Divulgo o II Seminário de Linguagens, promovido pelo CEFORR:
Este Blog proporciona subsídios para os professores do Ensino Religioso de Roraima
terça-feira, 13 de maio de 2014
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Atlântico Negro
O filme Atlântico Negro: na rota dos orixás, apresentado no II Fórum Interreligioso de Roraima encontra-se disponível na internet. O filme está dividido em dez partes:
http://www.youtube.com/watch?v=4MCmkQEhPV0&list=PL0A0AFB4101CE83A5
http://www.youtube.com/watch?v=4MCmkQEhPV0&list=PL0A0AFB4101CE83A5
sábado, 10 de maio de 2014
II Fórum interreligioso
Disponibilizo o material da professora Cristina, sobre Religiões afro-brasileiras, apresentado no II Fórum interreligioso de Roraima no dia 08/05/2014:
Religiões afro em Roraima
Religiões afro em Roraima
Narradores de Javé
Se você quiser assistir o filme Narradores de jave, pode acessar o link abaixo que abrirá uma janela com a apresentação do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=Trm-CyihYs8
http://www.youtube.com/watch?v=Trm-CyihYs8
Programa dos Mapas Conceituais
Disponibilizo endereço para baixar o CMAPTOOLS, programa para construir os mapas conceituais. É só colocar um email e em organização pode colocar o nome da escola:
http://cmap.ihmc.us/download/
http://cmap.ihmc.us/download/
Mapas Conceituais - Vespertino
Disponibilizo um conjunto de mapas conceituais elaborados pelos
professores do Ensino Religioso na Formação do dia 08 de maio de 2014 do
turno Vespertino:
Mapas conceituais - Matutino
Disponibilizo um conjunto de mapas conceituais elaborados pelos professores do Ensino Religioso na Formação do dia 08 de maio de 2014 do turno Matutino:
Mapas Conceituais - Ditado - Provérbio
Disponibilizo o mapa conceitual sobre Ditado apresentado na Formação Continuada do dia 08 de maio de 2014:
Narrativas Sagradas
Aspectos
sócio-histórico-antropológicos dos textos e mitos sagrados
Me.
Manoel Rabelo
Reflexões
sobre os textos Sagrados
Quem foram os escritores e
leitores da Bíblia?
Longe
de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros dos
servos de antigamente mas agora trabalhando no solo da linguagem,
cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são
viajantes; circulam nas terras alheias, nômades caçando por conta
própria através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens
do Egito para usufruí-los”. A escrita acumula, estoca, resiste ao
tempo pelo estabelecimento de um lugar e multiplica sua produção
pelo expansionismo da reprodução. A leitura não tem garantia
contra o desgaste do tempo (a gente se esquece e esquece), ela não
conserva ou conserva mal a sua posse e cada um dos lugares por onde
ela passa é repetição do paraíso perdido” (SILVA, 2010, 427).
Quanto à escrita dos texto
devemos considerar que não somente o que está escrito é o texto,
existe o leitor como força vital, sua interpretação como produção
de sentido e uma rede de significados.
Podemos afirmar que o texto
possui as seguintes passos na sua confecção:
- Produção,
- leitura,
- recepção e,
- criação de um novo texto.
A história é texto e discurso,
seja escrito, iconográfico, gestual, etc. O fundamental será a
decifração do discurso. Assim é que podemos repensar as relação
entre oralidade, escrita, linguagem e história, memória,
esquecimento e tradição, trazendo-os para o campo da exegese e da
hermenêutica.
O texto, oral ou escrito é fruto
da cultura e da memória histórica e coletiva. O ato de contar e
escrever visa a manutenção viva da memória dos fatos e
acontecimentos. A oralidade vivifica a cultura e é parte estrutural
da sociedade e a memória é a maneira criativa de reproduzir e
conservar a cultura e a tradição. A oralidade está presente em
todas as culturas, sejam as letradas ou não. Há um
processo
dinâmico que vai da tradição oral para a memória ou panfleto, da
memória para o escrito e deste para a transmissão e releitura, é
marcado por constantes mudanças e ampliações. A memória e o texto
escrito amplificam a tradição oral, pois nas nossas lembranças se
processa a construção de um saber que chega até nós como
fragmentos de um conhecimento, que, na sua origem, diz, analisa e
interpreta uma dada conjuntura e, que ao serem lembrados, são
reinterpretados à luz de novos pontos de vista (SILVA, 396-97 2010).
