GOVERNO DE RORAIMA
SECRETARIA DE ESTADO
DA EDUCAÇÃO E DESPORTOS
Coordenação do
Ensino Religioso de Roraima
FORMAÇÃO
CONTINUADA - ENSINO RELIGIOSO-2013
EIXO
TEMÁTICO:
5.
TEOLOGIA
Textos baseados nos
eixos temáticos do Referencial Curricular para o Ensino Religioso de
Roraima
Prof. Esp. Francisco Ribeiro da
Silva
Prof. Me. Manoel Gomes Rabelo Filho
JULHO/2013
EIXO 5:
Teologia
O
Conhecimento Teológico
Há
diferentes caminhos pelos quais os homens buscam apropriar-se do
conhecimento. Esses caminhos são propostos pelas ciências e suas
formas de conhecimento, partindo de um objeto específico de
investigação. Assim, o ser humano pode ser objeto de investigação
da sociologia, da filosofia, da história, da geografia, cada área
abrangendo um determinado aspecto desse mesmo objeto, cujo
conhecimento resultante das partes pode interagir, formando uma ideia
mais complexa do objeto em questão.
O
Conhecimento teológico situa-se nessa esfera, sendo, porém, de uma
outra natureza, uma vez que a verdade pode ser encontrada tanto pelo
caminho da investigação como pelo da revelação, sendo esse o
campo da teologia.
O
conhecimento teológico na tradição judaico-cristã baseia-se
exatamente na fé: Deus falou aos humanos por meio de intermediários
que transmitiram Sua mensagem. Podemos afirmar que a teologia é uma
reflexão racional e sistemática que, porém, parte dos dados da fé,
por isso, pressupõe a fé.
A
revelação pode ter um fundamento histórico: por exemplo, no
judaísmo e no cristianismo parte-se da existência histórica de
Moisés, do povo de Israel, de Jesus Cristo, dos apóstolos. A
aceitação dos dados históricos não pertence à fé. Esta se
realiza na aceitação da mensagem que Moisés, os profetas, Jesus
Cristo, os apóstolos afirmaram ter recebido de Deus para comunicá-la
aos homens. Assim, por exemplo, a afirmação cristã segundo a qual
“Jesus Cristo morreu na cruz para a salvação dos homens” contém
um dado histórico e um dado de fé. Historicamente, existem as
provas para afirmar que Jesus morreu crucificado; mas só a fé nele
pode afirmar que essa morte é o ato de salvação dos homens. O dado
de fé é uma revelação e não pode ser descoberto nem pela
ciência, nem pela filosofia, nem pelo conhecimento popular; tem
valor só para aquele que realiza a experiência da fé.
Mesmo
assim o crente procura entender a sua fé, encontrar motivos de
credibilidade. Irá, pois, sistematizar os seus dados de fé e
procurar integrá-los em toda a sua experiência humana. Por exemplo,
poderá perceber que o anúncio de fé a respeito da vida eterna, da
ressurreição final, é uma resposta ao anseio de felicidade
presente no homem; ou que todo o estilo de vida de Jesus de Nazaré é
uma boa premissa para acreditar nele; ou que, antes de acreditar em
Cristo, existem todas as provas históricas a respeito de sua vida.
O
mesmo ser humano pode abrir-se e encontrar a verdade, recebendo
“dados” de diferentes níveis: popular, científico, filosófico
e teológico. Esses dados devem ser confrontados e sistematizados,
procurando superar eventuais contradições aparentes. De fato, se a
verdade é uma só, não pode haver contradição entre os vários
níveis de conhecimento. Mas isso nem sempre acontece sem tensões. O
caso Galileu é um exemplo histórico muito eloquente de como o
nascimento da ciência moderna provocou uma crise com a visão de fé
então existente. Felizmente, hoje há um clima de maior diálogo e
compreensão entre cientistas e teólogos.
Também
o conhecimento teológico tem uma “veste” científica, no sentido
de que é racional, metódico e sistemático (pense-se, por exemplo,
na sistematização das disciplinas teológicas: dogmática, moral,
ciência bíblica, história eclesiástica, direito canônico etc.)
mas tudo isso sempre a partir da experiência da fé. Então, o
objeto do conhecimento teológico são os dados da fé; e o método é
a procura da integração entre a fé e a razão. 1
Em
religiões com diversidades étnico-culturais, como as
especificidades dos grupos existentes no Brasil – Os indígenas, os
descendentes dos povos africanos, os imigrantes europeus –
apresentam “diferentes cosmologias, organização social, relação
com a natureza, vivência religiosa, valores éticos e projetos de
vida” que são próprios. 2
Verifica-se que nessas manifestações religiosas constituem suas
teologias com suas diferentes línguas e fontes culturais. Algumas
delas não constituem um texto específico, nem uma teologia
elaborada que possa constituir uma instituição com dogmas e
pensamentos teológicos definidos. Outras possuem teologias com
cursos específicos que apresentam sua fé baseados em alguns grupos
representantes destas manifestações.
