terça-feira, 13 de maio de 2014

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Atlântico Negro

O filme Atlântico Negro: na rota dos orixás, apresentado no II Fórum Interreligioso de Roraima encontra-se disponível na internet. O filme está dividido em dez partes:
http://www.youtube.com/watch?v=4MCmkQEhPV0&list=PL0A0AFB4101CE83A5


sábado, 10 de maio de 2014

II Fórum interreligioso

Disponibilizo o material da professora Cristina, sobre Religiões afro-brasileiras, apresentado no II Fórum interreligioso de Roraima no dia 08/05/2014:
Religiões afro em Roraima

Narradores de Javé

Se você quiser assistir o filme Narradores de jave, pode acessar o link abaixo que abrirá uma janela com a apresentação do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=Trm-CyihYs8

Narrativas sagradas - Apresentação

Disponibilizo apresentação sobre Narrativas Sagradas.

Apresentação-Narrativas Sagradas

Programa dos Mapas Conceituais

Disponibilizo endereço para baixar o CMAPTOOLS, programa para construir os mapas conceituais. É só colocar um email e em organização pode colocar o nome da escola:
http://cmap.ihmc.us/download/

Mapas Conceituais - Vespertino

Disponibilizo um conjunto de mapas conceituais elaborados pelos professores do Ensino Religioso na Formação do dia 08 de maio de 2014 do turno Vespertino:




Mapas conceituais - Matutino

Disponibilizo um conjunto de mapas conceituais elaborados pelos professores do Ensino Religioso na Formação do dia 08 de maio de 2014 do turno Matutino:





Mapas Conceituais - Ditado - Provérbio

Disponibilizo o mapa conceitual sobre Ditado apresentado na Formação Continuada do dia 08 de maio de 2014:

Narrativas Sagradas


Aspectos sócio-histórico-antropológicos dos textos e mitos sagrados
Me. Manoel Rabelo
Reflexões sobre os textos Sagrados
Quem foram os escritores e leitores da Bíblia?
Longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos servos de antigamente mas agora trabalhando no solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; circulam nas terras alheias, nômades caçando por conta própria através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens do Egito para usufruí-los”. A escrita acumula, estoca, resiste ao tempo pelo estabelecimento de um lugar e multiplica sua produção pelo expansionismo da reprodução. A leitura não tem garantia contra o desgaste do tempo (a gente se esquece e esquece), ela não conserva ou conserva mal a sua posse e cada um dos lugares por onde ela passa é repetição do paraíso perdido” (SILVA, 2010, 427).
Quanto à escrita dos texto devemos considerar que não somente o que está escrito é o texto, existe o leitor como força vital, sua interpretação como produção de sentido e uma rede de significados.
Podemos afirmar que o texto possui as seguintes passos na sua confecção:
  • Produção,
  • leitura,
  • recepção e,
  • criação de um novo texto.
A história é texto e discurso, seja escrito, iconográfico, gestual, etc. O fundamental será a decifração do discurso. Assim é que podemos repensar as relação entre oralidade, escrita, linguagem e história, memória, esquecimento e tradição, trazendo-os para o campo da exegese e da hermenêutica.
O texto, oral ou escrito é fruto da cultura e da memória histórica e coletiva. O ato de contar e escrever visa a manutenção viva da memória dos fatos e acontecimentos. A oralidade vivifica a cultura e é parte estrutural da sociedade e a memória é a maneira criativa de reproduzir e conservar a cultura e a tradição. A oralidade está presente em todas as culturas, sejam as letradas ou não. Há um
processo dinâmico que vai da tradição oral para a memória ou panfleto, da memória para o escrito e deste para a transmissão e releitura, é marcado por constantes mudanças e ampliações. A memória e o texto escrito amplificam a tradição oral, pois nas nossas lembranças se processa a construção de um saber que chega até nós como fragmentos de um conhecimento, que, na sua origem, diz, analisa e interpreta uma dada conjuntura e, que ao serem lembrados, são reinterpretados à luz de novos pontos de vista (SILVA, 396-97 2010).
A memória é mais reconstrução criativa do que simples recordação de fatos: “A memória é a construção coletiva sobre o passado a partir das condições sociais, que o grupo vivencia no presente” (SILVA, 2010, p. 429). A lembrança desafia a se colocar desde o ponto de vista do outro.

