quinta-feira, 12 de junho de 2014

Apresentação - Pentecostalismo e Neopentecostalismo

Disponibilizo a apresentação do dia 05 de junho de 2014. Aproveitamos para avisar que o próximo encontro de formação será realizado apenas no dia 06 de agosto.
O pentecostalismo e o neopentecostalismo

O pentecostalismo e o neopentecostalismo


Me. Manoel Gomes Rabelo Filho

Introdução
O pentecostalismo refere-se a um movimento do início do século XX que cultivou o batismo no Espírito Santo, sendo que esse é caracterizado pela glossolalia, vista como uma evidência da ocorrência desse batismo. Durante a história os pentecostais deram ênfase ao trabalho missionário, ao ensino fundamentado no batismo do Espírito afim de conceder aos fieis o poder de evangelizar. Há uma crença na doutrina dos dons carismáticos a qual possui crença na profecia e no discernimento.
Os propósitos dos pentecostais foram sendo cultivados aos poucos a partir do XIX. Envolvidos em diversas formas de reestruturar as igrejas, alguns protestantes fortaleceram suas denominações com diversas formas avivamentos. Estes se caracterizavam pelo envolvimento direto do fieis na constante conversão e na tentativa de deixar as suas vidas serem arrebatadas e modificarem suas condutas e costumes.
O neopentecostalismo, acrescido às características do pentecostalismo, crê nos milagres das curas, associados ao dom divino da cura, na possessão de espíritos, em geral associados a demônios e aos pecados dos fieis, que são afastados durante os ritos específicos para isto e na ideia de prosperidade. Os dons carismáticos cultivados por essas igrejas diminuiu o ascetismo, dando maior valor a um pragmatismo.
Os precursores do Pentecostalismo
Os cristãos estimularam o diálogo entre as tendências de dar importância às doutrinas corretas e cultivar a devoção do coração. Ainda que Lutero desse um equilíbrio para as duas coisas, “alguns seguidores não conseguiram manter o equilíbrio que ele preconizou”.1 A Igreja Luterana do século XVII na Alemanha construiu uma teologia sistemática própria dando ênfase à liturgia do catolicismo romano. Havia um debate dogmático sobre temas obscuros, tornando-se muitas vezes estéreis. A Igreja reformada de Calvino defendia um modo de viver particular da vida cristão. A constituição presbiteriana abre aos fieis maior participação eclesial. Houve quem defendesse um cristianismo prático e devocional como Jakob Böhme e Johann Arndt.
Já Philipp Jakob Spener (1635-1705) defende uma reforma religiosa e moral no luteranismo e via que a rígida ortodoxia luterana sacrificava a verdadeira vida cristã. Spener desenvolveu um tipo de pietismo com promoções de reuniões em sua casa, com pregações de sermões e a interpretação de trechos Novo Testamento. Seus propósitos para revivificar a igreja eram: “formar grupo de estudos da Bíblia; envolver os leigos no governo da igreja; dar importância à vida cristã prática; ouvir com mais simpatia os heterodoxos e os infiéis; promover a vida devocional nas faculdades de teologia; e pregar sermões que alimentassem a alma de dessem frutos de mudança de vida, em vez de reduzir a uma elaborada retórica.”2
A influência de Spener em Leipzig (Alemanha) fez fundar a Universidade de Halle. Os professores acreditavam num cristianismo de mudança interior e de santidade. Os luteranos ortodoxos consideravam esta posição simplista e viam “a necessidade de uma igreja institucional com fundamentos teológicos sólidos”.3 Com Augusto Hermman (1663-1727), após a morte de Spener, o pietismo com o tom prático do cristianismo cria um orfanato em Halle.
Uma igreja especificamente pietista só surge em 1722, em Herrnhut (Saxônia) com o conde Ludwig von Zinzendorf. Era uma comunidade denominada de Irmãos Morávios que realizaram missões na Europa e no ultramar.
A visão de Spener faz o cristianismo entender que deveria haver uma separação do mundo para ter novo nascimento. Neste renascimento incluía-se o arrependimento, o fato de somente os renascidos ensinassem e o afastamento da dança e do teatro. Há nesse sentido um individualismo que prepara para o pensamento secular do iluminismo. Suas influências contribuem para a retomada dos estudos bíblicos na Alemanha e para a visão de uma religião que recuperasse os assuntos do coração na vida cotidiana, fortalecendo papel dos leigos na Igreja. É da tradição pietista as missões, a evangelização e a ação social cristã.
O pietismo fez surgir a Igreja evangélica da União na Prússia, em 1817. O rei da Prússia decretou que “as igrejas luterana e reformada da Prússia se unissem sob o nome de 'evangélica' (ou seja, 'protestante').”4 Esse movimento se espalhou pela Alemanha no começo do século XIX. Não havia exigência teológica confessional e possibilitou a união de igrejas. Os luteranos se separam do movimento e emigram para diversos países – Estados Unidos e Austrália.
