Dando continuidade dos textos base do referencial curricular para proporcionar aos professores e alunos o conhecimento das religiões em várias dimensões: filosófica, antropolótica, sociológica, psicológica e histórica:
veja também: Eixo 1
3.1.1 A função
política das ideologias religiosas
A religiosidade
representa para a sociedade uma parcela significativa de suas
atividades. Ao se estudar a sociedade a política e as instituições,
a sociologia pretende desvendá-lo como fato social. Em relação à
religiosidade, alguns estudos querem desvendar o que representam as
ideologias religiosas.
Nas sociedades
antigas a função da política das ideologias religiosas era
integrada na sociedade. Isto significa que não se via muita
distâncias entre as manifestações religiosas e as outras
organizações sociais existentes. Nas tradições religiosas dos
indígenas e de aborígenes australianos há esta integração. O que
há de elemento cultural está intimamente associada às
manifestações religiosas e vice-versa. As implicações que a
política e a organização social têm sobre esse tipo de sociedade
influenciam diretamente nas ideologias religiosas.
Na Idade Média as
implicações da ideologia religiosa sobre as questões políticas
são marcantes. Para os medievais Deus era o centro e a base para
explicar tudo. Não havia ideias diferentes sobre crença religiosa e
o pensamento girava em torno do que justificasse a única ideologia
religiosa da época, pensar nas coisas do mundo identificadas com a
existência de um Deus. Na Idade Moderna esse pensamento se modificou
e até se contrapôs ao pensamento medieval. O centro e a base já
não é mais Deus, mas o próprio homem. Os modernos pretendem
separar a religião da política. As ideologias religiosas passam a
ser vistas separadas do mundo das ciências e sua função política
já não representam muita coisa no mundo Ocidental.
No mundo atual,
verifica-se uma grande separação das coisas que são do mundo
religioso do mundo político, mas existe uma função política das
ideologias religiosas. E qual será esta função? As ideologias
religiosas estão presentes nos campos da moral, dos comportamentos,
das artes e das decisões sobre com quem dialogar.
Buda (Sidharta)
tomou uma decisão política importante que marcou o Budismo. Ele
decidiu sair dos palácios para se aproximar do outro, e mais
especialmente do sofrimento do outro. Jesus não queria o comércio
no Templo e não aceitou como os judeus queriam julgar os que estavam
com fome e colhiam o trigo no dia de Sábado para o seu próprio
alimento. Deus queria que Moisés fosse libertar o povo da
escravidão. A sua aparição na Sarça ardente revela que Deus tinha
um plano para Moisés. No Candomblé, os Orixás encaminham respostas
aos crentes para a prática do bem e defesa da natureza. Os Pajés
procuram orientações dos espíritos para que tragam o bem para a
aldeia e vivam em harmonia com a natureza.
O posicionamento
político desses líderes religiosos revelam que as ideologias
religiosas dirigidas para a prática do bem podem exercer uma função
política com significado expressivo. Nesses casos as religiosidades
estão sempre ao lado do “outro”, num diálogo com os menos
favorecidos – os pobres, os que tem fome, os encarcerados, a
natureza – e com a intenção de promover mudança social.
3.1.2 A função
social das diversas religiões
Nas sociedades as
religiões exercem a função de desenvolver um sistema de proteção
da vida, de extensão do significado da existência humana e de
interação e identificação do grupo social consigo mesmo e com o
Transcendente. Quanto à sua função social a religião pode ser
colaborativa no discurso público sobre a saúde, a educação, a
segurança pública e o desenvolvimento nacional. Ela também pode
ser executora e disseminadora desse discurso, visto que se apresenta
numa posição privilegiada para esse feito.
Numa expressão,
resumindo essa função, seria como “a busca da felicidade” em
todas as suas dimensões, não somente a espiritual. A sociedade pode
buscar na religião a identidade dos elementos de convivência
social. A ideia de comunidade, por exemplo, estabelecida a partir de
relações próximas e da realização de ritos comuns, pode dar
sentido de pertença à vida de um grupo social.