A memória é mais reconstrução
criativa do que simples recordação de fatos: “A memória é a
construção coletiva sobre o passado a partir das condições
sociais, que o grupo vivencia no presente” (SILVA, 2010, p. 429). A
lembrança desafia a se colocar desde o ponto de vista do outro.
O que há no Gênesis
Nos primeiros 11 capítulos não
há povo escolhido, mas uma referência aos povos da terra como povos
de Deus. Todos estão envolvidos na aliança com sua criação e com
a humanidade. Essa aliança, com todos os seres vivos (Gn 9,16), é
renovada após o dilúvio. Mais tarde se fala na família de Abraão
como “bênção para todas as famílias da terra (Gn 12,3).
Nesses 11 capítulos se mantém
atual, pois todos são povos de Deus, vivem na terra, jardim de Deus
e formam única família humana. São muitas famílias com suas
religiões, tradições e culturas. As religiões são a memória de
Deus entre os povos.
Um exemplo do Novo Testamento
No Novo Testamento o Evangelho de
Mateus pode ser assim interpretado: Trata-se da revelação de Deus
em Jesus de Nazaré e seus discípulos. Para facilitar usa-se aqui o
seguinte roteiro: “Quem
escreve? Quando? Onde? Para quem escreve? Com que finalidade escreve?
Conteúdo do texto”
(CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 5-6).
MATEUS (p. 7-13)
Temáticas: Jesus é perseguido
por Herodes; é rejeitado pelos que esperavam um messias
nacionalista; formação de um novo povo de Deus, seguidores de
Jesus; Igreja como portadora dos ensinamentos da mensagem a toda a
humanidade (CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 7).
Quem é
Mateus? Um dos doze apóstolos, coletor de impostos ou publicano (Mt
9,9-13; 10,3). Desde o século II que Mateus é atribuído a um dos
Evangelhos. Ele conhecia as Escrituras, as pregações cristãs e
era um judeu culto.
Quando e onde?
O Evangelho foi escrito entre 80 e 90 d.C. Sua redação pode ter
sido na Síria, em Antioquia.
Para quem escreve?
Aos cristãos advindos do judaísmo, provavelmente no norte da
Galileia e Síria.
Com que finalidade escreve?
Animar as comunidades na continuidade da missão do Povo de Deus,
isto é, proclamar a Boa-Nova do Reino ao mundo inteiro. Realizar a
promessa feita a Abraão - “Em ti serão abençoadas todas as
famílias da terra” (Gn 12,3) – retomada por Jesus de Nazaré e
dada como missão à Igreja.
Conteúdo do texto.
Um texto organizado:
A primeira e a segunda partes
possuem cinco livrinhos. Cada um possui uma narrativa e um sermão.
Esta organização pode ser para lembrar os cinco rolos da Lei de
Moisés. “Seguir jesus é a melhor maneira de viver segundo a
vontade expressa na Lei, pois ele ensina a compreensão plena da Lei
(Mt 5, 17-20)” (CORREIA JUNIOR; FERNANDES, 2011, p. 9).
Prólogo (1-2): Jesus como
Messias: filho de Abraão, de Davi e de Deus; a fuga para o Egito.
Primeira parte (3,1-13,52):
- 1º livrinho (3-7): A justiça do reino.
- Narrativa: batismo de Jesus por João; Anúncio do Reino de Deus aos Galileus.
- Sermão da Montanha: Interpretação da Lei de Moisés à luz do reino e sua transformação.
- 2º livrinho: A dinâmica do reino (8-10):
- Narrativa (8,1-9,34): Jesus anuncia o Reino dos Céus pelas curas e o perdão dos pecados.
- Sermão da Missão (9,35-10,42): clima de gratuidade, pobreza e confiança para a libertação dos males.
Dos mitos e sobre o seu
significado
Há muitos conceitos de mitos.
Trabalharemos com a definição de Mircea Eliade o qual indica que o
mito conta uma história sagrada que aconteceu no tempo primordial, o
tempo do princípio, fabuloso.
O
mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma
realidade passou a existir, seja como realidade total, o Cosmo, ou
apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento
humano, uma instituição. É sempre portanto, uma narrativa de uma
“criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou
a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se
manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são os Entes
Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo sobre o que fizeram no
tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam, portanto,
sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a
“sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem
as diversas, e algumas vezes dramática, irrupções do sagrado que
realmente fundamenta o Mundo e o converte dos Entes Sobrenaturais que
o homem é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural (ELIADE,
2004, p. 11).
