EIXO 4: Ethos
- Normas, tradições religiosas e diversidades dos costumes referentes a:
- Família.
A
família representa a primeira forma de organização social, visto
que a relação é dada por meio do culto doméstico reunindo os
membros da família. As condições da ética no meio familiar são
determinados pelas normas nela existentes.
Pode-se
considerar neste contexto uma mudança significativa na passagem da
Idade Média para a Idade Moderna. Por volta do século XV houve uma
transmutação da vida ética com a admissão da supremacia do saber
racional sobre os mitos e o desenvolvimento das religiões
monoteístas. Essa explicação indica que, na antiguidade, os
indivíduos eram absorvidos pela coletividade e a religião domina a
vida dos indivíduos do nascimento até à morte. “Ela dominava a
vida familiar, assim como a vida na cidade, fora do lar doméstico.
Família e cidade, com efeito, foram os dois grandes polos formadores
da sociedade antiga” 1.
Foi
o vínculo familiar antigo que deram origem às civilizações
greco-latinas, não na natureza, mas na religião. “A religião
explica o caráter patriarcal da família antiga”. A reunião
associativa de religião e política de várias famílias formava a
cidade 2.
“O indivíduo, absolvido no grupo familiar ou na coletividade
política urbana, era totalmente despido de autonomia” 3.
Sua vida passa a pertencer à cidade, desta forma é que os dogmas
religiosos e os valores coletivos era considerado o ideal da
convivência na cidade. A família passa a ter um papel secundário
na tradição cultural dos povos e as normas fornecem regulação aos
pormenores da vida de cada um. 4
Na
modernidade o indivíduo adquire autonomia e surgem novos conflitos
na vida ética. O surgimento do estatuto jurídico do estado moderno
e da urbanização modificaram as relações familiares e deram
origem às discussões sobre o público e o privado. Neste sentido é
que há uma modificação completa nos padrões éticos tradicionais,
junto ao fim das estruturas de poder dados pelo feudalismo medieval.
Surge na configuração das relações sociais a noção de cidadão
que deve esquecer o privado por amor à pátria. 5
Neste contexto a questão da liberdade natural diferencia-se a
liberdade civil. A natural se submete à força do indivíduo e a
civil à vontade geral, com isto o indivíduo é forçado a ser livre
pela vontade geral. 6
- Sociedade
O
ser humano é um projeto em constante movimento e inacabado, “o
objeto da Ética é a ação humana. O homem age porque é carente,
necessitado, incompleto”. A fonte do ato ético é a liberdade com
responsabilidade. Segundo Santos a característica humana tem na sua
essencialidade a interação. “O ser humano é essencialmente
incompleto”. A insatisfação, ou seja, a busca da satisfação
conduz o homem a estar sempre em movimento, buscando essa meta
inalcançável. “A necessidade de complementação é parte
congênita da natureza humana”. Essa capacidade humana chama-se de
“impulso de atualização de si”. É na constante busca pela
satisfação e a negação das ‘coisas atuais’
que crescemos. “Por isso, sempre que agimos, estamos em busca de
suprir nossas carências, necessidades sentidas, a nível biológico,
social e transcendental, os três componentes primários geradores de
toda a atividade humana”. 7
Esta
concepção que caracteriza o homem como ser incompleto se fundamenta
na ideia de que estamos em constante busca pela felicidade. Ao buscar
a felicidade o homem constrói meios que facilitam sua existência,
tanto na condição individual como em grupo, criando assim a
cultura. Para Fábio Comparato (2006) é na busca da felicidade que
se encontra o nosso próprio destino. Alcançar a plena felicidade é
o bem mais valioso. Ao se falar da ética se refere à felicidade e
deve ser compreendida como o esforço orientado no sentido de
investigar o bem ou o mal, para se chegar ao objetivo.
Santos
(2004) apresenta uma classificação para as ações humanas,
dividindo-as em dois grupos: atividades julgadas como ‘melhores’
e ‘piores’. Tal julgamento se referencia pela noção de justiça.
Segundo Santos 8,
toda ação é justa ou injusta de acordo com as consequências das
mesmas, é justa quando distribui o bem de maneira satisfatória, é
má, quando esse bem é distribuído de maneira insatisfatória.
Dessa forma Santos oferece a explicação sociológica do surgimento
e da necessidade da criação da ‘moral’ nas sociedades humanas.
Moral
é um conjunto de hábitos e costumes, efetivamente vivenciados por
um grupo humano. Nas culturas dos grupos humanos estão presentes
hábitos e costumes considerados válidos, porque bons, porque
justos; justos, porque contribuem para a realização dos indivíduos.
9
O
fato é que, a questão do ‘bem’ para o homem é relativo e varia
de cultura para cultura. “A moral e a lei são instrumentos
auxiliares da realização individual, limitados à dimensão de
verdade de que certo grupo é histórica e socialmente portador”,
Santos, dentro desse contexto, adverte que a “Ética é a reflexão
sobre a ação humana, para extrair dela o conjunto excelente de
ações” 10.
Porém as verdades e valores são de natureza relativa, isto é, a
noção de ‘bem’ e de ‘verdade’ depende da cultura e do
contexto onde o fato esta inserido.
Portanto,
a Ética é um sistema lógico do pensamento, que tem por fundamento
o ‘objeto’ e a ‘lei’, esses pressupostos fazem parte do
referencial da vida humana. A Ética tem como meta a conquista da
excelência. O termo Ethos é de origem grega – caráter,
ânimo, decisão. A Ética sugere direitos e deveres. A moral do
homem se forma pela ética.
Em
Fábio Comparato a ética tem um sentido bem largo e abrange os
sistemas de campos distintos como a religião a moral e o direito. No
mundo antigo era praticamente impossível separar, distinguir e “opor
entre si estas três esferas de regulação do comportamento humano”.
