e filhos – em algumas tribos. Esse “Deus” para eles vive no céu, separado do que acontece na terra, por isso não há veneração, oração, cânticos e oferendas dirigidas a ele (KÜNG, 2004, p. 25).

Dentre as diversas características que pode-se encontrar nas religiões tribais dos aborígenes australianos são de que a terra se formou a partir dos grandes espíritos ancestrais primitivos. Eles não vieram do céu, mas do chão. Em suas concepções a natureza está cheia de mistérios sobrenaturais. “A força vital incriada, eterna – é ela que atua em todas as coisas. Uma religião como essa, ligada à natureza, enraíza o indivíduo na eternidade. Confere-lhe uma identidade, uma consciência de um alto valor pessoal” (KÜNG, 2004, p. 28).

Entre os anangu, “que moram em torno do Uluru, falam de tjukurpa, a 'lei' dada desde o início pelos espíritos dos ancestrais. Tjukurpa abrange religião, ética, ritos, todo o modo de viver”. Para antigos antropólogos os aborígenes viviam exclusivamente para a sua sobrevivência. “A verdade é exatamente o contrário: para eles, desde tempos imemoriais, junto com toda caça e colheita, a vida inteira é uma série ininterrupta de cerimônias, danças e rituais. Os feitos dos ancestrais e de seus espíritos – objetivos do mito (em grego, “narrativa”), das tradições da origem de uma tribo ou de um povo – são transmitidos de geração em geração sendo eventualmente adaptados às circunstâncias”. Esses aspectos da religião tribal indica que todas as coisas vieram dos tempos primitivos e os responsáveis pela ordem das coisas sagradas – tanto os bens materiais quanto os espirituais – foram os ancestrais. (KÜNG, 2004, p. 28-29).

Para a tribo walpiri, ao norte do Uluru, as mulheres fazem dança de iniciação. Elas “pintam o corpo – com ocre, barro e cinza? Não só por razões de estética e de enfeite. A tinta fornece uma nova pele para a dança, uma personalidade: sem canto não existe pintura, e sem pintura não se dança.” Os símbolos pintados são misteriosos e refere-se às leis e tempos primordiais, mas elas não indicam informações claras sobre isto (KÜNG, 2004, p. 30).

E em relação às religiões tribais pode-se afirmar que:
“Certamente um papel central é desempenhado aqui – como em todas as religiões tribais – pela sexualidade humana: o simbolismo sexual como expressão de unidade do eterno princípio masculino e feminino, ou mesmo daquela esterna força vital incriada que já se manifesta nos espíritos ancestrais, e que deles passa a atuar sobre todos os seres vivos, para que continuamente a vida possa ser conservada e transmitida” (KÜNG, 2004, 30).

O Etos Primordial

Para uma discussão relacionada ao significado do etos compreendido por Küng, será citado em forma direta seu texto sobre o tema nas religiões tribais:
“Chama nossa atenção que certos padrões morais elementares parecem ser os mesmos em todo o mundo. Normas éticas não escritas constituem a “rocha”(M. Mauss) sobre a qual a sociedade está construída. Podemos chamar isso de etos primordial, que constitui o núcleo comum do etos comum da humanidade, para um etos global. Um etos global possui,pois seu fundamento não apenas – sincronicamente – nas normas básicas hoje comuns às diferentes religiões e regiões. Ele tem seu fundamento também – diacronicamente nas normas básicas das culturas tribais, comprovadas desde as eras pré-históricas. (…) Novos estudos comparativos estão surgindo (…) E aqui é impossível subestimar a importância dos mitos e rito para a ética. Já para os pequenos grupos tribais da Austrália eles garantem uma certa ordem, fundamentada nos fatos sociais básicos. (…) Quatro fatores de ordem são determinantes até hoje: O sexo: para a divisão do trabalho; a idade: para a  hierarquia social; o parentesco: para a prática matrimonial; o totem: para a coesão mútua fora da própria família (e ao mesmo tempo para a proteção da fauna e da flora). (…) Ma de onde provém esses padrões éticos, esses valores e normas? São justamente os aborígenes que nos dizem que eles não caíram do céu. Foram configurados pelos primeiros ancestrais, por seres perfeitamente terrenos. Do ponto de vista do desenvolvimento fica claro: normas, valores e visões éticas concretas foram-se formando aos poucos – em um processo sociodinâmico extremamente complexo” (KÜNG, 2004, P. 32-33).