Sendo assim podemos afirmar que
em muitas narrativas bíblicas foram retirados de mitos desenvolvidos
na época em que escritos a primeira vez.
As religiões indígenas são
pautadas nos mitos, pois seus ritos estão vinculados a eles e à
vida prática. Os mitos são transmitidos de forma não escrita, pela
oralidade e são conservados vinculados à sua cultura. Nos mitos
estão configuradas as mensagens culturais pelas quais todos os
integrantes da tribo devem agir. Existem neles os elementos morais
das relações entre o homem e a natureza, entre os indivíduos e
entre os indivíduos e os espíritos. Existem neles as narrativas do
surgimento do universo, das plantas, do homem e da mulher. Cada mito
pode conter um conhecimento que é narrado para informar como se deve
agir na sua cultura e nas suas formas de se relacionar
com os seres sobrenaturais. Um mito Macuxi da origem dos timbós diz
assim:
Um
homem andava com uma anta, Perambulava por esta região através das
montanhas. A anta chegou à sua casa. O homem a deixou no mato e
regressou para casa. Vários homens foram para matar a anta, guiados
pela informação que dela tiveram. Eles de fato a mataram e foi pela
cabeça. O marido da anta tirou o filho que estava no ventre dela.
Lavou-o no igarapé. Com isso fez que os peixes entontecessem. Como
cresceram os filha da gente do lugar, cresceu também o filho do
homem, marido da anta. Um dia o pessoa avistou muitos peixes. Então
levaram aquele menino, filho da anta, para atordoar peixes. Em tal
ocasião, o menino ficou gravemente ferido, a ponto de perecer. É
que um peixe enorme o tinha flechado, razão por que morreu. Então
eles levaram o menino morto. O corpo dele se transformou em várias
qualidades de timbós. Suas orelhas viraram timbó de nome makuxi yai
yare.
Seus olhos tornaram-se carauatê.
Transformaram-se nisso. Suas veias ficaram sendo aya,
o timbó principal. O pus dele virou timbó maniva, kanpuru
ou kanapuru
virgem. Ele plantou serventia futura dos índios. (MEYER, 2011, p.
63-64).
Este mito pode explicar diversos
comportamentos dos Macuxi. Entre eles o fato de uma mulher menstruada
ou alguém ferido não pode entrar na água. Esta ação pode
enfurecer o dono do rio (Espírito que cuida do rio). O fato de não
se poder entrar no rio sangrando é porque o sangue é considerado
impuro e não a mulher. O homem ferido não pode entrar na água pois
o sangue dele é impuro para a água e o dono do rio não gosta. No
mito existe os resquícios desse tipo de comportamento e
possivelmente expondo motivo pelo qual eles agem desta forma.
O ocorre com o comportamento dos
Macuxi pode fornecer informações acerca de sua manifestação
religiosa.
Os “Espíritos” (podendo ser denominados como “bichos” ou
“dono”) possuem o poder sobre a natureza. São como espécies de
deuses que cuidam e fazem as coisas existir. Sentem raiva quando se
sentem ameaçados pelos homens. Estas ameaças pode aparecer em forma
de destruição ou de feitiços espirituais lançados pelos homens.
Pode-se
ainda retirar desse mito diversas inferências sobre o modo de vida
dos Macuxi. Uma pessoa ferida que toma banho no rio corre risco de
morte, etc.
O
contexto cultural e religioso dos Macuxi
Os
índios Macuxi, originários da região do rio Branco, atual Estado
de Roraima, são de origem linguística Caribe, tiveram as terras
ocupadas por ingleses, holandeses e espanhóis vindos do norte.
Lembrando que os Macuxi são apenas uma das muitas etnias que vivem
na região – Taurepang, Ingaricó, Wapixana, Sapará – hoje
denominada de Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Do lado brasileiro
os Macuxi estão no estado de Roraima e estão mais concentrados no
Nordeste do estado. Seu idioma é o Macuxi do qual grande parte deles
são falantes. Eles tiveram seus contatos com o mundo do homem branco
ao Norte através dos ingleses e espanhóis no século XVIII, e
talvez um pouco antes disso com os holandeses e ao sul com os
portugueses a partir do séc. XVII, de forma esporádica e em 1830
com o estabelecimento da fazenda Boa Vista no rio Branco.