A religião dá um
sentido universal aos sentimentos humanos mais profundos. Ela pode
incluir um corpo de doutrina formal, chamado de teologia, um ritual,
uma experiência pessoal, os valores morais e uma organização de
fiéis e sacerdotes. Quanto à sua definição a religião pode ser
apresentada como o sentimento de solidão experimentada por
indivíduos que se relacionam com o divino ou ainda consideram buscar
um “Caminho” como no Budismo, no Xintoísmo e o confusionismo.
Mas o que permanece é a ideia de um poder sobre-humano, como força
abstrata e impessoal chamada Deus, fantasma ou espírito.
Para ilustrar vejam
os exemplos: os Melanésios do Pacífico Sul consideram religião à
crença num poder sobrenatural que pertence à religião dos
invisíveis. Suas práticas representam o uso de meios para adquirir
esse poder em benefício deles. Não é comum para este povo a noção
de Ser supremo. Nas religiões afro-brasileiras o Olorum (o ser
supremo) ocupa um lugar tão elevado que não existem rituais para
ele, rituais são apenas para os Orixás. O indígenas brasileiros em
algumas tradições precisam da ajuda do Pajé para negociar com os
espíritos, que podem causar doenças. A cura da doença depende de
como o Pajé acalma esses espíritos.
A função social da
religião neste sentido é o pedido de ajuda que os humanos fazem ao
divino. Isto faz viver melhor neste mundo e a ter boas relações com
os outros, com a natureza de forma solidária e colaborativa. Não
importa se a religião privilegia mais o ritual, ou a doutrina, a
crença, ou o ser supremo.
1.4 Psicologia e tradições religiosas: Em todas as religiões
a questão da psicologia é latente pois a influência dos líderes é
notada nos formatos das religiões (sermões, castigos,
direcionamentos):
As tradições religiosas possuem aspectos que podem ser definidos
como gerais, ou seja, possui em todas as culturas humanas. Um desses
aspectos é a espiritualidade. As visões que se tem da
espiritualidade mudam, mas seu entendimento, sua existência e seu
cultivo permanecem. A psicologia da religião pretende esclarecer a
dimensão espiritual humana a partir das tradições religiosas.
A psicologia estuda a psique humana, com o objetivo de entender as
dimensões existenciais. Estudos sobre a mente e o conhecimento
pretendem indicar formas de tratamento de possíveis doenças, bem
como a tentativa de soluções de problemas. Para a religião o
estudo da espiritualidade auxilia no bem-estar psicológico,
satisfação com a vida, felicidade, melhor saúde física de mental.
A espiritualidade pode dar sentido à vida das pessoas auxiliando-o
na morte e no sofrimento.
Aurora Camboim e Julio Rique afirmam que “a espiritualidade é a
busca pessoal por respostas compreensíveis para questões
existenciais sobre a vida, seu significado e a relação com o
sagrado ou transcendente que podem (ou não) levar ou resultar do
desenvolvimento de rituais religiosos e formação de uma
comunidade.” Existem preocupações com o sentido da vida, com o
que vem além dela, com o existir além da matéria, com a vida após
a morte. Essas e outras preocupações são pensadas pelos que
cultivam a espiritualidade.
A espiritualidade pode ser considerada como um fator positivo na
saúde das pessoas e beneficiam na ajuda contra o stresse. A
espiritualidade e a religiosidade ocorrem na adolescência de uma
forma intensa. Sejam em posicionamentos radicais de ateísmo ou
misticismo fervorosos. Na fase adulta há uma estabilidade das
inquietações religiosas, na fase de envelhecimento
1.4.1 A tradição religiosa na construção do inconsciente
pessoal e coletivo
Na visão de Carl
Jung o inconsciente pessoal é composto por material reprimido e de
complexos. Diferente disto, o inconsciente coletivo possui tendência
de sensibilidade a certos símbolos e apresentam sentimentos
profundos. Os símbolos religiosos e os conteúdos espirituais são
importantes para a organização da personalidade. O estudo dos
sonhos e dos desenhos feitos por Jung podem mostrar o inconsciente.