O que há no Gênesis
Nos primeiros 11 capítulos não há povo escolhido, mas uma referência aos povos da terra como povos de Deus. Todos estão envolvidos na aliança com sua criação e com a humanidade. Essa aliança, com todos os seres vivos (Gn 9,16), é renovada após o dilúvio. Mais tarde se fala na família de Abraão como “bênção para todas as famílias da terra (Gn 12,3).
Nesses 11 capítulos se mantém atual, pois todos são povos de Deus, vivem na terra, jardim de Deus e formam única família humana. São muitas famílias com suas religiões, tradições e culturas. As religiões são a memória de Deus entre os povos.

Um exemplo do Novo Testamento
No Novo Testamento o Evangelho de Mateus pode ser assim interpretado: Trata-se da revelação de Deus em Jesus de Nazaré e seus discípulos. Para facilitar usa-se aqui o seguinte roteiro: “Quem escreve? Quando? Onde? Para quem escreve? Com que finalidade escreve? Conteúdo do texto” (CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 5-6).
MATEUS (p. 7-13)
Temáticas: Jesus é perseguido por Herodes; é rejeitado pelos que esperavam um messias nacionalista; formação de um novo povo de Deus, seguidores de Jesus; Igreja como portadora dos ensinamentos da mensagem a toda a humanidade (CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 7).
Quem é Mateus? Um dos doze apóstolos, coletor de impostos ou publicano (Mt 9,9-13; 10,3). Desde o século II que Mateus é atribuído a um dos Evangelhos. Ele conhecia as Escrituras, as pregações cristãs e era um judeu culto.
Quando e onde? O Evangelho foi escrito entre 80 e 90 d.C. Sua redação pode ter sido na Síria, em Antioquia.
Para quem escreve? Aos cristãos advindos do judaísmo, provavelmente no norte da Galileia e Síria.
Com que finalidade escreve? Animar as comunidades na continuidade da missão do Povo de Deus, isto é, proclamar a Boa-Nova do Reino ao mundo inteiro. Realizar a promessa feita a Abraão - “Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12,3) – retomada por Jesus de Nazaré e dada como missão à Igreja.
Conteúdo do texto. Um texto organizado:
A primeira e a segunda partes possuem cinco livrinhos. Cada um possui uma narrativa e um sermão. Esta organização pode ser para lembrar os cinco rolos da Lei de Moisés. “Seguir jesus é a melhor maneira de viver segundo a vontade expressa na Lei, pois ele ensina a compreensão plena da Lei (Mt 5, 17-20)” (CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 9).
Prólogo (1-2): Jesus como Messias: filho de Abraão, de Davi e de Deus; a fuga para o Egito.
Primeira parte (3,1-13,52):
  • 1º livrinho (3-7): A justiça do reino.
    • Narrativa: batismo de Jesus por João; Anúncio do Reino de Deus aos Galileus.
    • Sermão da Montanha: Interpretação da Lei de Moisés à luz do reino e sua transformação.
  • 2º livrinho: A dinâmica do reino (8-10):
    • Narrativa (8,1-9,34): Jesus anuncia o Reino dos Céus pelas curas e o perdão dos pecados.
    • Sermão da Missão (9,35-10,42): clima de gratuidade, pobreza e confiança para a libertação dos males.