O
contexto da convivência com os Macuxi, notadamente com a permanência
dos portugueses no século XVIII, foi traçada por dificuldades da
colônia do Maranhão e Grão-Pará e justificou a escravização
desse e de outros povos da região amazônica. Havia, no entanto,
dificuldades para a manutenção escravocrata, pois o estado
português, com sua campanha civilizatória, tinha os planos de um
projeto político que apoiava a evangelização e a redução em
aldeamentos (FARAGE, 1991). Com estes planos, as religiões indígenas
da região eram relegadas a meras manifestações que deveriam ser
alteradas com o tempo por um processo de imposição da Cristandade
Ocidental.
Do
final do século XIX à metade do século XX, os colonos da região
do rio Branco, mudam de ideia em relação à implantação de uma
economia agrícola e aumentam o número de fazendas, no que chamavam
de terra de ninguém. Além do uso da mão-de-obra barata havia a
ocupação progressiva da terra indígena. O gado passa a substituir
as moradias dos índios que, de boa índole cedia as terras sem
perceberem as dificuldades enfrentadas. “O branco vai entulhando de
gado o terreiro do índio. A roça deste último, onde vicejam o
milho e a mandioca, vai sendo devastada.” (AMÓDIO, 1990, p. 8).
As
conquistas físicas e culturais das invasões das terras indígenas
de Roraima, fizeram os povos conquistados a abandonar parte suas
tradições. Os brancos por outro lado imaginam ser de cultura
superior, fato que “progressivamente, as culturas indígenas são
descaracterizadas, investindo nesta transformação todos os níveis
da vida social: economia, estrutura social etc.” (Ibid., 1990, p.
24).
O
fenômeno religioso configurado como religiosidades Macuxi
constitui-se de um conjunto de manifestações religiosas associadas
à cultura desta tribo. Vê-se em algumas manifestações denominadas
culturais, em sentido folclórico, vários aspectos que pode ser
caracterizado como religiosos, visto que estão sempre associados aos
espíritos, seres mitológicos, Kanaimés e bichos1.
Torna-se
difícil perceber onde estão as diferenças entre a manifestação
religiosa e a manifestação cultural entre os Macuxi, visto aquilo
que se manifesta em forma de rito, em geral, referenciam a algo de
sobre-humano. Ambas estão imbricadas, muito intimamente associadas.
A separação destes dois aspectos são impossíveis e categorizá-los
separados dificulta e na maioria das vezes mutila o sistema
cultural-religioso presentes tanto entre os Macuxi como os povos
vizinhos. Verifica-se esta proximidade em muitas manifestações
ditas culturais e que com frequência estão associados a elementos
espirituais: “A crença da panela de barro na cultura macuxi sempre
foi passada de pai para filho sempre sendo uma forma de educação e
que esses conhecimentos ainda [são] seguido[s], não como era
antes.” (MARQUES, 2012a). O elemento configurado como herança
cultural, “de pai para filho”, representa a afirmação de que
este “conhecimento” dado por eles passaram por gerações e que
são considerados verdadeiros. Foram as antigas gerações que
informaram tal sabedoria, o que representa, neste sentido, que tanto
a cultura quanto o fenômeno religioso dos Macuxi obedecem à uma
ancestralidade e à consanguinidade, no sentido até se reconhecer a
sua identidade como povo. Em continuação ao texto de Elder Marques
(2012a) há um relato de como se faz para fazer a panela de barro e
que aspectos são exigidos para sua elaboração:
Segundo
[o] senhor Aurino de 54 anos, falante da língua macuxi, do povo
macuxi, para se fazer a panela de barro exige habilidade e
conhecimento tradicional porque tem que pedir permissão do dono da
terra. A pessoa tem que ter corpo aberto, corpo curado. Além de
seguir uma norma existente na cultura. A pessoa que tem filho novo
nem inventa de tirar o barro da terra, nem fazer a panela porque a
criança fica tufada e começa a se torcer, sua frio e chora muito,
custa andar, por isso faz mal para criança, e para curar isso só
com a presença benzedor ou um pajé. Eu sempre falo isso aqui porque
eu já vi acontecer quando morava na Mirandinha.2 (MARQUES, 2012).
