segunda-feira, 8 de abril de 2013

Texto base do referencial


Textos baseados nos eixos temáticos do Referencial curricular para o ER-RR
EIXO 1
  1. Cultura e tradições religiosas
A cultura significa o conjunto de coisas que são produzidas pelo ser humano. A religião só acontece dentro das culturas dos povos. A forma de organizar os cultos e de dirigir-se à divindade depende em certos aspectos do que existe na cultura daquele povo (acrescentar materiais e imateriais). Toda religião possui sua tradição, seja ela escrita ou oral, para atender a realização dos comportamentos e dos seus cultos. A tradição religiosa está dentro do conjunto cultural ao qual o povo pertence.
Observemos alguns exemplos do uso das cores nas diferentes tradições religiosas: as religiões Afro-brasileiras identificam as cores com cada Orixá a ser homenageado em seu culto, e as vestes são bastante coloridas. Os católicos identificam cada cor ao tempo litúrgico. Os evangélicos em seus cultos vestem-se com roupas que não chamam atenção, em geral com cores claras ou escuras mas nunca coloridas. Os budistas usam vestes coloridas com exceção do preto em algumas tradições. Os espíritas preferem vestes brancas. Os indígenas pintam-se de vermelho para ocasiões de festas.
Cada tradição religiosa entende as cores, os cultos, o sagrado e a divindade à sua maneira. Essas diferenças são apenas de forma, ou seja, na tradição é o que está aparente na maneira de se manifestarem. As tradições religiosas pretendem comunicar aos seus participantes um caminho do encontro com o sagrado, isto é, aquilo do que respeitam com profundo sentimento.

    1. Filosofia e tradição religiosa

A filosofia da Grécia Antiga entendida como amor a sabedoria procurou desvendar o significado da verdade. O saber, neste sentido, era a chave do encontro com a verdade. O sábio era o idoso, o mais velho, aquele que guardava a tradição. Isto significou que o sábio não precisava saber de tudo, mas saber o caminho que a verdade se manifestava. A filosofia começa na Grécia com uma indagação fundamental: “quem somos?” As tradições religiosas já haviam dado uma resposta para isso. Dentre as respostas estão: “Somos filhos de Deus”; “Somos seres espirituais”; “Somos almas em constante aperfeiçoamento”.
Para a filosofia este caminho não foi suficiente para as perguntas dos filósofos. Foi exigida outra resposta mais profunda. Ela teria que sair da razão humana e não de respostas com base no que dizia a tradição religiosa. Este impasse é respondido por vários filósofos antigos. O mais famoso deles, Sócrates, propôs encontrar a verdade com base nos dois caminhos: a razão e a tradição. A tradição religiosa, respeitada por Sócrates, podia ser retomada e a vivência religiosa não era abandonada.
Apesar deste confronto entre a visão da filosofia e a da tradição religiosa, há aspectos bastante próximos a serem considerados. As tradições religiosas são produto de uma reflexão, assim como a filosofia. Nelas há uma reflexão e suas respostas para as coisas da vida são aproveitadas por quem tem nelas a fé. As regras de comportamento de uma tradição religiosa é fruto do que a cultura daquele povo produziu. As normas dos cultos são passados pela tradição religiosa e realizadas pelos seus descendentes. Existem discussões feitas pela filosofia sobre a tradição religiosa dentro do cristianismo que ainda perduram hoje dentro do catolicismo. Várias tradições religiosas da China e da Índia estão muito associadas às filosofias.