Ao contrário na época moderna em que tais campos são distintos. 11
Os
Parâmetros Curriculares Nacional do Ensino Religioso nos indicam
que, “Ethos
é a forma interior da moral humana, isto é, além de normas,
preceitos ou proibições”, cuja função é desmascarar e ponderar
as falsas realizações não-autênticas da realidade humana e [...]
projetar e configurar o ideal normativo 12.
A
sociedade contemporânea é marcada pela paulatina dissolução dos
sistemas tradicionais de convenções éticas. 13
Como consequência, surge um modelo de pluralidade moral, como
resposta moderna ao legalismo e imposição de deveres morais baseada
na mistura da doutrina cristã e dos pressupostos aristotélicos. Em
suma, com a modernidade, a ética mudou sua referência de submissão,
dos poderes às leis divinas para uma ética de submissão aos
poderes constituídos.
Segundo
Rampazzo, a ética se atribui o comportamento correto do ser humano,
segundo o enfoque da moral. Tal comportamento deve se expandir para
toda a dimensão da vida, inclusive a socioeconômica. Para ele a
ética deveria se sobrepor às questões econômicas e nunca ao
contrário 14.
A
organização da economia mundial se baseia nas duas ideologias:
socialismo científico15
e liberalismo clássico16.
No primeiro modelo foi entendido erroneamente que só com as
mudanças nas estruturas sociais, se conseguiria vem os males da
sociedade, sem uma preocupação focada na transformação do ethos
dos indivíduos. No segundo modelo, nem a Ética nem o Estado devem
interferir na relação do jogo de mercado entre capital e trabalho.
Os dois modelos rejeitaram a ética como elemento formador do
indivíduo e relevante para a organização socioeconômica.
O
homem ser essencialmente social se utiliza da comunicação como
parte integrante da interação entre os seus pares. “[...]
comunicação exige um equilíbrio entre o dever de justiça, de
manifestar a verdade e o dever de respeito ao próximo, que implica a
descrição, e às vezes, o segredo”. Essa postura exige a prática
da honestidade e a discrição 17.
- Como as religiões tratam das questões relacionadas com:
- Violência
A
violência no entender das religiões são apresentadas em geral como
um mal. As religiões decodificam a ação violenta no nível do que
não deve acontecer, visto que tal ação pode gerar sérias
consequências para a dignidade da pessoa humana. Os princípios
éticos formulados pelas tradições religiosas se revestem de uma
visão negadora da violência das mais diversas formas.
Na
tradição judaico-cristã há algumas elaborações a respeito da
violência que se destacam: A Morte de Abel por seu irmão Caim (Gn
4, 8); a violência dos homens no mundo e para isto Deus os
destruiria junto com a terra e convidou Noé para construir uma arca
(Gn 6, 11-13); em Samuel há um pedido para que Deus possa livrar da
violência (2Sam 23,3); um pedido do salmista para livrar das
violências de pessoas hipócritas (Sl 35,17). Em provérbios se
afirma que os ímpios escondem a violência em sua boca (Pv 10,6). Em
Ezequieu fala de coração cheio de violência ligando-o ao pecado
(Ez 28,16) e em Ez 45,9 a violência é indicada como o oposto de
retidão e injustiça. Em Jl 3,19 é referida a violência provocada
pelo Egito aos filhos de Judá.
No
Bhagavad Gida, Capítulo 9,26, da tradição religiosa do Hinduísmo
afirma: “Se alguém Me oferece com amor e devoção uma folha, uma
flor, fruta ou água, Eu aceito com amor. Meditação: Com base neste
verso do Bhagavad-gita, podemos ver que Krishna não nos pede nenhum
tipo de violência para Suas oferendas, só uma folha, fruta, flor ou
água.”
Nas
diversas tradições indígenas do Brasil há diversas tribos que
preferem não tratar seus filhos com violência, visto que pode
causar algum tipo de doença ocasionada por espíritos. Entre os
Macuxi de Roraima as crianças não recebem castigos físicos, pois
se acredita que a criança pode ficar “assustada” – o “susto”
é uma doença considerada muito grave, podendo ocasionar a morte.
A
compreensão do significado da violência faz crer que; no contexto
da responsabilidade, das ações consideradas boas e justas; o ato
violento é mau no sentido do fim para o qual esta ação está
dirigida. A violência, ligada à ideia de destruição e de
desintegração da vida, faz com que os indivíduos percam sua
identidade, o seu sentido existencial. O indivíduo que sofre o ato
violento compreende a finitude de sua própria existência, passando
a valorizar o significado das relações interpessoais e das menores
coisas. Não que necessite ser violentado para isto, mas chegou a
esse entendimento desta forma.
As
tradições religiosas procuram manifestar-se contrárias à
violência. A violência é discutida no contexto das grandes
tradições religiosas e muitas de suas informações sobre o tema é
sempre no sentido de se evitar tal ação.
- Sexualidade
A
sexualidade constitui as questões mais importantes para as tradições
religiosas. Os relacionamentos amorosos representam para todas as
crenças uma dimensão do sagrado. Isto significa que os
comportamentos e a sexualidade possuem influência forte das
religiões. A preocupação das tradições religiosas quanto à
sexualidade envolve as questões éticas e teológicas. Na história
vê-se que houve tanto as regras rígidas quanto as orientações
sobre essa importante dimensão da vida humana. Na escola tem-se
apenas discutido o tema do ponto de vista biológico, e outras
relacionadas à contracepção. Faz-se necessário uma visão mais
crítica com conhecimentos mais contextualizado da história tendo
mais conhecimentos da vida sexual.
Os
temas que foram discutidos historicamente pelas religiões pretendiam
justificar uma orientação repressiva. Discutiu-se sobre a
sexualidade e a espiritualidade procurando entender a continência
sexual, os jejuns, as peregrinações, messianismo, celibato,
virgindade e fornicação.
Na
história da sexualidade se verifica principalmente as instituições
religiosas como mecanismos de controle. As igrejas cristãs usam a
sexualidade como um “instrumento ideológico político e social”.