O
dono da terra é interpretado como o espírito guardião que a
protege a terra e que está contido nela. A própria terra representa
este espírito e ela é o espírito. A vida da terra é a vida desse
espírito. Esta permissão a ser pedida ao dono da terra exige uma
espécie de purificação, ter o corpo aberto e curado, e em algumas
condições não são permitidas, como ao pai de filho novo, afim de
não passar doenças para a criança. Observa-se que uma simples
elaboração de uma panela de barro é constituída de diversas
normas que devem ser seguidas para que tudo corra bem. De um lado a
permissão dada pelo espírito da natureza (terra) e de outro as
condições daquele que tira o barro que não pode estar com o “corpo
aberto” e nem ter filho novo. Existem diversas interpretações que
constituem os elementos religiosos que implicam em mudanças na vida
da aldeia e da natureza, existem as regras que não podem ser
quebradas. Acontecendo isto as doenças e outros males possíveis
podem acontecer, dependendo da gravidade da quebra das regras.
Exige-se a presença do rezador para curar a pessoa que desobedeceu o
interdito.
Em
condições bem semelhantes, os Macuxi da Aldeia Canta Galo, afirmam
que quando a mulher está menstruada fica impedida de tomar banhos
nos rios, riachos e igarapés. O dono da água deve ser respeitado,
visto que o sangue é considerado impuro. Deve-se salientar que esta
impureza não é da mulher, mas do sangue. Em condições normais não
há impedimento para se tomar o banho em rios. Se acontecer de esses
interditos serem contrariados, exige-se a presença do benzedor
(rezador) ou do pajé para sua cura.
Quando
se vê Macuxi com vestimenta de palha, um cocar na cabeça, arco e
flecha na mão, uma pintura triangular ou outras formas vermelhas
(feitas com urucum), preta ou azul (feitas do jenipapo), algo vai
acontecer. Pode significar motivo de muita alegria nas comemorações
pelo aniversário, fartura, casa nova. Pode ser o ritual do
Parichara, uma festa típica da grande colheita, ou ainda algum outro
tipo de manifestação política. (MAKUXI, 2012b). O Parichara é uma
ritual de agradecimento pela fartura da roça, feito com danças e
cantos tradicionais. Nestas manifestações acredita-se que há
puramente uma manifestação cultural dos Macuxi. No entanto a forma
como é feito o ritual e em relação ao objetivo a quem é dirigido,
certamente existem elementos que podem ser justificados pelas crenças
religiosas aos quais os Macuxi estão envolvidos. Basta perguntar a
quem é dirigido esse agradecimento, entre as repostas podem surgir
Deus, Makunaimî, os espíritos. O foco principal da festa do
Parichara pode ser religioso, visto que, ao que tudo indica, os
elementos religiosos estão presentes.
As
características identitárias dos Macuxi são representadas por suas
manifestações culturais. Tais manifestações; constituídas pelas
comidas e bebidas, costumes, danças, cantos, língua, mitos, formas
de produzir e caçar os alimentos, a produção artística; resvalam
em suas manifestações religiosas. O fato de se usar a pimenta na
damorida, que é um moqueado de carne ou peixe com pimentas bem
ardosas, pode ser respondida por um outro costume: na passagem de
jovem para adulto, quando o menino Macuxi está muito preguiçoso, os
pais passam pimenta no ânus dele, de manhã cedo. Eles dizem que o
menino corre para tomar banho no riacho e fica mais esperto para a
caça e a pesca. Então pode-se sugerir que para o Macuxi a pimenta é
tanto o alimento com poderes de força para suportar a vida, no
sentido de ser o alimento mais forte do dia e pode ser servido no
almoço, quanto uma espécie de remédio para curar e o menino se
tornar um bom caçador e pescador e trabalhar na roça. Esse dois
exemplos de manifestações, envolvendo a culinária e um rito,
possivelmente de passagem, coloca poderes na pimenta que não há em
outros alimentos, somente nela. O poder alimentar da pimenta para
ficar forte e não morrer magro, que no entender do Macuxi de Canta
Galo é fruto de feitiço, e o poder despertar o jovem, torná-lo
adulto, na perspectiva de buscar os alimentos para si e sua família.
Importante agora é saber quem promove este poder, é somente o
alimento? São questões em aberto que necessitam maiores
esclarecimento através de pesquisa.