      1. Filosofia Tradicional

O objetivo da filosofia é discutir refletidamente sobre as coisas da vida. O que são então essas coisas? O filósofo pode realizar reflexões sobre a origem da vida, assim como a religião também o faz. A diferença entre o que reflete o filósofo e o religioso é que o primeiro procura ficar só com os instrumentos que a razão humana lhe dá. Já o religioso pode incrementar este pensar com o que o ser humano sente para além de seu existir.
Na Antiguidade grega (Séc. IV a.C. à IV d.C.) a filosofia se aproximava do discurso religioso, mas com características próprias. A racionalidade foi para o pensamento grego o principal achado. Todas as reflexões filosóficas desta época procuravam o máximo a aproximação racional com a verdade. Aristóteles chega a indicar a maneira lógica de se aproximar da verdade. Ele inventou, com isto, a lógica formal. Demócrito chegou à ideia sobre o átomo, quando afirmava ser ele a menor partícula a existir. Platão pensou, através do que chamava de ideias, num mundo separado do nosso. Dois mundos, um verdadeiro e mais forte, que estaria além do que nós vemos, e um mais fraco, mais tenebroso, que seria o nosso mundo e tudo o que nós vemos.
Na Idade Média (Séc. IV ao XIV d.C.) a filosofia esteve muito próxima dos conceitos da tradição religiosa. Neste período os filósofos eram cristãos e procuraram refletir sobre a questão religiosa. A filosofia passa a ser considerada ajuda para explicações da teologia. Alguns filósofos diziam que a filosofia era a serva da teologia. Servia apenas como meio de explicar os desígnios de Deus na visão cristã ocidental.
A filosofia moderna (Séc. XV ao XVIII) pretendeu superar uma filosofia voltada para a religião. Os filósofos procuraram afastar a filosofia da teologia, tornando-a independente. Fundam assim a ciência moderna, criando uma forma de conhecimento que interpreta o mundo diferente da filosofia e da teologia. As tradições religiosas passam a ser consideradas como algo atrasado ou algo do passado que precisava ser superado. Muitos filósofos passam a entender a religião como um atraso ou algo que no passado foi necessário e que agora somente a ciência detinha todo o conhecimento da verdade.

      1. Filosofia contemporânea

O advento da filosofia contemporânea, chamada de filosofia pós-moderna, descobre uma série de problemas em relação à filosofia moderna. A primeira é o fato de se reconhecer que nem tudo poderia ser explicado pelas ciências. Existem sérias críticas ao tipo de conhecimento estático, baseado em estruturas matemáticas fundadas pela modernidade.
Na modernidade o conhecimento era voltado para o objeto. Em tudo se buscava o objeto para esclarecê-lo. A filosofia contemporânea passa a considerar também o sujeito, ou seja, o ser humano, como o elemento chave para explicar as coisas do mundo.
Esta relação sujeito e objeto é destacada por escolas como a fenomenologia. Seu objetivo é compreender as coisas do mundo dos objetos e do mundo humano através do fenômeno, ou seja, da manifestação do objeto ao sujeito.
O existencialismo passa a explorar ainda mais a questão do ser humano e sua relação com o mundo. Apresentam outra face, diferente das realidades físicas, a realidade espiritual. Este assunto é aprofundado pela psicologia como ciência, mas que possui grande influência da filosofia.
A hermenêutica, outra explicação filosófica contemporânea, passa a criticar a maneira com são interpretados os textos filosóficos e literários. Considera que o contexto de um texto é o que o explica. Existe então a necessidade de estudar a história com maior clareza possível para se interpretar os fatos e as realidades.

      1. A diversidade religiosa na visão tradicional e contemporânea

A diversidade religiosa era considerada um perigo para o desenvolvimento da civilização. Esta afirmação foi feita por diversos estudiosos no século XIX. Aquele que se apresentasse com uma cultura ou religião diferentes não eram considerados normais. O correto seria seguir uma única religião, a cristã. Os outros eram considerados pagãos, e neste sentido, desconsiderados na sociedade. No Brasil o catolicismo era a religião oficial até o final do império. No início da república, com o ideal de liberdades, a noção de liberdade religiosa passa a ser difundida.
Atualmente essa visão é considerada reducionista. A própria constituição federal de 1998 prevê a liberdade religiosa no seu inciso VI do artigo 5º, quando afirma ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. E o inciso VIII afirma que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política. A diversidade religiosa existente no Brasil é constituída das tradições afro-brasileiras, católicas, espíritas, evangélicas, judaicas, muçulmanos, indígenas, protestantes, as religiões orientais, etc.
O respeito a esta diversidade é importante porque, como todos têm sua religião, todos têm o direito de se manifestar da forma que lhe parecer melhor. Desde que não haja ultraje, desrespeito, negação e discriminação do outro. A negação do outro representa uma contrariedade à legislação federal que representou o auge da maturidade da democracia construída pelos brasileiros.