Há uma orientação moral no sentido de negar a vida sexual. Nas
tradições religiosas orientais do Taoísmo, Budismo e Confucionismo
têm uma relação sem a força repressora das tradições religiosas
cristãs. Há orientações sobre a questão do retardo do orgasmo,
visto que é necessário que o parceiro absorva a energia Yin da sua
companheira para haver equilíbrio e complementariedade das relações
Yang (masculino) e Yin (feminino). 1
Os
gregos e romanos entendiam que o deus Facsinus (falo, pênis) era
venerado como o símbolo da fertilidade. Havia gráficos e pinturas
de atividades sexuais expressadas com muita naturalidade e menos
inibição do que hoje. Na mitologia grega Zeus era considerado a
força masculina fertilizadora. O sexo era divino e considerado uma
forma de adoração. Na filosofia estoica surge a noção de
supressão dos desejos e de qualquer emoção. O prazer carnal no ato
conjugal do casamento é questionado e o celibato é valorizado. O
gnosticismo pregava que a manutenção da castidade evitava o mundo
mau, vindo do demônio. O cristianismo aderiu a esta ideia de que a
castidade era algo próxima de Deus. 2
A
vivência de uma sexualidade sadia não quer dizer apenas os
relacionamentos sexuais em si, mas o conjunto vivencial que envolve a
aceitação de si, o conhecimento de seus próprios sentimentos em
relação à sua vida, e uma série de questões que envolvem o uso
da nossa razão e as soluções que passam pelo entendimento da nossa
mente, da nossa psique.
Uma
relação sexual amorosa requer uma consciência madura que supere
todos problemas vindos da infância e de possíveis falta de afetos.
- Drogas
As
drogas representam para a sociedade um desvio de realização do que
é considerado normal para uma pessoa. As pessoas, em geral, não
aceitam uma convivência com usuários de drogas ilícitas e até
mesmo passam a discriminá-los de diversas formas. Os problemas
advindos da sociedade atual passam a classificar os usuários de
drogas associados à violência e ao tráfico, visto que se tem
normas proibitivas da livre comercialização de algumas drogas. Tais
indivíduos passam a viver às margens da sociedade – na
“marginalidade”. Esta separação que os usuários sofrem passa a
atingir a dignidade das pessoas.
Esta
vivência às margens da sociedade, através das drogas, proporciona
fascínio e medo, êxtases prazerosos e depressão e conduz a
inserção em grupos sociais e exclusão de outros. 3
É necessário considerar algumas informações para entender a
questão das drogas:
a)
a diferença entre dependência e uso recreacional e ocasional; (b) o
erro de apontar o usuário como um dependente potencial; (c) as
diferenças entre os vários tipos de drogas e os danos que provocam,
como é o caso da maconha, cocaína, cocaína injetável, heroína,
crack e outras; (d) o entendimento do uso de drogas como um fenômeno
histórico-cultural com implicações médicas, políticas,
religiosas e econômicas; (e) a distinção entre drogas legais e
ilegais e o aparecimento de substâncias sintéticas.
4
Tais
diferenciações podem nos indicar caminhos para definirmos o usuário
de drogas ilícitas e casos isolados que podem erroneamente ser assim
definidos. Outra questão é que com estes dados podemos avaliar os
danos causados pelas diversas drogas. Existem muitas informações
que são contraditórias em relação aos usos, mas existem algumas
que se assemelham. O fato de se poder identificar o uso das drogas
como um problema com diversas implicações e que possuem
consequências muitas vezes fatais para o usuário. Uma das
consequências mais aparentes é a questão da violência, tanto nas
drogas lícitas quanto nas ilícitas. O álcool é a droga que possui
maior incidência de atos violentos e junto a sua associação com a
outras drogas. “Uma em cada três agressões envolveu o consumo de
drogas”. 5
Existe uma incidência muito alta no uso de drogas como causas de
casos de acidentes de trânsito, podendo se definir como cerca de 33
a 40% em 158 atendimentos em hospitais pesquisados por Minayo e
Deslandes (2013).
A
sequência de uso de drogas da adolescência até à fase adulta tem
preocupado muitos pesquisadores. Em geral pode-se afirmar que o uso
de drogas está associado à idade para algumas drogas ao seu
ambiente em que vive. Isto responde à questão de que nem sempre o
uso está associado aos efeitos que as drogas possam ter. Estas
informações podem ser ferramentas eficazes para uma intervenção
de sucesso. 6
Esta sequência do uso pode iniciar com as drogas lícitas e passam
às ilícitas, até chegar ao uso do crack, droga considerada com
alto índice de dependência.
- Trabalho
O
trabalho pode ser definido como a transformação do mundo natural
pelas mãos e a linguagem humana. Esta definição indica uma
referência importante para entendermos a ação humana sobre a
natureza. Através de sua maneira de elaborar, pelo raciocínio, uma
linguagem específica fez desenvolver a forma de fazer, elaborar
coisas no mundo. Esta noção de trabalho explica o desenvolvimento
da técnica e de toda a construção humana formulada desde o
aparecimento humano.
Do
ponto de vista desta realização, os humanos construíram, através
da elaboração técnica, um mundo muito complexo para si. Este
conjunto de construções foram se aglutinando pelas mãos humanas
através do trabalho. De um lado viu-se uma relação de exploração
do trabalho uns dos outros e de outro lado a formação de uma
tradição de um fazer que passada a outras gerações construiu o
mundo de hoje conhecido.
O
caminho da exploração entre os humanos se deu pela constituição
da supervalorização humana de algumas coisas e de outros seres
humanos, considerados superiores – os nobres – em oposição aos
escravizados e prisioneiros de guerras. O uso e o usufruto do
trabalho das pessoas subjugadas e escravizadas fizeram acumular
riquezas, prestígios e poderes para alguns que passaram a ser
considerados reis, imperadores enfim nobres.