Essas ideias sobre o
inconsciente cultivam a espiritualidade. Uma das tarefas da
espiritualidade é dialogar com o mais profundo do nosso ser. Esse
contato faz com as pessoas identifiquem algo diferente no seu
interior. É isso o que algumas tradições religiosas chamam Deus. A
sociedade moderna precisa buscar a dimensão espiritual como algo que
dá ao homem o complemento para o seu ser.
Os seres humanos
possuem a dimensão da corporalidade e uma mente que é carregada de
desejos e sonhos. Mas existe uma dimensão que faz perguntas sobre a
existência humana: de onde venho? para onde vou? o que estou fazendo
aqui? Que energias que estão em nós e não somos dono, mas que
temos uma missão de domesticar e fazer um projeto de vida de união
com todas as pessoas? O nosso interior possui um mistério do qual
muitas vezes se é incapaz de reconhecer, mas que nos torna estranhos
de nós mesmos.
A dimensão
espiritual é o que eleva o ser humano. Ela está centralizada no
interior e eleva o ser humano para além deste universo. O seu
resgate para o mundo atual é urgente, pois essa dimensão está no
mais profundo de nós. É importante dialogar com ela, escutar a sua
voz, na perspectiva de compreender o mundo e se aproximar de valores
não materiais. O nosso inconsciente pessoal e coletivo nos dá a
possibilidade de viver essa dimensão que une o homem ao cosmos,
fortalece a sua capacidade de pensar nas coisas, no mundo e nos
outros. Essa é a tarefa da espiritualidade e independe da tradição
religiosa. Qualquer tradição religiosa aponta caminhos, dentro de
suas limitações e condições, para olhar essa dimensão.
1.4.2 A inter-relação religiosa.
A fé apresenta ao ser humano uma ponte entre o que ele é o que a
dimensão transcendente lhe apresenta. Não existe a fé sem sentir o
transcendente. Esse sentimento revela e dá possibilidade de se criar
e fazer crescer a interação do ser humano. A visão do homem
integral na perspectiva de se entender e de ser relacional. Sem
entender o foco principal do princípio e da origem da religião, que
é a dimensão espiritual, não existe a possibilidade de
inter-relação religiosa.
Não dá para entender a religião como uma “neurose coletiva” de
dependência em relação ao pai e a mãe e que isso é projetado
para um grande pai e mãe numa figura divina, como entendia Freud.
Ele ainda afirma que a religião serviria como uma terapia para as
pessoas não se tornassem neuróticas.
Diferente disto Leonardo Boff entende que a “neurose coletiva” é
uma coisa constante que não dá sossego ao ser humano. Não há algo
escrito em nós, no nosso código genético, para se chegar à
felicidade. Isso para Boff é um propósito do criador, pois o ser
humano precisa criar a sua felicidade. Ela não é dada nem no código
genético nem na sociedade. O que há é um conjunto de respostas em
que ele se dá e vai construindo a sua felicidade. A felicidade é um
processo de auto-realização e um processo de individuação humana.
Ele pode enfrentar tudo na vida, é um ser humano liberado. Essa é
uma construção humana, pessoal e coletiva.
O crescimento da dimensão coletiva para possibilitar uma
inter-relação religiosa entre os indivíduos de uma comunidade faz
buscar respostas não somente na individualidade. Embora que a sua
concretitude individual seja importante para a solução de problemas
comunitários, é importante também o estabelecimento de uma
convivência profundamente solidária. Ligar a busca do transcendente
à busca pela relação com o outro facilita o conhecimento de si e
do outro. Isso dá abertura maior ao ser humano liberado e o eleva
para além da materialidade.
muito obrigado! vou fazer minha tese religiosa a partir dessa pesquisa
ResponderExcluirobg
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