    1. História e tradição religiosa

Seria praticamente impossível conhecer as tradições religiosas sem a história. Desde os tempos de que se tem lembrança, as tradições religiosas estiveram presentes em todas as sociedades. É importante observar alguns momentos históricos fundamentais para o conhecimento das tradições religiosas. Na pré-história existem resquícios de diversos rituais. O principal deles é a reverência ou respeito identificados nos ritos aos mortos.
Essas tradições religiosas da antiguidade possuíam uma complexidade muito grande. O envolvimento dos mitos com os sentimentos e os desejos humanos faziam com que diversas histórias elaboradas e contadas se sustentassem.

      1. A evolução da estrutura religiosa nas organizações humanas no decorrer dos tempos

As primeiras manifestações religiosas aparecem unidas ao surgimento do ser humano. Essas manifestações surgem de forma isoladas e que eram sem uma organização específica, mas que eram realizadas com as intenções de prolongar a vida, de oferecer presentes a divindades ou homenagear os mortos. Após este momento histórico houve maior organização daquilo que se chama religião tribal. As culturas e religiosidades tiveram como base os mitos e as histórias que se tornaram símbolos desses povos. O mundo espiritual é organizado por rituais que rendem homenagens aos antepassados e a natureza. No entender desses povos os deuses e espíritos podem mudar a vida cotidiana.

        1. Tradições Religiosas da antiguidade

Havia aqueles relacionados às diversas interpretações míticas feitas pelos povos da antiguidade entre 4.000 anos Antes de Cristo (a.C.) ao século V depois de Cristo (d.C.).
Os antigos mesopotâmios associavam os deuses à natureza, aos astros e praticavam a astrologia e a adivinhação. Eles possuíam uma doutrina religiosa em que admitiam a luta do bem contra o mal.
Os egípcios, também politeístas, representavam seus deuses com formas humanas ou com corpo humano e cabeça de animais. Tinham um deus supremo chamado Rá (sol), os deuses do bem e do mal e o protetor dos mortos, da sabedoria e da escrita. O deus egípcio da criação era Ptah e o protetor do Faraó era Horus.
Os hebreus praticavam a crença monoteísta e são conhecidos por terem deixado o Antigo Testamento (Bíblia), monumental obra religiosa escrita. Vários líderes, chamados patriarcas, conduziram e orientaram o povo. Moisés, considerado o maior entre os hebreus, conduziu o povo na saída do Egito para viveram nas terras da Palestina.
Os fenícios possuíam um deus protetor para cada cidade-estado, Baal, e era associada a uma deusa protetora, Baalit. A Astarte era a deusa da fecundidade. Seu politeísmo admitia sacrifícios humanos em seus ritos.
Os cretenses adoravam uma deusa-mãe, representada por uma mulher com duas cobras nas mãos e um leopardo na cabeça. Nessa sociedade a mulher desfrutava de grande liberdade.
Os gregos eram politeístas e seus deuses possuíam formas humanas (antropomorfismo). Tinham a crença de que os deuses moravam no Monte Olimpo. Havia os deuses maiores, em número de doze, em que Zeus era o mais poderoso e os deuses menores como Dinísio. Acreditavam também em semideuses, filhos de deuses com humanos como Aquiles e Hércules.
Os romanos assimilaram vários deuses de outros povos. Passaram depois a divinizar seus imperadores. Para cada deus grego havia um nome romano. O soberano dos deuses para eles rea Júpiter.