Na
idade média o trabalho consistia em produzir na lavoura e a criação
de animais e as relações sociais eram organizadas pelo senhor que
tinha os administradores, empregados e familiares. O senhor detinha o
poder político e econômico das terras e domínio sobre tudo e
todos. Todos trabalhavam em função dele e para ele. Somente após
cuidar dos campos do senhor é que se podia trabalhar em áreas
destinadas aos trabalhadores. Nesse sistema de servidão alguns
tinham mais privilégios que outros, mas havia forte relação de
dependên-cia. 7
O
comércio, o surgimento das cidades e o artesanato profissional
modificaram-se tornando mais eficientes os trabalhos elaborados com o
processo de industrialização na Idade Moderno. Em seus
desdobramentos as indústrias se desenvolviam criando grande
quantidade de mendigos e pobres e o desemprego como um problema
social que se alastrou por grande parte da Europa e América do
Norte. 8
As
relações sociais de trabalho de nossa época contemporânea se
tornaram mais complexas nas quais diversas potências industriais
acumularam capital (dinheiro), vendendo seus produtos com a
finalidade lucrativa em relação ao trabalho desenvolvido por
operários. 9
As
tradições religiosas que possuem esclarecimentos em relação à
escravidão, à servidão, e às más condições de trabalho passam
a denunciá-la como uma injustiça diante do outro. Em todas as
épocas se verificam que as religiões estão direta ou indiretamente
implicadas nas relações de poder estabelecidos em cada época.
Existe porém atualmente uma relação de consciência dessas
relações de poder e diversos grupos religiosos, manifestados por
diversas tradições religiosas, denunciam e fornecem informações
sobre essas relações e acabam por ajudar no processo de modificação
desta realidade. Há outros momentos em que tais fatos não
ocorreram.
- Aborto
Até
1967 o aborto era proibido em todas as democracias ocidentais, com
exceção da Suécia e da Dinamarca. Ocorreu um caso nos Estados
Unidos em 1970, em que Jane Roe fora estuprada e ficara grávida, e a
suprema corte decidiu, em 1973, em favor de abortos realizados até 6
meses. A partir daí muitos países do mundo adotaram medidas
favoráveis ao aborto, provocando um intenso debate sobre o tema. 10
Outro
problema referente ao aborto é a fertilização in
vitro,
da qual muitos embriões são congelados e com as pesquisas são
constantemente destruídos. Considera-se que matar um adulto seja um
assassinato, no entanto, no caso de embriões e fetos não há um
parâmetro para afirmar diferenças entre um óvulo fertilizado e um
adulto. É muito difícil dizer que não exista uma continuidade da
vida humana entre um feto e uma criança. Estabelecer direitos
diferentes para um feto e para uma criança, constitui uma
dificuldade, porém ninguém daria direitos aos pais de uma criança
de darem fim à vida dele sem afirmar que estariam eticamente
incorretos. O correto então seria assegurar os mesmos direitos que
tem uma criança ser estendido também ao feto. 11
A
visão contra o aborto afirma que a criança/feto é a mesma entidade
tanto dentro do útero quanto fora dele. Eles possuem as mesmas
características e por isso o feto não poderia perder os seus
direitos à vida. A visão da teologia católica tradicional concebia
que quando o feto mexia-se era o momento em que recebia a sua alma,
mas esta visão antiga já foi rejeitada por muitos teólogos
católicos. Está amplamente comprovado que o feto mexe-se na sexta
semana após a fertilização, muito antes de seus movimentos serem
sentidos pela mãe. A capacidade de movimentar-se nada tem a ver com
o direito de continuidade à vida. A falta de algumas capacidades não
faz cessar o direito à vida. Outro argumento importante é o
indicador da consciência, pois a capacidade de sentir dor e prazer
tem sido usado por defensores do aborto como o momento em que o feto
passa a ter direito. Como foi descoberto que o feto é capaz de
sentir no começo da gravidez os defensores do aborto ficaram mais
cautelosos com este argumento. 12
Os
defensores do aborto afirmam que as leis restritivas do aborto acabam
por levar as pessoas a abortar de forma clandestina, ocorrendo
complicações médicas de uma gravidez indesejada. Esta defesa é
contra a legislação e não que se pense que o aborto seja algo
correto ou moralmente aceitável. Mas o debate ético sobre a questão
do aborto apresentada pelos defensores ainda podem considerar o feto
como um estágio anterior ao ser humano, aceitar que o feto não tem
interesses e até considerar o aborto um “crime” sem vítimas.
Estas defesas do aborto consideram que não há um “outro” que é
prejudicado. 13
Desta
forma pode-se julgar improcedentes os diversos argumentos dos
defensores do aborto, pois acreditar que uma lei possa modificar uma
situação, em especial numa situação em que o aborto em si pode
ser uma situação dramática em todos os sentidos e situações.
Além disto os problemas sociais e psicológicos decorrentes deste
ato ainda pode sustentar que o melhor seria negar todas as formas de
aborto, procurando explicá-lo como destruição da vida, seja qual
argumento se possa apresentar contra ou a favor.
A
presente reflexão coloca o aborto como uma questão de ética. A
ética por sua vez é um fenômeno social, onde a reflexão moral se
dá através de interações, ou seja, ideias compartilhadas. É
óbvio, portanto, que o debate ético exige uma atitude pluralista,
sendo que os indivíduos são levados a discutirem suas visões de
valores, mas o consenso gira em torno de um projeto comum que possa
dar equilíbrio e certa harmonia social.
O
ser humano tem várias características, como: o corpo orgânico,
essencialmente biológico, psíquico; essencialmente social e criador
de cultura. Na questão do aborto, portanto, a moral e o direito
devem basear suas decisões no princípio da co-responsabilidade.
Nesse caso o aborto se apresenta como um problema ético da saúde
pública, mas o que podemos definir como aborto? Camargo nos diz que
esse fato social “é a expulsão ou a extração do ovo fecundado
(ou do embrião ou do feto vivente), ainda incapaz de viver fora do
seio materno”. 14
Para continuarmos nossa reflexão usaremos a classificação de
Camargo sobre os tipos de aborto.