Em John Wesley, o pietismo exerceu influência, dando início ao movimento metodista na Inglaterra do Século XVIII. Aos modernos metodistas americanos e o movimento de santidade aceitam a doutrina de Spencer e dos Irmãos Morávios. O pietismo de Alexander Mack (1679-1735) fez funda na Alemanha os nebatistas ou Movimento dos Irmãos, conhecidos como Igreja da Irmandade.
O Metodismo surge a partir do zelo evangélico na Igreja da Inglaterra. John Wesley pregava sermões com grandes públicos. Charles Wesley, irmão de John contribui para o metodismo com a produção de hinos, num ambiente em que a Igreja Anglicana só cantava os salmos. Houve uma divisão em “sociedades” metodistas independentes para que o governo da igreja pudesse se autossustentar. Embora havendo a divisão, havia uma organização central, denominada Conexão, que se reunião anualmente. Diversos cismas e avivamentos fizeram surgir diversas igrejas que se denominavam metodista. Para se diferenciar destas a Igreja Metodista original passou a ser chamada de Igreja metodistas wesleliana. Ocorre o fortalecimento do Metodismo no País de Gales e na Cornualha. E em 1932 várias correntes do metodismo britânico se unem e forma a Igreja metodista da Grã-bretanha. O movimento wesleyano influenciou na produção de um estilo popular na pregação evangélica e no uso de hinos no culto.5
O primeiro despertar, um processo de avivamento evangélico, ocorre nas colônias inglesas da América do Norte, cerca de 1726-70. O início se deu “na igreja reformada holandesa e foi assumido pelos presbiterianos e congregacionalistas”.6 Influenciados por Jonathan Edwards, os avivamentos começaram na Nova Inglaterra (Estados Unidos). Georg Whitefield (1740-70), amigo de Wesley, despertou avivamentos, em 1730, nas regiões litorâneas dos Estados Unidos. Ele “pregava num estilo novo, dramático, idiossincrático e emocional”.7 A partir desse tipo de sermão e da forma prática com que os fieis viviam sua fé, “inspirou vida nova na religião”.8 Houve um envolvimento emocional maior, e os sermões de estilo influenciaram no estudo da Bíblia em casa.
Na Nova Inglaterra o avivamento tomou proporções monumentais. Isto afetou todas as denominações, mas havia grupos que aceitavam esse tipo de pregação e os que a ela se opunham. Edward foi afastado do púlpito e tornou-se missionário entre os índios americanos. “No final, os favoráveis ao avivamento (revival) venceram, e a noção de 'avivamento' continua sendo um dos elementos principais da vida cristã norte-americana”.9
O Metodismo nos Estados Unidades se desenvolveu a partir da consagração de Thomas Coke e Francis Asbury por Wesley para a Igreja da América. Após a morte de Coke, Asbory, que era defensor do episcopalismo, viu metodistas primitivos e republicanos se separarem da Igreja episcopal metodista.
O segundo despertar, ocorrido entre 1787 e 1825 nos Estados Unidos, foi uma onda de avivamentos. Isto inspirou um movimento de ativismo social. A Igreja Metodistas fundou, então, diversas Universidades, como a de Boston. Em 1802 o avivamento chega a Universidade de Yale por meio de Timothy Dwight. Surge no metodismo o Movimento de Santidade e no Oeste Americano o avivamento chega aos metodistas e batistas. Estima-se que um encontro realizado em Cane Ridge tenha atraído cerca de 10 a 20 mil pessoas por um período de seis dias. 10
O terceiro despertar, ocorrido em 1858 em algumas cidades dos Estados Unidos entre os metodistas, provocou a proliferação de instituições de ensino superior. Com a guerra civil no Norte esse despertar foi interrompido, no entanto, no Sul a guerra estimulou os avivamentos.
Início do Pentecostalismo
O pentecostalismo ou renovação carismática se caracteriza pela conversão de cristãos que experimentam o batismo no Espírito Santo. Para os pentecostais isso proporciona encontro direto com Deus. O que provaria isso seria a glossolalia, o dom de falar em línguas as quais o falante desconhece. O batismo no Espírito Santo, prometido a todos os cristãos pela doutrina do evangelho pleno, prega um primeiro e um segundo batismo.
Esse fenômeno teria ocorrido primeiro a partir de 1901 numa escola bíblica em Topeka, Kansas nos Estados Unidos. Outros movimentos britânicos influenciaram a teologia carismática tais como o Movimento de Santidade. Esse movimento nascido no século XIX, “talvez tenha sido o principal precursor imediato do pentecostalismo”. 11 O pentecostalismo figura a ideia de uma segunda bênção, na qual há uma experiência de crise após a conversão. Essa ideia era de John Wesley e que John Fletcher chamou de batismo no Espírito Santo, mas que não estava associado ao dom das línguas. Edward Irving, da igreja presbiteriana de Londres, comandou em 1831 uma experiência de renovação carismática, na qual houve o fenômeno da profecia e da glossolalia. Outro movimento denominado Vida Superior de Kesvick (pequena cidade da Inglaterra), com data de 1875, ensinava “a segunda bênção do poder espiritual para cumprir as obras cristãs.” (p. 142)