Importante
recordar que esses grupos sociais que apresentam diversidade
“apresentam traços culturais oriundos das relações desiguais de
poder, tecidas sob forma de exploração e discriminação”. 3
Esta exclusão sofrida pela diversidade de povos são muitas vezes
enfrentadas por alguns mitos como os da igualdade cultural
brasileira, que causam confusões quando se trata de definir “raça”
e “etnia”, indicando que no Brasil há uma identidade nacional
estabelecida por três matrizes diferentes – o índio, o negro e o
europeu – que apresentam uma homogeneidade. Nesta visão houve uma
fusão para demonstrar uma identidade do povo brasileiro. E porque
não dizer que o Brasil é constituído da diversidade de índios,
negros e europeus, que também não constituem uma unidade nem racial
nem étnica. Há neste discurso a imagem de um Brasil homogêneo,
“sem diferenças, camuflando preconceitos e discriminações, por
outro lado, os diferentes grupos étnicos e culturais, articulados em
movimentos sociais”. 4
Estas características históricas do processo de exclusão social
são discutidas inúmeras vezes na elaboração de teologias
centradas no respeito à diversidade cultural e religiosa.
Ainda permanecem muitas atitudes discriminatórias em relação às
manifestações religiosas diferentes das religiões cristãs no
Brasil, visto que a presença das religiões africanas é fonte do
tráfico de africanos que foram submetidos à escravidão desde o
século XVI. 5
No
Budismo são apresentados treinamentos graduais pela qual Buda
apresenta o caminho para se chegar à pureza e à perfeição. Buda é
o responsável por abrir as portas da não-morte, “a senda que leva
do sofrimento dos repetidos nascimentos à outra margem do Nirvana
[…] onde todo renascimento e a morte cessa”. 6
Este pressuposto do Budismo indica em suas formas de pensar uma
estrutura, tanto da religião quanto de sua filosofia. A libertação
do mundo do sofrimento pretendida pelo Nirvana é uma espécie de
extinção existencial, mas o interesse popular indica o caminho de
se buscar um renascimento mais feliz. No âmbito institucional é
possível afirmar que a religião possui uma doutrina exigente, sendo
difícil de se tornar mundial. Em relação aos textos escritos por
Shidarta Gautama (Buda) e seus seguidores, há uma flexibilidade
muito grande em suas identificações em textos posteriores, em
especial aos textos de grande sofisticação filosófica. O próprio
Buda critica as filosofias especulativas que atrapalham o alcance da
emancipação. Em geral, essas afirmações definem o que o budismo
pretende, tanto como caminho filosófico quanto religioso. É como se
fosse a base teológica da estrutura religiosa e filosófica que na
prática são definidas pela “busca das virtudes intelectuais e
morais, e da prática da meditação”. 7
Várias
escolas de pensamento indiano – Hinduísmo – possuíam uma
tradição oral de questionamento que se desenvolveu como filosofias
no primeiro século da era cristã. Houve continuidade e atribuíram
as Upanishads como textos inquestionáveis. Existem os
ensinamentos que servem como alimento espiritual. Nesta perspectiva
espiritual, em que a maioria das escolas indianas estão associadas,
a figura do místico é central, como alguém que possui a
experiência direta, estando num estágio avançado de meditação. É
importante perceber que todos os tipos de assunto são tratados nos
textos indianos, inclusive questionamentos filosóficos. Mas um dado
interessante é a percepção de que todos somos, incluindo a
realidade, diferentes do que parece ser. Esta espécie de identidade
entre cosmo e o que nós somos é descrita nas Upanishads como
a equação Brahman/Atman (realidade absoluta/alma). Há uma
importante ideia de libertação tratada nos Upanishads desta forma:
“Aqui ficarei [ou seja, em minha vida cotidiana] somente enquanto
não for libertado (dos grilhões da ignorância). Então chegarei à
casa”. 8
Os
conceitos de Teologia
Platão
chamava de teologia “as narrativas míticas sobre os deuses
contadas pelos poetas”, em Homero e Hesíodo. Portanto para ele “a
teologia era entendida como um discurso poético, uma ordenação de
mitos, uma narrativa simbólica sobre divindades”. Platão muitas
vezes considerava a teologia como ilusória, por não associar o
divino ao bem. Contrariamente Aristóteles pensava na teologia como
positiva, identificando teologia como ciência verdadeira que trata
da realidade divina tal como ele é e não dos símbolos, mitos e
narrativas. Os estoicos pensavam a teologia como o estudo filosófico
do divino segunda a sua natureza. 9
No
cristianismo foi com os pais da igreja – os defensores da fé –
que há aproximação da teologia com instituição. Para eles a
teologia era uma ciência em defesa do cristianismo. Então a