Assim
temos: Aborto involuntário - espontâneo: quando acontece
acidentalmente, sem uma vontade ou ação tendenciosa; Aborto
involuntário – culposo: quando mesmo sem intenção, ocorre devido
à imprudência; Aborto direto – voluntário: quando com intenção
de tirar a vida, se faz uma ação direta no ovo fecundado; Aborto
indireto – voluntário: quando praticado para salvar vida da mãe,
ou por necessidade inevitável de tomada de medicamentos. 15
A
busca pelo sagrado em qualquer religião prima pela vida. O aborto
não é estimulado pelas tradições religiosas, pelo contrário é
proibido na maioria delas. Saber em que momento o aborto deve ser
aceito é um desafio para o homem moderno. Onde começa e onde
termina a vida deve ser o ponto de partida para tratarmos de tão
importante tema. Biogeneticamente, a vida do ser humano tem início
no momento da fecundação. 16
Trata-se
de um desafio ético, político e religioso, cuja superação exige o
atendimento da regra moral da prudência, entendida em sua
interpretação contemporânea, uma vez que estão em jogo a vida e a
qualidade de vida de pessoas. O executor final dessa decisão ética
será o médico, mas é indispensável à mediação do jurista e da
reflexão religiosa. O desenvolvimento do diagnóstico pré-natal é
inelutável. De qualquer forma a medicina deve ser exercida para
salvar vida e não promover a morte. Portanto, o aborto só deve ser
tolerado quando para resguardar a vida do ser já existente – no
caso a mãe. Entretanto tudo, veementemente ‘tudo’ dever ser
feito para também, salvar a vida da criança (feto ou óvulo
gerado).
2.6
Clonagem
A
questão da clonagem expressa o conflito entre a nossa consciência
individual e a consciência coletiva, através de nossos princípios
de verdade e valores que embasam a moral social. É com esse tipo de
postura que devemos analisar as questões da ética e da moral frente
à clonagem humana. “Clone origina-se, etimologicamente, do grego
klón,
que significa broto, e definido como ‘um conjunto de indivíduos
originários de outros por multiplicação assexual. Todos os membros
de um clone têm o mesmo patrimônio genético’”. 17
Temos no mínimo dois tipos de clonagem:
Clonagem
terapêutica: é a técnica que fabrica embriões a partir da
transferência do núcleo da célula já diferenciada, de um adulto
ou embrião, para um óvulo sem núcleo. Não há o implante em um
útero, logo não pode reproduzir seres humanos.
Clonagem
reprodutiva: procedimento químico que se baseia na transferência do
núcleo de uma célula diferenciada, adulta ou embrionária, para um
óvulo sem núcleo com implantação do embrião no útero humano ou
de outro animal.
A
clonagem reprodutiva, o mesmo que a inseminação artificial 18,
é vista com bastante preocupação, mesmo pela comunidade
científica, pois nos clones encontram-se vários tipos de anomalias
e baixa capacidade de defesa do sistema imunológico. Já a clonagem
terapêutica, a priori, apresenta algumas vantagens que devem ser
analisadas profundamente pelo olhar da ética.
A
clonagem terapêutica poderá ser muito útil para a produção de
tecidos, ou até, órgãos inteiros para pacientes que hoje
necessitam de transplante, poderá salvar milhões de vidas, pois
sendo feita com células da própria pessoa ou de seus parentes
próximos, evitaria o problema da rejeição, que continua sendo uma
das principais restrições a esse tipo de tratamento. O paciente que
está na fila de transplante, esperando o órgão que lhe
possibilitará viver e a ter uma melhor qualidade de vida, aguarda
ansiosamente o avanço dessas pesquisas e que elas não sejam
proibidas. O mesmo pode ocorrer com os portadores de algumas doenças
consideradas, atualmente, como incuráveis, mas que poderão ter
grandes benefícios com o avanço das pesquisas nessa área.
Entretanto,
temos pesquisadores que pensam apenas na ciência, friamente, e que
fazem suas experiências sem cogitarem a ética. Bisônios e zumbis
podem certamente compartilhar o mesmo espaço que humanos ‘normais’?
Até que ponto pode ir à interferência do homem na natureza? Essa
questão deve ser refletida á luz da razão e das experiências
tradicionais do sagrado humano.
Se
a moral - conjunto de normas, escritas ou não, que ditam o
comportamento do grupo social de acordo com seus costumes e tradições
- não for considerada sob os aspectos da legalidade e da moralidade
da clonagem, então esta, acabara por infligir valores e concepções
sociais, que por sua vez matem o equilíbrio que regula o
comportamento humano. 19
A Ética exige que revisemos nossos valores e os princípios de
verdade em que eles se embasam. Exige também que nossa conduta seja
pautada nesses princípios mais elevados ditados por nossa
consciência moral. A consciência moral, mesmo na modernidade, se
fundamenta em pressupostos religiosos, tradicionalmente constituídos
pelas sociedades.
Ana
Paula de Melo Ferreira, nos traz o posicionando da Igreja Católica
pelo bispo Dom João Bosco de Farias, sobre a clonagem humana,
"Clonagem de qualquer tipo é antiética e o embrião que é
descartado, mesmo que seja antes de completar duas semanas, é vítima
de assassinato”.
A
comunidade científica, assim como a sociedade em geral deverá
debater a clonagem a partir da ordem ética. Para tal deverão ser
garantidas informações mais claras e abertas pelos cientistas, que
nos permita saber quais as potenciais vantagens e desvantagens para
uma avaliação séria dos riscos quando da aplicação de
determinadas tecnologias.
2.7
Solidão
Embora
os humanos vivam juntos, alguns vivem massificados e outros como em
ilhas, isolados. Esse sofrimento de solidão é um desejo de
comunicação com algo que chega rapidamente. Por este motivo estamos
sempre fugindo da solidão e tentando nos comunicar. Quando um destes
encontros nos desencantam e penalizam, imaginamos que o melhor teria
sido não sair da solidão e ficar no tédio – uma sensação ruim,
que se manifesta quando nos aborrecemos com tudo.