Dos mitos e sobre o seu significado
Há muitos conceitos de mitos. Trabalharemos com a definição de Mircea Eliade o qual indica que o mito conta uma história sagrada que aconteceu no tempo primordial, o tempo do princípio, fabuloso.
O mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja como realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre portanto, uma narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são os Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo sobre o que fizeram no tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam, portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a “sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramática, irrupções do sagrado que realmente fundamenta o Mundo e o converte dos Entes Sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural (ELIADE, 2004, p. 11).
Sendo assim podemos afirmar que em muitas narrativas bíblicas foram retirados de mitos desenvolvidos na época em que escritos a primeira vez.
As religiões indígenas são pautadas nos mitos, pois seus ritos estão vinculados a eles e à vida prática. Os mitos são transmitidos de forma não escrita, pela oralidade e são conservados vinculados à sua cultura. Nos mitos estão configuradas as mensagens culturais pelas quais todos os integrantes da tribo devem agir. Existem neles os elementos morais das relações entre o homem e a natureza, entre os indivíduos e entre os indivíduos e os espíritos. Existem neles as narrativas do surgimento do universo, das plantas, do homem e da mulher. Cada mito pode conter um conhecimento que é narrado para informar como se deve agir na sua cultura e nas suas formas de se relacionar com os seres sobrenaturais. Um mito Macuxi da origem dos timbós diz assim:
Um homem andava com uma anta, Perambulava por esta região através das montanhas. A anta chegou à sua casa. O homem a deixou no mato e regressou para casa. Vários homens foram para matar a anta, guiados pela informação que dela tiveram. Eles de fato a mataram e foi pela cabeça. O marido da anta tirou o filho que estava no ventre dela. Lavou-o no igarapé. Com isso fez que os peixes entontecessem. Como cresceram os filha da gente do lugar, cresceu também o filho do homem, marido da anta. Um dia o pessoa avistou muitos peixes. Então levaram aquele menino, filho da anta, para atordoar peixes. Em tal ocasião, o menino ficou gravemente ferido, a ponto de perecer. É que um peixe enorme o tinha flechado, razão por que morreu. Então eles levaram o menino morto. O corpo dele se transformou em várias qualidades de timbós. Suas orelhas viraram timbó de nome makuxi yai yare. Seus olhos tornaram-se carauatê. Transformaram-se nisso. Suas veias ficaram sendo aya, o timbó principal. O pus dele virou timbó maniva, kanpuru ou kanapuru virgem. Ele plantou serventia futura dos índios. (MEYER, 2011, p. 63-64).
Este mito pode explicar diversos comportamentos dos Macuxi. Entre eles o fato de uma mulher menstruada ou alguém ferido não pode entrar na água. Esta ação pode enfurecer o dono do rio (Espírito que cuida do rio). O fato de não se poder entrar no rio sangrando é porque o sangue é considerado impuro e não a mulher. O homem ferido não pode entrar na água pois o sangue dele é impuro para a água e o dono do rio não gosta. No mito existe os resquícios desse tipo de comportamento e possivelmente expondo motivo pelo qual eles agem desta forma.
O ocorre com o comportamento dos Macuxi pode fornecer informações acerca de sua manifestação religiosa. Os “Espíritos” (podendo ser denominados como “bichos” ou “dono”) possuem o poder sobre a natureza. São como espécies de deuses que cuidam e fazem as coisas existir. Sentem raiva quando se sentem ameaçados pelos homens. Estas ameaças pode aparecer em forma de destruição ou de feitiços espirituais lançados pelos homens.
Pode-se ainda retirar desse mito diversas inferências sobre o modo de vida dos Macuxi. Uma pessoa ferida que toma banho no rio corre risco de morte, etc.