O pentecostalismo americano, nascido do Movimento de Santidade, teve um grande avivamento originado em Nova York, em Nova Jérsei e Pensilvânia. Pregava-se a doutrina da segunda bênção de santidade. Esse movimento surge em 1867 em Nova Jérsei atraindo multidões na qual acampavam milhares de pessoas para a bênção. Teve crescimento nas igrejas metodistas entre 1867 a 1880 e havia a “esperança de que se pudesse reavivar a igreja cristã do mundo inteiro”.12
Até 1880 havia apoio ao movimento de santidade, mas havia diversas preocupações, entre elas a tendência separatista de radicais que perderam a esperança em mudar as igrejas, e outra tendência de radicais que pregavam a ausência de pecado, códigos para vestimentas, e uma terceira bênção baseada no batismo de fogo, a qual era seguida pela experiência de santidade.13
As primeiras igrejas pentecostais antes de 1901 foram a Igreja de Deus com Cristo (1897), a Igreja de Santidade Pentecostal (1898), a Igreja de Deus (1906) e outras denominações menores. Grande parte dos pentecostais crê que o pentecostalismo surge com Charles Parham em Topeka e/ou com o avivamento da rua Azusa, em Los Angeles, liderados por William J. Seymour. Esses fenômenos “passaram a fazer parte de uma espécie de mitologia pentecostal”. Mas isto derivou de fatos ocorridos antes do século XX, foram “muitos incidentes aparentemente isolados de pessoas falando em línguas e manifestando outros sinais físicos dos poderes do Espírito Santo – dons, sinais, e milagres – todos os quais parecem ter se juntado na rua Azusa”. 14
Os pentecostais no sentido moderno surgem na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas (EUA - 1901), a partir um pregador do movimento de santidade Charles Parham (1873-1929). Uma aluno chamada Agnes ozman recebeu o batismo no Espírito Santo e falou em línguas. Dias depois ocorreu com outros alunos da escola e até com Parham. O Pastor ensinava que “o dom das línguas era uma 'prova bíblica' do batismo no Espírito Santo e um dom sobrenatural concedido para colaborar com a evangelização do mundo”. Para isto não havia mais necessidade de se estudar línguas estrangeiras, pois por milagre os missionários seriam capazes de pregar em línguas. Muitos acreditaram que esse movimento seria o segundo pentecostes. 15
Em 1906 o pentecostalismo chamou atenção com o avivamento da rua Azusa, Los Angeles. Um pregador negro William Joseph Seymour (1870-1922) começou a realizar reuniões que culminou com três cultos por dia durante três anos, nos quais “milhares de pessoas afirmaram ter recebido o dom das línguas e o batismo no Espírito Santo”.16 Havia oposição ao racismo e ao segregacionismo da época. Nas reuniões realizadas eles dançavam, pulavam e jogavam-se no chão, “entravam em transe, 'caíam no espírito', falavam em línguas, tinham espasmos, convulsões e manifestações de histeria, emitiam ruídos estranhos e recebia a 'unção do riso'.” Considerava-se inacreditável ver um culto prestado a Deus sendo liderado por um pastor negro. A rua Azusa fundia elementos do cristianismo de santidade com tradições da cultura afro-americanas. “Os serviços tinham música negra, gritos, dança, falação em línguas, criando uma nova forma de pentecostalismo que viria a atrair muitas pessoas pobres e marginalizadas nos Estados Unidos e pelo mundo afora”.17
Surgem muitas denominações pentecostais a partir do Movimento de Santidade, entre elas a Igreja de Santidade Pentecostal, a Igreja de Santidade do Batismo de fogo e a Igreja batista do livre-arbítrio pentecostal. Chales Harrison Mason (1866-1961) leva a experiência das línguas para a Igreja de Deus com Cristo no Tennessee e cresce assustadoramente para 5 milhões de membros e mais de 15 mil templos em 1993. William H. Durham experimenta o fenômeno das línguas da rua Azusa e atrai muitas pessoas para o movimento pentecostal, no qual funda as Assembleias de Deus em 1914. Essa Igreja, com predomínio de brancos, introduz a separação racial no movimento, tornando-se a confissão a maior confissão pentecostal do mundo.18
O Pentecostalismo no Brasil
Observa-se que as denominações pentecostais clássicas que já possuem uma tradição, desde pelo menos a um século, atingiu a classe média baixa rural e urbana de diversos países. Essas denominações prezam pela autoridade da escrita bíblica e temas como a tribulação, o milenarismo e a obra do Espírito Santo.
O pentecostalismo chega ao Brasil através de dois imigrantes suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren em 1910. Esta vinda resultou na formação das Assembleias de Deus no Brasil, a qual em 1993 chega a ter 15 milhões de membros.19
Berg é considerado pastor e Vingren um evangelista. Eles foram enviados ao Brasil pela Igreja Batista de Chicago, nos Estados Unidos, através da aprovação do movimento pentecostal como um doutrina verdadeira. Ao Chegarem em Belém do Pará foram recebidos por pastores da Igreja Batista. Ao iniciarem o ensino da doutrina do pentecoste na qual Gunnar Vingren pregava o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais, houve uma divisão. Metade dos fieis aceitaram essa nova doutrina e a outra metade resolveu permanecer na doutrina tradicional. Gunnar Vingren e Berg foram expulsos junto com onze membros simpatizantes da nova doutrina.20