As
bebidas como o caxiri, o aluá, o pajuaru e o mocororó e outros
sucos de frutas são bebidos em diversas festas. Em cada época
existe alguns tipos de alimentos que estão mais presentes na
natureza. No caso do caxiri e do pajuaru são bebidas feitas com
mandioca vinda da agricultura. Elas são usadas nas festas de
Parichara, as quais se acompanham com as danças tradicionais para
agradecer a boa colheita. O caxiri é cozido e não possui teor
alcoólico, mas o pajuaru é fermentado e possui teor alcoólico.
Tanto a dança quanto o uso das bebidas exige um ritual e em cada
ritual possuem suas significações espirituais.
O
Aleluia é uma manifestação de cunho cristão sincretizados com
partes da pajelança. Ela surgiu entre os Macuxi e teve maior
desenvolvimento como uma religião entre os Ingaricó e os Taurepang.
Para grande parte dos Macuxi é considerada uma dança, como eram
cultivas na Aldeia de Canta Galo, na década de 1990. Esta
manifestação religiosa desenvolveu-se a partir da cosmologia dos
Ingaricó junto a elementos que se configuram como transcendentes
para a solução da mortalidade dos humanos. (Cf. ABREU, 1995). No
Aleluia se fazem os pedidos e agradecimentos aos diversos “donos”
da natureza, ainda que também um profundo respeito ao Banco (é a
figura Jesus cristo para o Cristianismo).
O
idioma Macuxi é considerado fonte de poderes que, quando se rezar
nesta língua, obtêm-se mais saúde, mais proteção e melhores
benefícios para a comunidade. Os Macuxi entendem que as rezas
realizadas em português perdem a força da eficácia, tornam-se,
portanto, meras palavras sem o alcance necessário para a saúde do
doente ou da solução dos problemas da comunidade. Além dele ser o
transmissor da herança cultural da tradição, tem significado mais
expressivo e se constitui de uma força transcendente realizadora que
possibilita maiores bonanças.
Os
mitos, na cultura Macuxi, possuem a função justificadora do modo de
vida das comunidade indígenas. Eles se constituem de um processo
interpretativo da vida social desse povo, sejam do ponto de vista
moral, social e religioso. Neles estão muitas respostas dos
comportamentos sociais e podem refletir o contexto e a realidade
vivida do povo.
A
agricultura; especialmente pela produção da mandioca, da macaxeira
e da batata; serve para o consumo interno. Da mandioca faz-se a
farinha, o beiju e a tapioca, produtos essenciais na culinária dos
Macuxi. Para relacionar a questão da produção agrícola para fins
espirituais e religiosos, volta-se à fonte primeira de onde vem
esses produtos, a terra, que em geral é configurada como a mãe
espiritual dos Macuxi. Ela é representada como a produtora da vida,
através da agricultura e da espiritualidade.
A
produção artística de diversos tipos de cestos que servem como
recipientes, tipitis, jamaxins, diversos tipos de peneiras para
peneirar goma (fécula da mandioca) e a massa da mandioca para fazer
a farinha. Esses produtos são elaborados com palhas de buriti, uma
palmeira que produz um fruto comestível, que possui folhas para
várias utilidades, inclusive para cobrir as casas, e ainda com
Jacitara, um fio de uma palmeira que é retirado com o miolo da
planta. Com possibilidade remota, mas acredita-se ser possível um
encaminhamento da produção artística e sua articulação com a
espiritualidade. As artes produzidas pelos Macuxi são feitas e
ensinadas pelos mais velhos. Sempre que existe algo na tradição
tanto para a produção quanto para o ensino dos mais novos, o que
eles chamam de antigos, fazendo referência às pessoas mais velhas e
à tradição dos antepassados. Durante a produção artística há
um poder de concentração muito grande. Em muitas aldeias Macuxi a
tradição da produção destas artes são pré-requisitos para obter
um bom casamento. Percebe-se que ao produzirem as artes, observando
um Macuxi, ficam extasiados, absolutamente concentrados como se
tivessem em transe durante essa elaboração.
Assim
como aconteciam nas danças, no passado, em referência à diversas
formas de pedidos aos espíritos, aconteciam na caça, quando se
pediam e ainda pedem licença ao espírito – às vezes denominado o
dono – da caça para se tornar bom caçador. Há alguns interditos
na cultura Macuxi que protege o meio ambiente. Em épocas bem
determinadas não se pode pescar ou caçar. Observa-se que essas
atitudes culturais ajudam a proteger a fauna. Existem os pedidos dos
rezadores (Tarenpokon) ao suplicarem permissão para comer a carne de
jacaré em épocas não permitidas, somente nos casos em que essa
carne seja indispensável para alimentar a família.