teologia passa a ser a teologia cristã, em especial na época em que
o cristianismo torna-se a religião oficial do império. A teologia
cristã passa a ser a ciência do império. Na modernidade surge a
crística à intolerância reagindo contra as guerras e perseguições
religiosas, sendo vistas como irracionais. As críticas à religião
e à metafísica enquanto ciência dá instrumentos aos modernos de
ampliar a ideia de Platão na qual o discurso sobre a divindade era
ficcional. Esse ficcional foi aproximado a falso. “Com isso a
teologia perdeu seu estatuto de verdade, pelo menos no âmbito
acadêmico.” 10
A
teologia passa a se entender “como um discurso sobre mitos, ritos e
símbolos”. Esse conceito requer uma rigorosa formulação desses
elementos simbólicos. São vistos aí elementos simbólicos de
várias religiões. Passa a ser valorizado as condições não
conceituais do saber religioso identificados como modelos religiosos.
Tal proximidade da teologia com os mitos revela tanto “a
caracterização dos conceitos teológicos como símbolos, quanto a
descoberta de conteúdos racionais em narrativas míticas”. Há uma
recuperação da teologia no âmbito do simbólico e superação da
ideia de ficcional como mentiroso e torna-se uma disciplina que
reivindica a verdade além da pura representação direta. 11
O seu conceito passa a ser mais interativo, integrador de elementos
antes negados pela visão moderna, dando a ela uma forma discursiva e
narrativa. Esta compreensão da teologia não nega as teologias
particulares de cada denominação religiosa, mas procura indicar um
estudo amplo que revele, através de mitos, ritos e símbolos, o que
há nas religiões de constitutivo do ser humano.
Há
dois importantes conceitos de Teologia que está no centro das
discussões de uma possível teologia acadêmica. Nelas estão
presentes algumas críticas às formas de se interpretar a teologia
desenvolvida, mas com definições bem significativas. Um é do
dicionário crítico de teologia de Jean-Yves Lacoste que entender
ser a teologia “o conjunto de discursos e doutrinas que
cristianismo organizou sobre Deus e sobre essa experiência de Deus”.
Neste conceito não há negação da racionalidade nem da existência
de Deus. Existe uma preocupação em nomear alianças entre “o
logos grego e a reestruturação cristã da experiência
judaica”. Outra definição da Teologia dada por José Maria Soares
como “é a reflexão ou especulação acerca da realidade última
que parte dos dados oferecidos por determinada tradição espiritual
– em geral referendados por um acervo coerente de escritos – que
pode, ou não, chegar à adoração da realidade afirmada”.
12
Esta noção nos informa que a tradição dá o sentido, não sendo
ela questionada, mas apenas alguns dados referenciais da teologia. O
propósito desta definição é demonstrar, não um objeto como
conhecido, mas um encontro-relação entre judaísmo, cristianismo e
islamismo. Este conceito abre precedentes para uma teologia muito
mais ampla e busca valores que dão às pessoas uma experiência de
sentido, elaborados a partir de novos significados.
Enquanto
ciência a teologia tem base na fé, parte de Deus e da sua relação
com o ser humano. Ao se falar da teologia em geral se entende o
judeu-cristianismo, mas o seu conceito pode ser usado para qualquer
religião. Ela pode ser o trabalho especulativo na experiência da
própria fé. Utiliza os dados da fé por meio da razão, sendo assim
o seu método é racional: “Uma coisa é, por exemplo, a vivência
da esperança escatológica; outra é a análise e a conceitualização
da esperança (escatologia). No primeiro caso é a Bíblia é
a palavra pela qual Deus fala; no segundo, é a fonte de dados para
entender racionalmente o alcance de tal experiência”. A teologia
das religiões usa a visão cristã para refletir sobre as outras
religiões. Isto significa que as religiões serão vistas em seu
contexto qualitativo (visão antiga) e “como parte de uma só
revelação global”. O que é mais fundamental é a aproximação
para melhor entender, compreender, os fatos religiosos como uma
experiência humana. 13
Com
esses conceitos parece que a teologia é algo imutável com uma série
de credos rígidos e fixos, “mas a atividade conhecida na tradição
bíblica como teologia, e que tem equivalentes em outras religiões,
é um processo de constante elucidação do significado da religião
para a geração atual”. 14
Basta questionar o que significa ser cristão, budista ou judeu nos
dias de hoje ou procurar saber o que pensam as religiões sobre temas
atuais. Neste entendimento, as teologias consistem em atualizações
das mensagens religiosas, as suas reelaborações provêm respostas
às perguntas sobre os temas que a atualidade coloca como desafio.