Vingren e Berg se dirigiram para a casa de uma simpatizante chamada Celina, sendo considerada pela Assembleia de Deus a primeira a ser Batizada no Espírito Santo. Com o avanço dos trabalhos houve a necessidade de fundar um igreja o que ocorreu em 18 de julho de 1911. Em 1924 Daniel Berg viaja para São Paulo e divulga a doutrina pentecostal. Com desenvolvimento dos trabalhos Berg se tornou o primeiro pastor da Assembleia de Deus de São Paulo. Para Pernambuco foram enviados Joel Frans Adolf Carlson e sua esposa Signe Carlson que fundaram a Assembleia de Deus em 24 de outubro de 1918. Como obra social da Assembleia de Deus em Pernambuco se destacou o orfanato Betel, na qual os fundadores da Igreja observaram muitas crianças abandonadas na cidade do Recife. 21
O Neopentecostalismo
A ação do neopentecostalismo atinge, através de seu movimento carismático, a igreja católica e as igrejas protestantes do subúrbios principalmente a partir da década de 1960. Há prevalência referente à obra do Espírito Santo num contexto diferente dos pentecostais tradicionais. Os pentecostais reforçam o batismo no Espírito Santo e os dons de falar em línguas como evidências, enquanto os neopentecostais enfatizam os sinais e maravilhas do Espírito Santo, os dons da profecia e da cura, em princípio pelas igrejas e organizações independentes originadas a partir da 1980.
O trabalho de missionários pentecostais fizeram surgir igrejas das mais diversas denominações no mundo inteiro. Esse movimento foi combatido pelas igrejas, mas houve um crescimento rápido e muitas vezes tornando-se missões independentes. Oral Roberts funda em 1951 a Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno, na qual se reaproxima do cristianismo convencional, mas passa a converter os fieis em reuniões com profissionais de sucesso e lideranças de outras igrejas. Nessas reuniões a mensagem do movimento carismático fortalecia o pentecostalismo tonando-o movimento internacional e interdenominacional.22
No início de 1960, Dennis Bennet, líder religioso da Igreja episcopal de São Marcos em Van Nuys, Califórnia, funda o movimento neopentecostal protestante. Esse movimento se espalha para muitas denominações do mundo inteiro. No ano de 1962 é organizado por Du Plessis um encontro de carismáticos rompendo com a tradição dos pentecostais. O movimento da Renovação Carismática Católica, de 1967 na Pensilvânia (EUA), surge na Universidade de DuQuesne e espalhou-se por toda a Igreja Católica. Vários carismáticos de diversas denominações passam a pregar na televisão. 23
Na Ásia o exemplo de maior difusão do pentecostalismo é a Igreja do Evangelho Pleno de Yodo, de David (Paul) Yonggi Cho, pastor das Assembleias de Deus em Seul, Coreia, que se tornou a maior congregação do mundo com meio milhão de membros. Na América Latina estima-se que entre 80 a 85 por cento em 1987 fossem protestantes pentecostais de igrejas independentes fundadas no próprio continente.24
Um movimento iniciado em 1981 por John Wimber, no Seminário Teológico de Fuller, em Los Angeles, “afirmava ter o poder de fazer milagres para promover o 'crescimento da igreja'. No contexto surgiu a 'bênção de Toronto', caracterizada por rompantes de gargalhadas irreprimíveis que no Brasil receberam o nome de 'unção do riso'.” 25
O neopentecostalismo relaciona a ideia de carisma ou dons dados pelo Espírito Santo relatados nas Cartas de Paulo. O exercício de dons do Espírito Santo proporciona ao fiel os milagres de falar em línguas e da cura, desde que ele tenha realizado o batismo no Espírito Santo a partir de sua conversão. O Carismático no sentido dado por esse movimento é aquele que se sente parte da igreja e realiza os dons cultivados.
Se faz necessário observar que este movimento se tornou um fenômeno interdenominacional, influenciando quase todos os ramos do cristianismo. Seu crescimento em ritmo explosivo chega a maioria das denominações religiosas de matriz cristã, embora havendo diferenças de doutrinas entre elas.
O Neopentecostalismo no Brasil
A partir da década de 1970, identificada como a terceira onde, ou terceira fase pentecostal, surgem o que se denomina de neopentecostalismo. Um movimento de grande projeção que além das características do pentecostalismo cultivam:
abandono (ou abrandamento) do ascetismo, valorização do pragmatismo, utilização de gestão empresarial na condução dos templos, ênfase na teologia da prosperidade, utilização da mídia para o trabalho de proselitismo em massa e de propaganda religiosa (por isso chamadas de “igrejas eletrônicas”) e centralidade da teologia da batalha espiritual contra as outras denominações religiosas, sobretudo as afro-brasileiras e o espiritismo.26