O contexto cultural e religioso dos Macuxi
Os índios Macuxi, originários da região do rio Branco, atual Estado de Roraima, são de origem linguística Caribe, tiveram as terras ocupadas por ingleses, holandeses e espanhóis vindos do norte. Lembrando que os Macuxi são apenas uma das muitas etnias que vivem na região – Taurepang, Ingaricó, Wapixana, Sapará – hoje denominada de Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Do lado brasileiro os Macuxi estão no estado de Roraima e estão mais concentrados no Nordeste do estado. Seu idioma é o Macuxi do qual grande parte deles são falantes. Eles tiveram seus contatos com o mundo do homem branco ao Norte através dos ingleses e espanhóis no século XVIII, e talvez um pouco antes disso com os holandeses e ao sul com os portugueses a partir do séc. XVII, de forma esporádica e em 1830 com o estabelecimento da fazenda Boa Vista no rio Branco.
O contexto da convivência com os Macuxi, notadamente com a permanência dos portugueses no século XVIII, foi traçada por dificuldades da colônia do Maranhão e Grão-Pará e justificou a escravização desse e de outros povos da região amazônica. Havia, no entanto, dificuldades para a manutenção escravocrata, pois o estado português, com sua campanha civilizatória, tinha os planos de um projeto político que apoiava a evangelização e a redução em aldeamentos (FARAGE, 1991). Com estes planos, as religiões indígenas da região eram relegadas a meras manifestações que deveriam ser alteradas com o tempo por um processo de imposição da Cristandade Ocidental.
Do final do século XIX à metade do século XX, os colonos da região do rio Branco, mudam de ideia em relação à implantação de uma economia agrícola e aumentam o número de fazendas, no que chamavam de terra de ninguém. Além do uso da mão-de-obra barata havia a ocupação progressiva da terra indígena. O gado passa a substituir as moradias dos índios que, de boa índole cedia as terras sem perceberem as dificuldades enfrentadas. “O branco vai entulhando de gado o terreiro do índio. A roça deste último, onde vicejam o milho e a mandioca, vai sendo devastada.” (AMÓDIO, 1990, p. 8).
As conquistas físicas e culturais das invasões das terras indígenas de Roraima, fizeram os povos conquistados a abandonar parte suas tradições. Os brancos por outro lado imaginam ser de cultura superior, fato que “progressivamente, as culturas indígenas são descaracterizadas, investindo nesta transformação todos os níveis da vida social: economia, estrutura social etc.” (Ibid., 1990, p. 24).
O fenômeno religioso configurado como religiosidades Macuxi constitui-se de um conjunto de manifestações religiosas associadas à cultura desta tribo. Vê-se em algumas manifestações denominadas culturais, em sentido folclórico, vários aspectos que pode ser caracterizado como religiosos, visto que estão sempre associados aos espíritos, seres mitológicos, Kanaimés e bichos1.
Torna-se difícil perceber onde estão as diferenças entre a manifestação religiosa e a manifestação cultural entre os Macuxi, visto aquilo que se manifesta em forma de rito, em geral, referenciam a algo de sobre-humano. Ambas estão imbricadas, muito intimamente associadas. A separação destes dois aspectos são impossíveis e categorizá-los separados dificulta e na maioria das vezes mutila o sistema cultural-religioso presentes tanto entre os Macuxi como os povos vizinhos. Verifica-se esta proximidade em muitas manifestações ditas culturais e que com frequência estão associados a elementos espirituais: “A crença da panela de barro na cultura macuxi sempre foi passada de pai para filho sempre sendo uma forma de educação e que esses conhecimentos ainda [são] seguido[s], não como era antes.” (MARQUES, 2012a). O elemento configurado como herança cultural, “de pai para filho”, representa a afirmação de que este “conhecimento” dado por eles passaram por gerações e que são considerados verdadeiros. Foram as antigas gerações que informaram tal sabedoria, o que representa, neste sentido, que tanto a cultura quanto o fenômeno religioso dos Macuxi obedecem à uma ancestralidade e à consanguinidade, no sentido até se reconhecer a sua identidade como povo. Em continuação ao texto de Elder Marques (2012a) há um relato de como se faz para fazer a panela de barro e que aspectos são exigidos para sua elaboração:
Segundo [o] senhor Aurino de 54 anos, falante da língua macuxi, do povo macuxi, para se fazer a panela de barro exige habilidade e conhecimento tradicional porque tem que pedir permissão do dono da terra. A pessoa tem que ter corpo aberto, corpo curado. Além de seguir uma norma existente na cultura. A pessoa que tem filho novo nem inventa de tirar o barro da terra, nem fazer a panela porque a criança fica tufada e começa a se torcer, sua frio e chora muito, custa andar, por isso faz mal para criança, e para curar isso só com a presença benzedor ou um pajé. Eu sempre falo isso aqui porque eu já vi acontecer quando morava na Mirandinha.2 (MARQUES, 2012).