Enquanto
seres humanos temos múltiplas representações e ocupações. Vale
dizer que somos um “grande projeto de comunicação, a espera de
encontros” e que procuramos vencer a solidão (BUZZI, 1998, p. 61).
Há uma certa necessidade da solidão para que nos lancemos ao
projeto de comunicação sem falhas. Sentimos o desejo de sair do
tédio em que vivemos. Às vezes, nossa existência sente a
necessidade de ir para as “baladas”, mas nos atordoamos ao seguir
este caminho. Sempre vai existir aquele silêncio profundo que nos
convida a escutar, e com eles estamos sempre na solidão. Considerado
como segredo sem conhecimento “temos que nos lançar para o mundo
conhecido cá fora e vivê-lo a partir do segredo lá de dentro”
(Ibid.).
O
ruído do mundo passa longe quando a solidão mora conosco, na
intimidade de nosso silêncio, no amadurecimento da dor. As falas são
excessivas e moram junto ao nosso segredo, na intimidade. Os fatos
ocorrem, mas precisamos da solidão que nos acompanha.
O
atleta que quer o corpo ágil não se dispersa; concentra-se, vai
para a solidão. Só atinge o longe quem volta a si e se recolhe
sobre suas próprias forças. É do fundo da alma solitária que saem
as energias e as esperanças para o empreendimento da
existência-humana-no-mundo. (BUZZI, 1998, p. 62).
É
nesta construção das possíveis realizações humanas que buscamos
um sentido para entender a relação que fazemos com o transcendente.
Na religiosidade também há o momento da solidão, no contato com o
sagrado, para a ativação e satisfação da espiritualidade. Não na
vivência espiritual solitária, mas numa relação de convivência
comunitária, mesmo estão no mais íntimo do segredo de nossa
solidão.
3
A fundamentação dos limites éticos e valores morais propostos
pelas várias tradições religiosas:
- Direitos e Deveres
Ética
é um sistema lógico do pensamento, que tem por fundamento o
‘objeto’ e a ‘lei’, esses pressupostos fazem parte do
referencial da vida humana. A Ética tem como meta a conquista da
excelência. O termo Ethos é de origem grega – caráter, ânimo,
decisão. A Ética sugere direitos e deveres. A moral do homem se
forma pela ética. O fato é que, a questão do ‘bem’ para o
homem é relativo e varia de cultura para cultura. “A moral e a lei
são instrumentos auxiliares da realização individual, limitados à
dimensão de verdade de que, certo grupo é histórica e socialmente
portador”, Santos, dentro desse contexto, adverte que a “Ética é
a reflexão sobre a ação humana, para extrair dela o conjunto
excelente de ações.” Porém as verdades e valores são de
natureza relativa, isto é, a noção de ‘bem’ e de ‘verdade’
depende da cultura e do contexto onde o fato esta inserido. 20
Em
Fábio Comparato a ética tem um sentido bem largo e abrange os
sistemas de campos distintos como a religião a moral e o direito. No
mundo antigo era praticamente impossível separar, distinguir e “opor
entre si estas três esferas de regulação do comportamento humano”.
Ao contrário na época moderna em que tais campos são distintos. 21
Os
Parâmetros Curriculares Nacional do Ensino Religioso nos indicam que
“Ethos é a forma interior da moral humana, isto é além de
normas, preceitos ou proibições”, cuja função é desmascarar e
ponderar as falsas realizações não-autênticas da realidade humana
e [...] projetar e configurar o ideal normativo. 22
Ética
Hindu.
“Nesta visão filosófico-religiosa, o homem é induzido a praticar
uma elevada espiritualidade, que elimina pela raiz toda a ação
violenta contra o bem individual e coletivo (ahimsha)”.
23
Influenciado pelos princípios budistas, os indianos desenvolveram
uma moral elevada, aceita pela sociedade, com a prática da
castidade, da veracidade, da compaixão, da piedade, e principalmente
da não violência. 24
Na
tradição Hindu, o mérito das obras deriva das atitudes interior
positivas, boas, corretas, que estimula a tolerância e o respeito ao
outro. “O fruto desta idéia é a doutrina do Bhagavad-Gita,
de que a ação benévola (maitri),
ou a compaixão pelo próximo (kuruma)
é capaz de operar a libertação do Karma
negativo”. 25
Com relação à não-violência ao próximo, assumida pelo
hinduísmo, se justifica, para eles, pela idéia de que, o outro pode
ser um ente querido reencarnado.
A
ética no Judaísmo: Nesta tradição religiosa, o homem é
senhor das coisas, mas tem que seguir e cumprir as regras divinas
instituídas por Deus. Ao homem é dada à opção de escolha entre
o caminho do bem ou do mal. Nesta concepção a recompensa é
justificada pelas obras. O judeu tem na bíblia sua orientação dos
valores éticos: “Amaras ao Eterno, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” Rampazzo
citando Deuteronômio (6,5). Em outra citação do I Testamento, “E
seremos justos aos olhos do Senhor, nosso Deus, se estivermos atentos
em praticar todos os estes mandamentos, como ele no-lo ordenou”.
(Deuteronômio - 6,25)
Ética
Cristã: Com relação à ética cristã Rampazzo (2004),
apresenta sua característica principal, através de dois textos do
Segundo Testamento:
- “Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças e [...] ao teu próximo como a te mesmo [...] não há outro mandamento maior que este”.
- “Tendes entre vos os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus”.
Respectivamente
o Evangelho de Marcos (12, 29-31) e trecho da carta de Paulo aos
Filipenses (2,5), aqui se percebe que a ética é regida pela fé,
baseada no exemplo de vida de Jesus, seguindo-o como modelo de vida.
Com seus ensinamentos podemos entender que Jesus apresentou dois
grandes valores Deus e o homem. A fonte da moral aqui é o amor e
busca-la deve-se levar em consideração não somente a ação em si,
mas sua intenção.