Há nesta visão uma guerra espiritual intensa contra o diabo e seus anjos seguidores, a concepção de que a prosperidade depende do afastamento de demônios e a pobreza estaria a eles associadas. Deus seria, então, um pai amoroso que proveria a saúde, a prosperidade e a riqueza, concebidas em seus sentidos físicos, espirituais e materiais.
Ainda há o uso da glossolalia, mas que perdeu campo para outras ações que são enfatizadas pelo neopentecostalismo como os dons da cura física, a libertação dos demônios e a prosperidade. Ainda que se sustente que a palavra possui um forte poder no processo mágico-religioso. Esse poder são demonstrados
nas sessões de cura, por exemplo, é comum que o pastor peça para as pessoas fecharem os olhos [7 Ou seja há nesse momento uma concentração da atenção do fiel no sentido da audição], enquanto ele faz uma oração na qual suas palavras são carregadas de ênfase. Ao final, “ordena” veementemente, “em nome de Jesus”, que os males saiam do corpo dos enfermos. É no momento dessa “ordem verbal” que Deus, acredita-se, opera a cura. As pessoas que se sentem curadas são convidadas a dar pública e oralmente um testemunho sobre a bênção recebida.27

Nas sessões de exorcismo, na qual o pastor ordena que os demônios se manifestem no corpo do fiel de onde é expulso.
Nesse momento há inclusive um ato de efervescência coletiva em que a multidão grita efusivamente: “Sai! Sai!” ou “Queima! Queima!”. O uso do verbo “queimar” remete, aliás, a um duplo simbolismo: o da “língua de fogo” do Espírito Santo e o do poder que as palavras ditas com fé têm de realizar a coisa proferida, nesse caso a destruição (queima) do demônio.28
O contexto da palavra também foca outros elementos mágico-religiosos que surgem para haver a transformação da realidade: “as palavras de fogo, línguas de anjos, ordenação de cura divina e expulsão de demônios.”29 Vagner Gonçalves da Silva destaca que há proximidade em relação à tradição das religiões Afro-brasileira, visto que a palavra nessas religiões são revestidas de valores simbólicos.30
Outra novidade deste movimento pentecostal foi a recuperar o êxtase dentro do cristianismo. Dá-se ênfase à presença do Espírito Santo de Deus na própria pele do fiel, o qual entra em transe ao receber esse espírito. Essa possessão é diferente da ação de outros espíritos que agem como encosto sobre o corpo da pessoa. Desta forma é que Edir Macedo condena as religiões que invocam espíritos, demonstrando uma visão do corpo como um santuário, que em geral é visto pelo cristianismo como morada do eu e de Deus. Destaca-se então que:
A constante tentativa do demônio de se apoderar desse corpo visa a destruir esta que é a principal obra do criador: o homem na sua dupla condição, corpo e alma. Fortalecer o Eu junto ao espírito de Deus é a única forma de vencer esse inimigo, daí a possessão do Espírito Santo ser aceita legitimamente, pois pousa no corpo da criatura o espírito do criador. 31