As
interpretações teológicas
A
interpretação teológica se constitui de uma linguagem específica
a partir do universo dos fiéis. O que é dito nesta interpretação
surge do vocabulário, dos textos e dos deuses. A linguagem religiosa
“vê o mundo por meio de seus Cristos, Budas e Alcorões e é, em
última análise, limitada somente pela extensão de seu próprio
entendimento religioso e de sua imaginação.” 15
Esta interpretação é um ato de fé, um aprofundamento da
religiosidade e daí são formuladas teorias religiosas. Cada
interpretação absolutiza o que considera sagrado: A Torá, O Cristo
e o Alcorão constituem o “caminho” para seus seguidores. O
discurso religioso entende sua fé como a “única verdadeira fé”
e são a expressão do sagrado que não é dado por experiências
empíricas.
Visão
Judaica: houve diversas reações do judaísmo às mudanças
históricas. Mudanças da vida tribal para um reino com culto de
Templo, a vida no exílio como minoria cultural, mudanças referente
à auto-interpretação com noções diferentes de piedade. Com a
última e definitiva destruição do Templo de Jerusalém em 70 d.C.
deu-se maior importância à exposição das escrituras e os antigos
sacerdotes que realizavam os ritos sacrificiais foram substituídos
pelos Rabinos, exegetas da Torá. A Torá torna-se sagrada e surge o
Talmude, uma série de interpretações de acesso a ela. O judaísmo
se reinventou através de leis escritas honradas, “em substituição
ao reino religiosamente centrado em torno de um culto do Templo”. 16
Visão
cristã: O cristianismo começou como uma reinterpretação do
judaísmo no qual Jesus se torna o interprete da lei e dos profetas
dando ênfase no espírito em substituição à letra da lei,
descritos nos evangelhos. Nas Cartas de Paulo a fé cristã é vista
como sucessora da religião judaica, em que se viam como escravos dos
mandamentos e que agora herdaram a graça de Deus por meio de seu
filho. William Paden nos informa que “a teologia do Novo Testamento
não pode ser entendida fora da matriz de sua conexão íntima e
interpretativa com o judaísmo”. 17
Nesta
visão a teologia se constitui de um sistema de crenças sobre Deus
enquanto realidade suprema, um Deus que se auto-revela. A teologia é
a busca das verdades de fé através do pensamento humano. A teologia
negativa ou apofática é aquela que acredita ser impossível que
Deus possa ser explicado através da linguagem humana. Nesta visão
não há como Deus se enquadre no pensamento dogmático humano porque
é não criado. Só é possível dizer o que Deus não é, ou
afirmá-lo de maneira negativa: enquanto infinito, isto é, não tem
fim; imutável, ou seja, não muda e imortal, não morre. Esta
teologia afirma que só pela dimensão espiritual se consegue
conhecer Deus e não por meio da razão. Esta interpretação
teológica é muito importante na tradição ortodoxa oriental. A
interpretação da teologia bíblica é a tentativa de proporcionar
uma explicação a partir do próprio texto bíblico e dos autores
sem inferir nenhuma forma moderna de entendê-los. A teologia da
esperança visa a entender o futuro pelo presente a partir da
promessa gerada pela ressurreição de cristo. Nesta compreensão a
experiência de Deus na igreja no momento presente é entendida como
a salvação coletiva. Desta forma é necessário que se observe o
presente como transformação a partir das promessas divinas. Na
visão teológica da narrativa se entende a pessoa humana como
contador de histórias. A construção da identidade pessoal é dada
por sua história ligada à história da comunidade religiosa e à
história da salvação. A teologia dialética compreende que há
diferença qualitativa entre Deus e os seres humanos e indica
conceitos diferenciais como tempo e eternidade, finito e infinito. A
teologia histórica tensiona entender como a igreja interpretou as
escrituras bíblicas deste o tempo dos apóstolos até o presente.