Por influência cristã ou islâmica o povo de Zimbábue acreditam no “Mwari, o único Deus criador”. Pode-se encontra a tradicional religiosidade africana, segundo a qual os fatores mais importantes que determinam o mundo e o homem são forças invisíveis. O mais fundamental nessa religião é a relação com os espíritos ancestrais. Nas religiões tribais da África negra uma ampla faixa de espíritos: Espíritos ancestrais “que agora se manifestam como espíritos protetores da família, sobretudo das crianças”; Espíritos errantes “que, não tendo sido corretamente sepultados em terras estranhas, não querem ficar esquecidos; os Espíritos tribais: “que se preocupam com o bem da tribo e do chefe. (KÜNG, 2004, p. 41).

A manifestação dos ancestrais é através do médium, quem o espírito tomou posse:
“Tendo recebido dons especiais do espírito, só esse médium é capaz de acalmar, de tornar favoráveis ou de expulsar os maus espíritos. Como? Através de orações, cantos, danças ofertas, como, por exemplo, o sacrifício de uma cabra, o que acontece sobretudo na alegre festa da ação de graças pela colheita” (KÜNG, 2004, p.41).

Há na África um grande número de curandeiros que proporcionam as curas religiosas pela fé, oração e pelos espíritos – o que naturalmente acontece em todas as culturas.  Ao curandeiro e intérprete “se atribuem forças espirituais para curar doenças e para interpretar quem é o culpado por elas.” (KÜNG, 2004, P. 42).

Os povos da África, antes da colonização eram considerados selvagens, primitivos, grosseiros e sem cultura. Tal afirmativa é engano, pois nas culturas do Egito, Núbia e Etiópia conseguiram chegar a uma cultura é comparada à cultura medieval da Europa. O que não representa nenhum demérito, o desenvolvimento desses povos representa que suas culturas e religiosidades com suas solidariedades, valores e visões holísticas do mundo podem em muito contribuir para uma ética mundial.

Referências
KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004.
GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões, São Paulo, Companhia das letras, 2005.

sábado, 2 de março de 2013

Proposta inicial da formação dos professores

Aqui se tratará de alguns assuntos sobre a proposta inicial da formação dos professores do ER de Roraima. Foi Feito um projeto inicial que contemplasse a formação integral do aluno. Isto significa que seriam trabalhados os aspectos biopsicossocial, cultural, axiológico e espiritual integradas dos educandos e a formação continuada dos educadores. Seria dada atenção aos assuntos sobre conhecimento das religiões a partir do fenômeno religioso.

Após apresentado à Secretária de Educação  (Profª. Lenir), em fevereiro de 2012, que deu resposta positiva para prosseguir com o projeto incial. Os temas iniciais da formação foram discutidos no grupo de três professores (Francisco, Manoel e Jacilda) e depois ampliados para os responsáveis do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Educação (Profª. Cleonildes) e da Divisão de Educação Básica (Profª. Carmen Gorete).

Os assuntos seriam fundamentados tendo como objetivo o desenvolvimento do ER em Roraima e o aprimoramento da metodologia. Seriam feitas as capacitações dos profissionais envolvidos com o ER, focando especialmente as questões do diálogo com as mais diferentes religiões. Seriam tratadas as temáticas das grandes tradições religiosas do Ocidente e do Oriente (Cristianismo: católicos, protestantes e ; Judaísmo; Islamismo; Taoismo; Budismo e Confusionismo). Especificando ainda mais haveria aprofudamento da pluralidade e do conhecimento das tradições religiosas.

No caso do Brasil, teria foco no conhecimento dos evangélicos, do espiritismo, das religiões Afro-brasileiras e indígenas e do neopentecostalismo. Essas tradições religiosas seriam apresentadas como um diferencial que há em nosso país respeitando todas as suas especificidades.

Dentro deste contexto, seria apresentado o complexo cultural no qual se apresentam as manifestações religiosas no Brasil e no mundo, cultivando o respeito mútuo, do conhecimento do outro sem proselitismo (Cf. LDB, art. 33).