O
caso dos mitos é o que possui uma configuração religiosa ainda
maior no que se refere às explicações da vida dos Macuxi. Neles
estão explicadas a origem do povo Macuxi, das plantas, das serras,
da luta entre irmãos, dos animais.
Referências:
ABREU,
Stela Azevedo de. Aleluia:
o banco de luz. Campinas: SP, 1995. Dissertação (Mestrado),
Curso
de Mestrado do Departamento de Antropologia, Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas,
Universidade
Estadual de Campinas, 1995.
CARVALHO,
Elaine Terezinho Alves de Miranda. “Paraíso
Terrestre” ou “Terra sem Mau”?,
São Bernardo do Campo: SP, 2006. Dissertação (Mestrado), Programa
de Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista
de São Paulo, 2006.
CORREIA
JUNIOR, João Luiz. FERNANDES, José Flávio de Castro. Boa
Nova de Jesus:
Introdução didática aos livros do Novo Testamento. São Paulo:
Paulinas, 2011.
COSTA,
Eber Borges da. Tapeporã
– caminho bom:
Análise da prática missionária de Scilla Franco entre os índios
Kaiowá e Terena no Mato Grosso do Sul – 1972 a 1979. São Bernardo
do Campo: SP, 2011. Dissertação (Mestrado), Faculdade de
Humanidades de Direito, Pós-graduação em Ciências da Religião,
Universidade Metodista de São Paulo, 2011.
ELIADE,
Mircea, Mito
e realidade.
São Paulo: Perspectiva, 2004.
MEYER,
Dom Alcuíno. MACDOWNELL, Ronaldo (Org.). Mitos
do povo macuxi registrados pelo monge beneditino Dom Alcuíno Meyer,
O.S.B. entre 1926 e 1948.
Brasília: Diocese de Roraima, 2011.
RABELO
FILHO, Manoel Gomes. Representação
social do Kanaimî, do Pia'san, do Tarenpokon nas Malocas Canta Galo
e Maturuca.
Recife: PE, 2012. Dissertação (Mestrado), Mestrado em Ciências da
Religião, Universidade Católica de Pernambuco, 2012.
REZENDE
JUNIOR, João Pires de. Discursos
de Pertencimento: do infanticídio indígena aos caminhos da
identidade.
São Paulo: SP, 2010. Dissertação (Mestrado), Programa de
Pós-graduação em Ciências da Religião, Universidade
Presbiteriana Mackenzie, 2010.
RIBEIRO,
Ezilene Nogueira. Euroco
Alfredo Nelson (1862-1939) e a inserção dos batistas no Belém do
Pará,
São Bernardo do Campo: SP, 2011. Dissertação (Mestrado), Faculdade
de Humanidades de Direito, Pós-graduação em Ciências da Religião,
Universidade Metodista de São Paulo, 2011.
RODRIGUEIRO,
Jane. Tensão
e redução na várzea:
as relações de contato entre os Cocama e jesuítas na Amazônia do
século XVII, 1644-1680. São Paulo, 2007. Dissertação (Mestrado),
Mestrado em Ciências da Religião, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, 2007.
SILVA,
Almir Batista da. Religiosidade
potiguara:
tradição e ressignificação de rituais na aldeia São Francisco.
Baia da Traição – PB. João Pessoa: PB, 2011. Dissertação
(Mestrado), Centro de Educação – CE, Programa de Pós-graduação
em Ciências das Religiões, Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa 2011.
VALDIVIA,
Karen Alejandra Arriagada. Sahagún
e as festas agrícola mexica:
em buca de um sentido. São Paulo: SP, 2008. Dissertação
(Mestrado), Mestrado em Ciências da Religião, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
VIRAÇÃO,
Francisca Jaqueline de Souza. Igreja Reformada Potiguara (1625-1692):
A primeira igreja protestante do Brasil. São Paulo: SP, 2012.
Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Ciências
da Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo: 2012.
Site:
MAKUXI,
Alex. Índio Educa. Cultura. Quando nos pintamos. Disponível em:
<http://www.indioeduca.org/?p=1782>, Acesso em 11out. 2012.
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