Por outro lado o transe pode focar uma possível entidade maligna que se apossa das pessoas para fazer o mal, o que é diferente em relação ao que ocorre com as religiões Afro-brasileiras, visto que nessas as entidades só trazem benefícios:
No neopentecostalismo, ao contrário, o transe (de uma única divindade) e o “sacrifício”
(dos demônios/exus) visam a constituir uma noção de pessoa por subtração (expulsão) permanente da presença de um sobrenatural maligno” que insiste em habitar o corpo dos fiéis. Nesse caso é o “Eu” que se diviniza ao se libertar de uma espiritualidade tida como maligna e errada em contato com um espírito não individualizado, o Espírito Santo. Por isso, o diabo (exu) quando nele se manifesta fala a língua dos homens e de sua cultura (compreensível), enquanto a pessoa está inconsciente, narrando suas façanhas malévolas. Moralmente, esse “Eu” é visto, portanto, como essencialmente bom e certo e, a princípio, não poderia ser responsabilizado pelos atos maus e errados cometidos sob a influência dessa outra “persona” que o invade. Da mesma forma, esse “Eu”, ao ser visitado pelo Espírito Santo e falar a língua dos anjos (incompreensível aos homens), não perde sua consciência, ou, se quisermos, a da trindade divina, se torna várias pessoas em uma”.32