O dono da terra é interpretado como o espírito guardião que a protege a terra e que está contido nela. A própria terra representa este espírito e ela é o espírito. A vida da terra é a vida desse espírito. Esta permissão a ser pedida ao dono da terra exige uma espécie de purificação, ter o corpo aberto e curado, e em algumas condições não são permitidas, como ao pai de filho novo, afim de não passar doenças para a criança. Observa-se que uma simples elaboração de uma panela de barro é constituída de diversas normas que devem ser seguidas para que tudo corra bem. De um lado a permissão dada pelo espírito da natureza (terra) e de outro as condições daquele que tira o barro que não pode estar com o “corpo aberto” e nem ter filho novo. Existem diversas interpretações que constituem os elementos religiosos que implicam em mudanças na vida da aldeia e da natureza, existem as regras que não podem ser quebradas. Acontecendo isto as doenças e outros males possíveis podem acontecer, dependendo da gravidade da quebra das regras. Exige-se a presença do rezador para curar a pessoa que desobedeceu o interdito.
Em condições bem semelhantes, os Macuxi da Aldeia Canta Galo, afirmam que quando a mulher está menstruada fica impedida de tomar banhos nos rios, riachos e igarapés. O dono da água deve ser respeitado, visto que o sangue é considerado impuro. Deve-se salientar que esta impureza não é da mulher, mas do sangue. Em condições normais não há impedimento para se tomar o banho em rios. Se acontecer de esses interditos serem contrariados, exige-se a presença do benzedor (rezador) ou do pajé para sua cura.
Quando se vê Macuxi com vestimenta de palha, um cocar na cabeça, arco e flecha na mão, uma pintura triangular ou outras formas vermelhas (feitas com urucum), preta ou azul (feitas do jenipapo), algo vai acontecer. Pode significar motivo de muita alegria nas comemorações pelo aniversário, fartura, casa nova. Pode ser o ritual do Parichara, uma festa típica da grande colheita, ou ainda algum outro tipo de manifestação política. (MAKUXI, 2012b). O Parichara é uma ritual de agradecimento pela fartura da roça, feito com danças e cantos tradicionais. Nestas manifestações acredita-se que há puramente uma manifestação cultural dos Macuxi. No entanto a forma como é feito o ritual e em relação ao objetivo a quem é dirigido, certamente existem elementos que podem ser justificados pelas crenças religiosas aos quais os Macuxi estão envolvidos. Basta perguntar a quem é dirigido esse agradecimento, entre as repostas podem surgir Deus, Makunaimî, os espíritos. O foco principal da festa do Parichara pode ser religioso, visto que, ao que tudo indica, os elementos religiosos estão presentes.
As características identitárias dos Macuxi são representadas por suas manifestações culturais. Tais manifestações; constituídas pelas comidas e bebidas, costumes, danças, cantos, língua, mitos, formas de produzir e caçar os alimentos, a produção artística; resvalam em suas manifestações religiosas. O fato de se usar a pimenta na damorida, que é um moqueado de carne ou peixe com pimentas bem ardosas, pode ser respondida por um outro costume: na passagem de jovem para adulto, quando o menino Macuxi está muito preguiçoso, os pais passam pimenta no ânus dele, de manhã cedo. Eles dizem que o menino corre para tomar banho no riacho e fica mais esperto para a caça e a pesca. Então pode-se sugerir que para o Macuxi a pimenta é tanto o alimento com poderes de força para suportar a vida, no sentido de ser o alimento mais forte do dia e pode ser servido no almoço, quanto uma espécie de remédio para curar e o menino se tornar um bom caçador e pescador e trabalhar na roça. Esse dois exemplos de manifestações, envolvendo a culinária e um rito, possivelmente de passagem, coloca poderes na pimenta que não há em outros alimentos, somente nela. O poder alimentar da pimenta para ficar forte e não morrer magro, que no entender do Macuxi de Canta Galo é fruto de feitiço, e o poder despertar o jovem, torná-lo adulto, na perspectiva de buscar os alimentos para si e sua família. Importante agora é saber quem promove este poder, é somente o alimento? São questões em aberto que necessitam maiores esclarecimento através de pesquisa.