Esta visão procura demonstrar o desenvolvimento das crenças do
passado afim de se evitar os erros no presente. A teologia medieval,
ocorrida entre os sécs. VII e XIV, procurou organizar e sistematizar
a verdade cristã da época dos pais da igreja. Desta teologia surgiu
grandes tratados teológicos como a Summa Theologia de Tomás
de Aquino. 18
A
teologia sistemática se constitui de uma tentativa de condensar a
verdade religiosa de um grupo religioso organizando o pensamento num
contexto cultural ou intelectual.
Uma ordem sistemática comum
na teologia cristã começa com Deus e sua auto-revelação,
seguindo-se a criação e a queda no pecado, a obra salvadora de Deus
em Jesus Cristo e por meio dele, o Espírito Santo como agente da
SALVAÇÃO pessoal, a igreja como comunidade unida de Deus,
conduzindo ao final dos tempos, à volta de Cristo à eternidade.19
Na interpretação protestante, se definiu como a interpretação
mais fiel e verdadeira da Bíblia. 20
Nesta visão o foco principal está no estudo bíblico como única e
verdadeira fonte da mensagem evangélica.
A teologia da libertação, desenvolvida inicialmente na década de
1960 na América latina, pretende interessar-se pelas condições
sociopolíticas de seu povo. Faz uma interpretação bíblica com
base na libertação, entendendo ser uma vitória contra a pobreza e
a opressão. Há marca de apoio aos grupos marginalizados nas
Américas. 21
É importante destacar que há, nos novos movimentos religiosos
cristãos desenvolvidos no Brasil, busca de respostas que desprezam a
tradição bíblica. Buscam-se espécies de revivais que se
caracterizam pela valorização das emoções nos cultos. Vale
lembrar que é citado o nome do Espírito Santo para justificar os
momentos religiosos de maior intensidade nas emoções coletivas das
pessoas do grupo. Há gestos, movimentos e uma linguagem específica
para que o indivíduo exerça uma atividade mental em relação ao
transcendente. Há o cultivo de um tipo de espiritualidade que se
vincula ao sentimento em si mesmo, sem nenhuma relação com vida
espiritual da tradição religiosa cristã dotadas de sentido. As
principais características desses grupos são a valorização do
individualismo, indicada por uma relação pessoal com Deus e o
destaque para a relação eu e Deus, esquece-se da dimensão do
outro. Deus e Jesus Cristo são tomados numa perspectiva
exclusivista, ou seja, apenas quem tem “a fé” como verdade
absoluta apenas para os crentes desta fé. Outra característica
destas manifestações religiosas é a espiritualidade da
prosperidade, fundamentada no drama da pobreza. Há questionamentos
às pessoas, às decisões pessoais, no sentido de se superarem para
prosperar. Por outro lado:
Restaria ainda a dizer que
muitas das novas configurações religiosas apelam sobretudo para o
emocional das pessoas. Nesses casos, a experiência do sagrado que
propõem é uma experiência sensitiva e sentimental. A lógica desse
tipo de experiência escapa à própria lógica. Daí, vem uma
dicotomia entre fé e razão. Pensa-se, por exemplo, que a fé entra
quando a razão já não mais alcança. Mas não se pensa que é a
própria razão aquela que pode articular o discurso da fé. Ou ainda
se propõe que o mundo das experiências do sagrado nada tem a ver
com o mundo da razão. Rompe-se o possível diálogo entre fé e
razão. 22
Estas novas manifestações tentam responder às inquietações das
pessoas, no entanto, há uma complexidade muito maior no que se
refere à estas respostas. Em princípio elas dão respostas vazias
de sentido, mesmo falando sobre Deus e Jesus Cristo, pois faltam o
pilar fundamental que é a tradição bíblico-teológica cristã
numa interpretação que alcance este sentido. A tradição
bíblico-teológica cristã pensa na ideia de povo de Deus, superando
a ideia de individualidade. Não que haja uma marca opressora da
coletividade sobre a individualidade, mas deve haver um
contrabalançar desta relação. A Sagrada Escritura vê o sagrado no
templo, no sábado e no tempo, mas Jesus de Nazaré passa esse
sagrado ao cotidiano. Ele retira a função de separação que o
sagrado pode ter para incluir “a função de dar significado às
coisas do cotidiano”. 23
O ideal seria que as novas religiosidades fizessem um exercício para
falar também com caráter racional, visto que a maioria delas
enfatiza o sentimento e a emoção. Chegar a um discurso teológico
mais claro, isto é, chegar à racionalidade. Um alcance que
estabelece um vínculo entre a fé e a razão.