Como
a ética é baseado em valores como o amor, esta se torna uma busca e
uma fonte bastante exigente, pois para Jesus o amor como fonte de
valor inestimável deve ser capaz de sensibilizar o homem para
perdoar até os inimigos (Mt 5, 43-48).
Ética
no Islamismo: A
Ética Islã segue uma ordem interna do pensamento semelhante a das
demais tradições religiosas, ou seja, baseada em valores morais.
Porém ao contrário das demais, possui uma lógica externa
diferente. Este fato se deve ao meio histórico cultural no qual o
Islamismo se desenvolveu. “A ética do alcorão é a ética dos
árabes do deserto, consagrando os princípios gerais da valentia e
cavalheirismo, a austeridade de vida e certo desapego aos bens
terreno, ao lado de grande condescendência sexual e furiosa
violência na guerra”. 26
A obediência á ética é severamente cobrada pelos seguidores do
Islã, porém, contrariamente aos modelos de valores cristãos, suas
regras são mais frouxas em certos aspectos, como o da sexualidade,
por exemplo. Todavia, o descumprimento de tais regras é considerado
como falta gravíssima a ser cobrada pela comunidade como um todo.
“Nessa estrutura, é permitida a poligamia (só para homens) e o
divórcio; o adultério feminino é intolerável, (sendo que o
masculino o é)”. 27
No alcorão – livro sagrado do Islamismo, encontramos orientação
quanto à moralidade administrativa e comercial além de uma
preocupação eminente com relação aos pobres e órfãos, inclusive
orientando os fies a prática da caridade para com essas pessoas.
Rampazzo (2004) afirma que a moral Islã contribuiu para resolver
muitas questões sociais como minimizar a escravidão, a crueldade, a
superstição e fundamentar as práticas de higiene.
- - Respeito às diferenças culturais e religiosas: Diálogo religioso através da Ética.
O
respeito às diferenças no contexto cultural e religioso requer um
olhar para o outro. Quem é o outro? Que ideias podem ajudar na
justificativa deste respeito? No início pode haver um estranhamento
neste reconhecimento e respeito à religião do outro. Isto porque
pode-se conceber a sua religião como única verdadeira e sua noção
de sagrado como único e verdadeiro. Mas quando se observa e respeita
o ser humano em todas as suas dimensões, verifica-se que isto pode
fazer a diferença. O olhar para o outro torna-se diferente, as
propostas de aproximação e respeito da cultura e da religião do
outro torna-se dialógica.
Considera-se
o outro aquele de cultura e ou religião diferente. Sua visão de
mundo é outra, sua noção de sagrado é outra. É fundamental
estabelecer uma relação de diálogo que ultrapasse as diferenças e
se chegue ao lugar comum de todas as culturas e religiões. Este
lugar comum é o Ethos,
como chamava o povo grego da antiguidade. O habitat
natural onde se pode vislumbrar igualdade entre todos. O lugar do
respeito maior, do diálogo das dimensões vivenciadas e
espiritualizadas.
Certamente
os mestres Indus, os hebreus, os Budas, Jesus entre outros
iniciadores de reflexões religiosas diferentes têm na ética a
característica mais comum de todas. Todos têm o objetivo de
resgatar o homem completo, retirá-los de seu lugar comum, para
levá-los ao lugar comum a todos. As religiões orientais –
Budismo, Hinduísmo, religiões chinesas e japonas – procuram dar
suporte espiritual aos humanos para que ele alcance o sagrado com
suas possibilidades. As denominações religiosas cristãs procuram
alcançar o lugar mais alto – Céu – através de ações dadas
pelo exemplo ético de Jesus. As religiões Africanas e
Afro-brasileiras creem que os seus ancestrais agiram da melhor forma
para resgatar o mundo natural e o mundo humano afim de protegê-los.
As religiões indígenas brasileiras procuram livrar a cultura e a
natureza das ações dos espíritos.
Observa-se
o sagrado como elemento comum a todas as religiões para alcançar
algum bem, seja no plano espiritual, no plano natural ou no plano
humano. A intenção será iniciar com a resposta de um plano ético
através dos rituais. Esta ideia pode ser uma resposta para agir com
o diálogo e o respeito no plano de alcançar éticas mais
fundamentais e ver nas diferenças doutrinais e dogmáticas um valor
a ser cultivado. O que se quer é identificar nas diferentes
manifestações religiosas valores escondidos e com propósitos
éticos significativos a serem alcançados.
- O Comportamento ético.
4.1
- O que é Bioética?
A
bioética se referencia pela valorização da dimensão integral da
pessoa (transcendental, física, emocional). A bioética trata de
refletir sobre os princípios da vida e os limites da morte –
questões como aborto, eutanásia, estupro, incesto, entre outros.
Estes
valores devem ser confrontados com os problemas de desenvolvimento da
ciência biomédica, que apesar do entusiasmo pelas recentes
descobertas, não pode esquecer-se dos desafios das doenças não
dominadas, da prevenção dos males provocados pela própria
sociedade tecnológica e gerados pela exploração ecológica. 28
A
bioética discute, por exemplo, até onde podemos intervir na
genética para modificar plantas e animais, desligar ou não desligar
os aparelhos de uma pessoa declarada com morte cerebral. Rampazzo
(2004) nos faz a seguinte reflexão: o direito à vida está acima de
todos os demais direitos, mesmo ante do direito à liberdade, pois
para estar livre é preciso, antes de tudo estar vivo. A liberdade
dos indivíduos deve, portanto, respeitar esse limite, tanto com
relação à vida pessoal quanto a dos outros. “Assim, não se tem
direito, em nome da liberdade escolha, de dispor da supressão da
vida”. 29
Podemos
concluir que, a Ética se fundamente em conceitos Morais. Por sua
vez, “A importância do mundo moral evidencia-se pelo fato de que
não existe vida social sem a presença de regras ou normas de
conduta”. 30
A moral é a criação social, com signos de sentidos construídos
culturalmente, com objetivo de regular o comportamento das
sociedades, formadas a partir de um conjunto de valores, leis,
formais e tácitas, em fim, prescrições que regulam as interações
individuais e contribuem para a harmonia social. “A ação
realizada será moral ou imoral, conforme esteja de acordo ou não
com a norma estabelecida”. 31
Na
política, assim como em alguns atos cívicos e rotineiros do
brasileiro não é incomum, as coisas serem resolvidas pelo
“jeitinho”. O texto do jornalista Pedro Cavalcante afirma que
este ato característico de corrupção social, em pequena ou grande
escala, não é privilégio apenas do cidadão do Brasil, remonta na
verdade à Roma antiga, “Em Roma ele se chamava ‘bustarela’
(grifo nosso); em Moscou, ‘vzyatha’; em Berlim, ‘tink geld’
[...]”. 32
Portanto, os atos antiéticos são: desde pequenas ações (truques,
sutilezas, transgressões de normas com o objetivo de tirar vantagens
sobre o outro) às grandes infrações institucionais (desvios de
verbas públicas, improbidade administrativa, imparcialidade,
oportunismo). Se essas ações são consideradas antiéticas, então
são também imorais. A ética dessa forma, só existe com a
complacência da coerência.