As bebidas como o caxiri, o aluá, o pajuaru e o mocororó e outros sucos de frutas são bebidos em diversas festas. Em cada época existe alguns tipos de alimentos que estão mais presentes na natureza. No caso do caxiri e do pajuaru são bebidas feitas com mandioca vinda da agricultura. Elas são usadas nas festas de Parichara, as quais se acompanham com as danças tradicionais para agradecer a boa colheita. O caxiri é cozido e não possui teor alcoólico, mas o pajuaru é fermentado e possui teor alcoólico. Tanto a dança quanto o uso das bebidas exige um ritual e em cada ritual possuem suas significações espirituais.
O Aleluia é uma manifestação de cunho cristão sincretizados com partes da pajelança. Ela surgiu entre os Macuxi e teve maior desenvolvimento como uma religião entre os Ingaricó e os Taurepang. Para grande parte dos Macuxi é considerada uma dança, como eram cultivas na Aldeia de Canta Galo, na década de 1990. Esta manifestação religiosa desenvolveu-se a partir da cosmologia dos Ingaricó junto a elementos que se configuram como transcendentes para a solução da mortalidade dos humanos. (Cf. ABREU, 1995). No Aleluia se fazem os pedidos e agradecimentos aos diversos “donos” da natureza, ainda que também um profundo respeito ao Banco (é a figura Jesus cristo para o Cristianismo).
O idioma Macuxi é considerado fonte de poderes que, quando se rezar nesta língua, obtêm-se mais saúde, mais proteção e melhores benefícios para a comunidade. Os Macuxi entendem que as rezas realizadas em português perdem a força da eficácia, tornam-se, portanto, meras palavras sem o alcance necessário para a saúde do doente ou da solução dos problemas da comunidade. Além dele ser o transmissor da herança cultural da tradição, tem significado mais expressivo e se constitui de uma força transcendente realizadora que possibilita maiores bonanças.
Os mitos, na cultura Macuxi, possuem a função justificadora do modo de vida das comunidade indígenas. Eles se constituem de um processo interpretativo da vida social desse povo, sejam do ponto de vista moral, social e religioso. Neles estão muitas respostas dos comportamentos sociais e podem refletir o contexto e a realidade vivida do povo.
A agricultura; especialmente pela produção da mandioca, da macaxeira e da batata; serve para o consumo interno. Da mandioca faz-se a farinha, o beiju e a tapioca, produtos essenciais na culinária dos Macuxi. Para relacionar a questão da produção agrícola para fins espirituais e religiosos, volta-se à fonte primeira de onde vem esses produtos, a terra, que em geral é configurada como a mãe espiritual dos Macuxi. Ela é representada como a produtora da vida, através da agricultura e da espiritualidade.
A produção artística de diversos tipos de cestos que servem como recipientes, tipitis, jamaxins, diversos tipos de peneiras para peneirar goma (fécula da mandioca) e a massa da mandioca para fazer a farinha. Esses produtos são elaborados com palhas de buriti, uma palmeira que produz um fruto comestível, que possui folhas para várias utilidades, inclusive para cobrir as casas, e ainda com Jacitara, um fio de uma palmeira que é retirado com o miolo da planta. Com possibilidade remota, mas acredita-se ser possível um encaminhamento da produção artística e sua articulação com a espiritualidade. As artes produzidas pelos Macuxi são feitas e ensinadas pelos mais velhos. Sempre que existe algo na tradição tanto para a produção quanto para o ensino dos mais novos, o que eles chamam de antigos, fazendo referência às pessoas mais velhas e à tradição dos antepassados. Durante a produção artística há um poder de concentração muito grande. Em muitas aldeias Macuxi a tradição da produção destas artes são pré-requisitos para obter um bom casamento. Percebe-se que ao produzirem as artes, observando um Macuxi, ficam extasiados, absolutamente concentrados como se tivessem em transe durante essa elaboração.
Assim como aconteciam nas danças, no passado, em referência à diversas formas de pedidos aos espíritos, aconteciam na caça, quando se pediam e ainda pedem licença ao espírito – às vezes denominado o dono – da caça para se tornar bom caçador. Há alguns interditos na cultura Macuxi que protege o meio ambiente. Em épocas bem determinadas não se pode pescar ou caçar. Observa-se que essas atitudes culturais ajudam a proteger a fauna. Existem os pedidos dos rezadores (Tarenpokon) ao suplicarem permissão para comer a carne de jacaré em épocas não permitidas, somente nos casos em que essa carne seja indispensável para alimentar a família.
O caso dos mitos é o que possui uma configuração religiosa ainda maior no que se refere às explicações da vida dos Macuxi. Neles estão explicadas a origem do povo Macuxi, das plantas, das serras, da luta entre irmãos, dos animais.