Desta forma pode-se destacar como fontes principais de algumas igrejas neopentacostais o conjunto de entidades (denominadas espíritos) que promovem malefícios e que precisam ser combatidos. A visão apresentada é o combate do mal com o Espírito Santo de Deus nas sessões realizadas.
Mais dissociado das doutrinas e com uma adequação à economia de mercado a teologia da prosperidade se constitui do principal fator de crescimento dessas igrejas.
Outros pontos de atração do neopentecostalismo ultrapassam as questões financeiras, focalizando através de mensagens como
Pare de Sofrer, os líderes neopentecostias afirmam debelar, em nome de Jesus, quaisquer tipos de sofrimento, que vão desde a resolução de problemas com drogas, alcoolismo e violência dentro da família, passando pela cura de todo tipo de doença (física ou mental), exorcismo de opressões espirituais, encostos, até a resolução de questões tão genéricas como conflitos amorosos, mau olhado e inveja.33

Por outro lado a concepção de pós-modernidade, a qual amarga insegurança social e esvaziamento das instituições democráticas, se refletem nestas igrejas evangélicas nas quais seus fieis buscam uma identidade ao se configurarem como comunidade. “O que torna o neopentecostalismo uma ilha de comunidades pós-modernas é que, além de louvar o consumo, os modos de ser, cantar e vestir do estilo urbano secular, dando-lhe tonalidades religiosas, também cria mecanismos de defesa que contra a desagregação identitária e a atomização que essa cultura traz em seu bojo”.34 Estes elementos que tornam a sociedade desagregadora, numa desesperança em relação a uma construção identitária e coletiva a partir das instituições políticas, prolifera o medo nos espaços urbanos.
Vê-se nesse sentido que “a comunidade neopentecostal oferece a prosperidade pela barganha que o fiel pode estabelecer com a divindade, mas, como muitas instituições religiosas, cobra o preço da autonomia e da autoafirmação em troca da segurança que pretende conceder.” 35 Por outro lado ainda há os pastores que utilizam a retórica do terror da ira divina, o qual substitui o pagamento de dízimos por doações, as quais se apresentam em maior quantidade de dinheiro que se fossem pagos apenas os dízimos.
Estas diferenças, do protestantismo histórico e do protestantismo pentecostal em relação ao protestantismo neopentecostal, confirmam que aspectos dos ritos de outras manifestações religiosas utilizados. Outro aspecto é o fato de ser também a religião da mídia. Por ela o neopentecostalismo usa seu poder de marketing e as informações administrativas e econômicas necessárias para multiplicar os seus ganhos, muito além do seu discurso referente ao cristianismo.

Referências
ANDRADE, Moisés Germano de. Assim Falou Pedro Trajano: Uma história da Assembleia de Deus. Recife: Fundação Antonio dos Santos Abranches, 2010.