As novas religiosidades também apelam para o fundamentalismo. Pela
tradição cristã pode-se definir como leitura fundamentalista da
Bíblia, isto é, uma leitura ao pé-da-letra, sem fazer recurso a um
correta interpretação (hermenêutica), sem referência ao contexto
em que a Bíblia foi escrita. É bom lembrar que a Bíblia é um
livro milenar e que possui vários sentidos, necessitando ser
observado o seu contexto. O que pode ser criticada é a leitura
individualista da Bíblia, pois leva em consideração apenas a
pessoa que lê, sem referência ao povo de Deus, é considerada uma
visão fundamentalista. A Bíblia é a expressão do povo de Deus, de
sua fé. O povo de Deus é anterior à Bíblia e ela não esgota o
sentido de palavra de Deus, pois é uma noção mais ampla. Em certo
sentido “não deveríamos dizer que a Bíblia é a palavra de Deus,
mas que é uma palavra de Deus”. 24
A interpretação teológica fundamentalista nega tanto a tradição
teórica da hermenêutica bíblica quanto o contexto histórico que
envolveu a elaboração dos textos sagrados. Uma chave de leitura que
envolve apenas uma interpretação própria, individual, sem nenhuma
referência a qualquer outra forma de conhecimento bíblico,
representa um método destituído de significados simbólicos, os
quais são importantes no processo de identificação da verdade
existe por trás dos referidos textos.
Visão
do Islã: Esta visão se apresentou como uma revisão da tradição
judaico-cristã. O Islã considera-se então “a continuação, a
restauração e a realização final da fé bíblica”. 25
No Islamismo há uma fidelidade a Deus, iniciada na Arábia e a
religião que Deus (Allah) prometeu desde o início da criação.
Estão incluídos entre os profetas Moisés, Jesus e Maomé o
principal para eles. A existência de um único Deus e Abraão como o
patriarca. Todos os profetas tiveram como missão anunciar a mensagem
de Allah. Uma interpretação teológica importante é a realização
das orações diárias, o jejum do Ramadã, a peregrinação a Meca e
as proibições de carne de porco, bebidas alcoólicas e jogo de
cartas. O que se configura como a maior força do Islã é a
fidelidade a Deus, condições para a segurança e a paz. O fim para
o qual tende todo muçulmano é a busca da verdade divina. Existe uma
posição muito precisa do Céu, local para onde vão os bons após a
morte e o inferno para aqueles que praticam o mau. 26
Visão
do Bahai: Para este entendimento Bahaulah é o último grande
profeta, os quais incluem Moisés, Buda, Jesus, e Maomé. Sua
teologia acredita em doutrinas da unidade das religiões e da
humanidade, “a igualdade de homens e mulheres e os papéis
positivos da ciência e da democracia politica”. 27
Esta noção é uma interpretação reunindo valores antigos e
modernos que possuem uma totalidade, uma amplidão, configurada a
partir de uma nova religião.
Visão
do hinduísta: Esta visão possui uma tradição de 3000 anos de
reflexão. “Suas escrituras, os Vedas (1000-400 a.C), contêm uma
sequência de exegeses religiosas em evolução de conceitos
religiosos anteriores”. 28
Há nos Upanishads uma reinterpretação dos rituais como atos
exteriores como elaboração simbólica do Self interior. Em suas
interpretações há infinitos modos de conhecer a espiritualidade
através de deuses e iogas.
Visão
budista: Não propriamente uma interpretação teológica na
visão budista, mas um conjunto de afirmações filosóficas das
quais podemos retirar alguma compreensão. Este entendimento tem como
história o desenvolvimento “dos conceitos da condição de Buda e
da iluminação”. 29
Surgiram a partir daí as denominações do Tibete, da China e do
Japão. Cada uma delas trouxeram novas escrituras. Na interpretação
antiga o Buda é um ser humano extraordinário que teve o alcance do
nirvana e na nova “veio a entender o Buda histórico como uma
manifestação do Buda eterno, o grande ser cósmico que é a base
definitiva de todos nós”. 30
A iluminação, nas primeiras tradições, é o objetivo a ser
alcançado, enquanto nas tradições Mahayanas recentes é a
realidade que está em nós, mas que não conseguimos alcançar.
1
Divindades: cada povo desde os primórdios adorava deuses
representados algumas vezes por fenômenos da natureza, animais,
imagens etc
As
divindades de cada povo refletem os aspectos culturais vividos. Os
deuses eram representados de diferentes formas na antiguidade. Seja
como animais, humanos e elementos da natureza, todos possuem um
sentido de sagrado. Os elementos da natureza são constantemente
representados como divindades. Não que os próprios elementos sejam
a própria divindade, mas ele é a representação dela, o que não
impede que ocorram venerações aos elementos da natureza. Os reis,
imperadores e sacerdotes são identificados como deuses em outras
tradições religiosas. Tais características religiosas possuem suas
espiritualidades e também o seu modo de realizar os ritos. Possuem
também os mitos para explicar o significado de cada evento cultural
e religioso.