Referências:
ABREU, Stela Azevedo de. Aleluia: o banco de luz. Campinas: SP, 1995. Dissertação (Mestrado),
Curso de Mestrado do Departamento de Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, 1995.

CARVALHO, Elaine Terezinho Alves de Miranda. “Paraíso Terrestre” ou “Terra sem Mau”?, São Bernardo do Campo: SP, 2006. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2006.

CORREIA JUNIOR, João Luiz. FERNANDES, José Flávio de Castro. Boa Nova de Jesus: Introdução didática aos livros do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2011.

COSTA, Eber Borges da. Tapeporã – caminho bom: Análise da prática missionária de Scilla Franco entre os índios Kaiowá e Terena no Mato Grosso do Sul – 1972 a 1979. São Bernardo do Campo: SP, 2011. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Humanidades de Direito, Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2011.

ELIADE, Mircea, Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2004.

MEYER, Dom Alcuíno. MACDOWNELL, Ronaldo (Org.). Mitos do povo macuxi registrados pelo monge beneditino Dom Alcuíno Meyer, O.S.B. entre 1926 e 1948. Brasília: Diocese de Roraima, 2011.

RABELO FILHO, Manoel Gomes. Representação social do Kanaimî, do Pia'san, do Tarenpokon nas Malocas Canta Galo e Maturuca. Recife: PE, 2012. Dissertação (Mestrado), Mestrado em Ciências da Religião, Universidade Católica de Pernambuco, 2012.

REZENDE JUNIOR, João Pires de. Discursos de Pertencimento: do infanticídio indígena aos caminhos da identidade. São Paulo: SP, 2010. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2010.

RIBEIRO, Ezilene Nogueira. Euroco Alfredo Nelson (1862-1939) e a inserção dos batistas no Belém do Pará, São Bernardo do Campo: SP, 2011. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Humanidades de Direito, Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2011.

RODRIGUEIRO, Jane. Tensão e redução na várzea: as relações de contato entre os Cocama e jesuítas na Amazônia do século XVII, 1644-1680. São Paulo, 2007. Dissertação (Mestrado), Mestrado em Ciências da Religião, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.

SILVA, Almir Batista da. Religiosidade potiguara: tradição e ressignificação de rituais na aldeia São Francisco. Baia da Traição – PB. João Pessoa: PB, 2011. Dissertação (Mestrado), Centro de Educação – CE, Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa 2011.

VALDIVIA, Karen Alejandra Arriagada. Sahagún e as festas agrícola mexica: em buca de um sentido. São Paulo: SP, 2008. Dissertação (Mestrado), Mestrado em Ciências da Religião, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

VIRAÇÃO, Francisca Jaqueline de Souza. Igreja Reformada Potiguara (1625-1692): A primeira igreja protestante do Brasil. São Paulo: SP, 2012. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo: 2012.

Site:

MAKUXI, Alex. Índio Educa. Cultura. Quando nos pintamos. Disponível em: <http://www.indioeduca.org/?p=1782>, Acesso em 11out. 2012.