1SILVA,
opo. cit., p. 5, 2013.
2SILVA,
2013.
3MINAYO,
Maria Cecília de Souza. DESLANDES, Suely Ferreira. A complexa
relação entre drogas, álcool e violência. Cad. Saúde Públ.,
Rio de Janeiro, 14(1):35-42, jan-mar, 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v14n1/0123.pdf>,
Acesso em: 18 out. 2013, p. 36.
4Ibid.,
2013, p. 36.
5Ibid.,
2013, P. 36.
6SANCHEZ,
Zila van der Meer. NAPPO, Solange Aparecida. Sequência de drogas
consumidas por usuários de crack e fatores interferentes. Rev Saúde
Pública 2002;36(4):420-30. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v36n4/11760.pdf>,
Acesso em 18 out. 2013, p. 421.
7Cf.
HUBERMAN, 1986.
8Ibid.
9Ibid.
10SINGER,
Peter. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 145.
11SINGER,
op. cit. 2002, p. 146-147.
12Ibid.,
2002, p. 148-152.
13Ibid.,
p. 153-156.
14CAMARGO,
1975, p. 20.
15CAMARGO,
1975.
16[...]
quando um óvulo e um espermatozóide se unem, seja natural ou
artificialmente, tornam-se um embrião (assim alterando
substancialmente sua natureza, no sentido de tornar-se qualquer
coisa diferente de si). Ou seja, o ser humano se constitui biológica
e geneticamente no momento da fertilização (quando há a formação
de uma nova entidade biológica que carrega um projeto
individualizado). (Ramos; Lucato, 2010).
17BRAZ;
CASTRO, 2003, p. 04.
18Inseminação
artificial: Temos o exemplo da inseminação artificial nos bovinos
que, desde meados deste século tem sido utilizada na disseminação
de vacas de alta produção leiteira e, mais recentemente, em
relação ao conteúdo do leite em gordura e proteína. A
inseminação artificial, embora tenha contribuído para melhorar
significativamente a produção de leite e carne, revela-se hoje ser
um processo lento, pois a informação genética só é
eficientemente veiculada pela via paterna, sendo necessário um
período de 10 anos (na melhor das hipóteses) para que a média da
produção de uma vacaria atinja o valor das melhores vacas da
exploração.
19Berger,
2004.
20SANTOS,
op. cit. 2004, p. 14.
21COMPARATO,
2006, p. 18.
22FONAPER,
Cad. 06, p. 08.
23RAMPAZZO,
op. cit., 2004, p. 79.
24RAMPAZZO,
2004.
25RAMPAZZO
2004, p. 80.
26RAMPAZZO,
2004, p. 145.
27Ibid.
28RAMPAZZO,
2004, p.145.
29Ibid.,
p. 176.
30FONAPER,
Cad. 06, p.16.
31Ibid.,
p.17.
32FONAPER,
cad. 06, p. 16.
1COMPARATO,
Fábio Konder. Ética: Direito, moral e religião no mundo moderno.
São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 47; 50.
2Idem,
op. cit., 2006, p. 47; 50.
3Ibid.,
2006, p. 61.
4Ibid.
5Cf.
COMPARATO, op.cit., 2006, p. 159-160.
6Ibid.,
2006, p. 254-255.
7SANTOS,
Antônio Raimundo dos. Ética: caminhos da realização humana. 4ª
ed., São Paulo, Ave-Maria. 2004, p. 7-27.
8
SANTOS, op. cit., 2004, p. 11.
9Ibid.,
2004, p.11.
10Ibid.,
2004, p. 14.
11Comparato,
op.cit., 2006, p. 18.
12
FONAPER, Cad. 06, p. 08.
13SANTOS,
2004.
14
RAMPAZZO, Lino. Antropologia Religiões e Valores Cristãos. 3ª Ed,
São Paulo, Edições Loyola, 2004, p. 215.
15
Socialismo científico: Fenômeno que tende a absolutizar a
economia, onde os processos econômicos se sobrepõem às outras
dimensões da vida humana, “é a tese do materialismo histórico
[...] Marx vê, na posse privada dos meios de produção, o
princípio de todo mal”. Dessa privatização nasce à relação
salarial pela qual o operário vende o próprio trabalho, sobre o
qual o empresário lucra injustamente a ‘mais valia’, isto é o
lucro (RAMPAZZO, 2004, p. 216-217).
16
O Liberalismo Clássico, que tem em Adam Smith (1723 – 1790) seu
principal ideólogo, considera a economia como uma realidade
autônoma, dotada de um mecanismo de auto-regulação que consiste,
primordialmente no interesse pessoal do homem econômico. (Rampazzo,
2004, p. 216). Nesta concepção o Estado é a expressão da
liberdade individual. No plano econômico, a liberdade do indivíduo,
ou dos grupos, é baseada apenas nas leis do mercado (oferta e
procura).
17
RAMPAZZO, op. cit., 2004, p. 231.
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