Entre
os gregos as divindades são representadas nos mitos e nos ritos. O
deus grego significa uma complexidade de relações: “Um deus grego
define-se pelo conjunto de relações que o unem e o opõem às
outras divindades do panteão, mas as estruturas teológicas assim
evidenciadas são demasiado múltiplas e sobretudo de ordem demasiado
diversa para poderem integrar-se no mesmo esquema dominante.” 31
Cada
deus possui o domínio cósmico territorial: o céu cabe a Zeus, o
mar a Poseidon e no subterrâneo a Hades. Zeus é o rei, é o pai dos
deuses, o patrono da cidade e da vida política, mas também da vida
doméstica, é o guardião das riquezas. Ele é cercado por deuses e
deusas que o servem controlando o céu, a terra, a chuva, os ventos e
o raio. 32
Os
romanos, os egípcios, os hititas, os mesopotâmios, bem como todos
os povos tanto do ocidente antigo quanto do oriente antigo possuíam
grande quantidade de deuses e suas interpretações acerca do
universo, das relações entre deuses e humanos e sobre o modo de
vivência segundo a religião e as culturas locais respondiam a uma
demanda de cada povo, possuindo uma teologia própria e crenças
muito diversificadas. Os mitos tiveram uma importância singular
nesse processo. Foi através deles que as discussões e
interpretações sobre do mundo das coisas – natureza, universo,
etc – do mundo humano – os sentimentos, as ações, a produção,
etc – e do mundo sobrenatural – o imaginário, o sagrado, as
relações humano-divino – ganharam significados humanos.
Nas
grandes religiões as divindades possuem representação mais
significativa. Para o judaísmo, o cristianismo e a islamismo a
figura divina de Deus torna-se central. O fato de serem monoteístas,
tendo como condição principal a fé no único Deus, indica que a
fonte espiritual tanto da revelação, da mensagem, quanto do
compromisso ético dos fiéis estão diretamente vinculados a esse
Deus.
Para
o Hinduísmo não há um fundador específico da religião e os
dogmas não são claros. Existe uma diversidade de elementos
culturais que deram origem à doutrina. Nos textos sagrados destas
tradições se constituem dos mais simples e antigos sistema de
crenças até as formulações filosóficas mais complexas. A crença
em Deus, que se manifesta de diversas formas, se apresenta nas
figuras divinas que podem ser masculinas ou femininas. As principais
divindades que forma a trindade são: Shiva que é o destruidor do
universo e responsável pela renovação pela destruição; Vishnu
que é o preservador do universo, ele conserva as coisas; e Brahma é
o que está presente no coração do humano, responsável pela
criação e começo de cada ciclo do universo. 33
2
Verdade de fé: cada religião crê em determinados símbolos,
rituais.
No
entender do psiquiatra C.G. Jung a religiosidade, no sentido de
religiões institucionais ou profissão de fé, faz com que os
indivíduos realizem celebrações através de práticas culturais
coletivas. Outra definição de religião liga-se à religio,
na qual Jung a considera como uma atitude espiritual humana. 34
A primeira definição destaca que a verdade de fé é ligada a uma
participação comunitária e a segunda definição esta verdade é o
caráter individual da relação com o sagrado. As verdades de fé
estão associadas, em cada religião, a certa interpretação de
textos ou mitos, considerados sagrados, de dadas tradições
culturais de onde surgem suas aplicações práticas, seja por meio
de dogmas, autoridades sacerdotais e consensos comunitários ou
institucionais.
O
símbolo representa, para cada manifestação religiosa,
3
Vida além-morte: crença das tradições religiosas em relação à
morte.
A
morte é uma das maiores interrogações que o ser humano se faz. O
para-além-da-morte é uma possibilidade de esperança que as
religiões postulam para integrar aos questionamentos humanos sobre a
morte. A morte torna-se um problema enquanto é uma não existência
consciente. Quando se reflete sobre a possibilidade da morte vê-se
um distanciamento existencial muito forte que dá margens à
dignidade dos humanos e o faz determinar-se por ela. Para algumas
tradições culturais e religiosas a morte representa uma passagem
para um outro mundo, noutras a determinação de um fim possível ou
ainda a possibilidade de purificação ou elevação do ser mais
fundamental dos humanos que é o espírito, ou a alma. Alguns ritos
realizados para o prolongamento da vida, no momento de um
sepultamento, podem explicar a forma como os desejos humanos de
superar a morte estão presentes. Há, em certo sentido, uma
necessidade desejosa para que os problemas humanos sejam resolvidos,
dentre os quais a morte representa um dos maiores mistérios que a
vida o coloca.