CARNEIRO, Henrique Figueiredo. O Neopentecostalimo e os novos discursos religiosos contemporâneos. Labore: Laboratório de Estudos Contemporâneos. Polêmica: Revista Eletrônica. UERJ, Rio de Janeiro, 2007, Disponível em: <www.polemica.uerj.br>, Acesso em 15 de maio 2014.

DOWLEY, Tim. Os cristãos: Uma história ilustrada. São Paulo: wmfmartinsfontes, 2009.

SILVA, Vagner Gonçalves da. Concepções religiosas afro-brasileiras, e neopentecostais: uma análise simbólica. REVISTA USP, São Paulo, n. 67, p. 150-175, setembro/novembro 2005.

SOUSA, Bertone de Oliveira. A importância da noção de comunidade no neopentecostalismo: um estudo sobre a Comunidade Evangélica Schalom em Imperatriz-MA. UFG, Acesso em 15 maio 2014.


1DOWLEY, Tim. Os cristãos: Uma história ilustrada. São Paulo: wmfmartinsfontes, 2009, p. 129.
2DOWLEY, op. cit., 2009, p. 129-130.
3DOWLEY, op. cit., 2009, p. 131.
4DOWLEY, op. cit., 2009, p. 132-133.
5DOWLEY, op. cit., p. 134-36.
6DOWLEY, op. cit., p. 136.
7DOWLEY, op. cit., p. 136.
8DOWLEY, op. cit. p. 137.
9DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 137.
10DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 138.
11DOWLEY, Op. Cit., 2009, p. 141.
12DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 143.
13DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 143.
14DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 143.
15DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 143.
16DOWLEU, Op. cit., 2009, p. 143.
17DOWLEY, Op. cit., 2009, P. 144.
18DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 144.
19DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 144.
20ANDRADE, Moisés Germano de. Assim Falou Pedro Trajano: Uma história da Assembleia de Deus. Recife: Fundação Antonio dos Santos Abranches, 2010.
21ANDRADE, Op. cit., 2010.
22DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 146.
23DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 146-147.
24DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 147.
25DOWLEY, Op. cit., 2009, p. 147.
26SILVA, Vagner Gonçalves da. Concepções religiosas afro-brasileiras, e neopentecostais: uma análise simbólica. REVISTA USP, São Paulo, n. 67, p. 150-175, setembro/novembro 2005, p. 152.
27SILVA, Op. cit., 2005, p. 153.
28SILVA, Op. cit., 2005, p. 153.
29SILVA, Op. cit., 2005, p. 154.
30Consultar em SILVA, 2005.
31SILVA, Op. cit., 2005, p. 155.
32SILVA, Op. cit., 2005, p. 157.
33CARNEIRO, Henrique Figueiredo. O Neopentecostalimo e os novos discursos religiosos contemporâneos. Labore, Laboratório de Estudos Contemporâneos. Polêmica: Revista Eletrônica. UERJ, Rio de Janeiro, 2014, p. 2.
34SOUSA, Bertone de Oliveira. A importância da noção de comunidade no neopentecostalismo: um estudo sobre a
Comunidade Evangélica Schalom em Imperatriz-MA
. UFG. 2014, p. 3.
35SOUSA, Op. cit. 2014, p. 15.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Curso de Inglês

Grátis e pela internet e ainda com muita qualidade, o curso promovido pela UNIVESP fornece a qualidade da contextualidade dos cursos da BBC de Londres e com explicações em português pela professora Marisa Leite de Barros. Veja a primeira das 60 aulas:
http://univesptv.cmais.com.br/follow-me-1/verbo-to-be

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Formação continuada-maio/2014

Confirmamos a data e o local da Formação continuada do Ensino Religioso de Roraima. Será realizada no dia 05 de junho de 2014 e o Local será a Escola Oswaldo Cruz.
Horários: matutino ou vespertino