A
vida além-morte significa o propósito de continuidade desta vida na
terra, ou ainda a possível existência em outros mundos possíveis.
Referência:
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1RAMPAZZO,
Lino. Antropologia, religiões e valores cristãos. Ed. Loyola, São
Paulo: 2004, p. 29-30.
2MARKUS,
Cledes. OLIVEIRA, Lilian Blanck de. Diversidade cultural e
religiosas no Brasil: entre desafios e perspectivas para uma
formação docente. In: OLIVEIRA, Lilian Blanck de. et. al. (Orgs.).
Cultura e diversidade religiosa na América Latina: Pesquisas e
perspectivas pedagógicas. Blumenau: Edifurb; São Leopoldo, 2009,
p. 249.
3Ibid.
4Ibid,
2009, p. 253.
5BOHNE,
Vicente V. E. (Coord.). O fenômeno religioso nas tradições
religiosas de matriz africana. Caderno 7, FONAPER, 2000, [Coleção:
Ensino Religioso: Capacitação para o novo milênio], p. 7.
6CENTRO
DE ESTUDOS BÚDICOS. Os frutos da vida ascética (Diálogos de
Buda). Tradução Nissim Cohen, Jacareí: SP, 2002, p. 13
7COOPER,
David. As filosofias do mundo: uma introdução. Tradução Dinah de
Abreu Azevedo. São Paulo: Loyola, 2002, p. 46-48.
8Ibid.,
2002, p. 26.
9GROSS,
Eduardo. Considerações sobre teologia entre os estudos da
religião. In: TEIXEIRA, Faustino (Org.). A(s) ciência(s) da
religião no Brasil: Afirmação de uma área acadêmica. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 323-325.
10GROSS,
op.cit., 2008, 326-327.
11Ibid.,
p. 329-330.
12SOARES,
José Maria Ligório. A teologia em diálogo com as ciências da
religião. In: USARSKI, Frank (Org.). O espectro disciplinar
da ciência da religião. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 284; 289.
13CROATTO,
José Severino. As linguagens da
experiência religiosa: Uma introdução à fenomenologia da
religião. São Paulo, Paulinas, 2010, p. 23.
14PADEN,
William. Interpretando o sagrado. São Paulo: Paulinas, 2001, p.
161.
15PADEN,
op.cit. p. 155-156.
16Ibid.,
op. cit, 2001, p. 158-159.
17Ibid.,
2001, p. 159.
18GRENZ,
Stanley J.. GURETZKI, David. NORDLING, Cherith Fee. Dicionário de
teologia: mas de 300 conceitos teológicos definidos de forma clara
e concisa. São Paulo: Ed. Vida, 2007, p. 128-130.
19Ibid.,
2007, p. 131.
20PADEN,
op. cit. 2001, p. 160.
21GRENZ;
GURETZKI; NORDLING. op. cit., p. 81.
22MALZONI,
Cláudio Vianney. Novas religiosidades e renovação espiritual. In:
REVISTA DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS DA
RELIGIÃO: As múltiplas face de Deus: desafios do pluralismo
religioso. Revista do mestrado em Ciências da Religião da
Universidade Católica de Pernambuco. Recife, Ano VIII, n. 1, jan.
Jul., Fasa, 2009, p.159.
23Ibid,
2009, p. 162.
24Ibid.,
2009, p. 164.
25PADEN,
op. cit., 2001, p. 160.
26BOHNE,
Vicente V. E. (Coord.). O fenômeno religioso nas tradições
religiosas de matriz oriental. Caderno 8, FONAPER, 2000, [Coleção:
Ensino Religioso: Capacitação para o novo milênio], p. 34-36.
27PADEN,
op.cit., 2001, p. 160.
28PADEN,
op. cit., 2001, p. 160.
29PADEN,
op. cit., 2001. p. 161.
30PADEN,
op. cit., 2001, p. 161.
31VERNANT,
Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia antiga. São Paulo: WFM
Martins Fontes, 2006, p. 29-30.
32VERNANT,
op. cit., 2006, p. 30-36.
33BOHNE,
Vicente V. E. (Coord.). O fenômeno religioso nas tradições
religiosas de matriz oriental. Caderno 8, FONAPER, 2000, [Coleção:
Ensino Religioso: Capacitação para o novo milênio], p. 7-11.
34XAVIER,
Marlon. O conceito de religiosidade em C. G. Jung. Psico, v. 37, n.
2, pp. 183-189, maio/ago. 2006 , p.184
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