      1. A origem e a evolução das tradições religiosas

As tradições religiosas da antiguidade possuem diversidade. Suas interpretações sobre a existência do mundo e do ser humano dependem da cultura de cada povo. Um dos exemplos atuais da existência dessas formas de culto é a Wicca. Ela representa uma religião neopagã com influências das crenças pré-cristãs. Acreditam no poder sobrenatural e na relação do feminino e do masculino integrados à natureza. O crescimento desta religiosidade deu-se nas décadas de 50 do século XX.
Com a organização das manifestações religiosas em instituições, como ocorreu com as grandes tradições religiosas, surgem as doutrinas que passam a organizar os cultos. O judaísmo se instituiu a partir da intensa vivência religiosa dos hebreus que descreviam acontecimentos, mitos e as alianças com Deus. Este livro chama-se Torá. O Cristianismo, que surge como movimento religioso dentro do Judaísmo e se fortalece a partir do séc. VI d.C. Os ensinamentos de Jesus Cristo estão nos evangelhos ou Novo Testamento. O Islamismo se desenvolve a partir das profecias de Maomé. Essas profecias estão escritas no Alcorão ou Corão.
O Protestantismo surge como dissidência do Catolicismo na Europa. Martinho Lutero, em 1517, criou um manifesto de 95 teses para combater a venda de indulgências que perdoava os pecados concedida pela igreja. Lutero, então, rompe com a igreja através do movimento chamado Reforma Protestante. Os que eram contra a reforma passaram a chamar os seguidores de Lutero de luteranos, mas preferiam ser chamados de evangélicos. Daí surgem diversas denominações religiosas cristãs que davam maior autonomia aos fiéis. A salvação passa a ser dada diretamente por Deus, não tendo mediadores como acontece na Igreja Católica.
As religiões orientais possuem características semelhantes. Nelas há uma mistura de religião e filosofia. Assim acontece no Taoísmo quando acredita no Tao como harmonia perfeita. O Budismo se considera uma filosofia de vida que procura evitar o sofrimento. No Hinduísmo há diversas tendências filosóficas que cultivam a Yoga, a sabedoria e os rituais. O confucionismo era a filosofia e a doutrina oficial do estado na época de Confucio.
Pode-se considerar como origem das religiões um acontecimento primeiro, uma coisa espetacular, algo extraordinário nunca antes ocorrido que dá aos fiéis caminhos para a realização humana. A busca da felicidade e do sentido da vida são pontos chaves para a vida espiritual. O comportamento moral ou a forma de se vestir podem ser definidos pelas religiões. Essa exigência pode ser orientada pela cultura ou pelas instituições, mas que possuem algo em comum: as regras. Sejam elas imperativas ou não, mas sempre existe alguma norma de realização ou não de coisas para que a religiosidade se complete.
A realização do rito é o que identifica o fiel na sua denominação religiosa. Podem ser um rito de iniciação, como acontece entre os povos indígenas, ou um rito de festa nas homenagens aos Orixás nas religiões afro-brasileiras. Os ritos do batismo para os cristãos, a viagem a Meca para os muçulmanos ou ainda a Páscoa celebrada pelo Judaísmo representam ritos essenciais para essas denominações.


      1. A evolução da estrutura religiosa no Brasil

As tradições religiosas do Brasil possuem dependência da diversidade cultural. As diferenças culturais, sociais e econômicas tem sua origem na grande extensão territorial do país. A cultura dos colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos constituem os primeiros povos influentes na cultura e religiosidade do país. Somente entre os séculos XIX e XX é que os imigrantes italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultural do Brasil.
Destas influências culturais, a religiosidade representada por diversas manifestações como a festa de Iemanjá, a lavagem das escadarias do Bonfim e o Maracatu no Nordeste. Os inúmeros rituais das tribos indígenas brasileiras onde pinturas e uma diversidade de acessórios são utilizados. No Norte o círio de Nazaré de Belém (PA) é a maior manifestação religiosa dos católicos. A festa do Divino, originada dos portugueses, em Rondônia. A folia dos reis, uma manifestação religiosa e cultural que celebra o nascimento de Jesus. Em Taguatinga, no Sul de Tocantins, acontecem as cavalhadas na festa de Nossa senhora da Abadia. As diversas manifestações populares através de procissões católicas e das caminhadas evangélicas denominadas de “Marcha para Jesus”.
É importante reconhecer que em grande parte das manifestações religiosas do país apresentam elementos misturados. Isto é chamado de sincretismo religioso, onde algumas características de uma denominação religiosa se apresentam em outra. Exemplo disto é a lavagem das escadarias do Bonfim, realizadas por religiões afro-brasileiras em uma igreja católica. Esta mistura representa uma conversação entre manifestações religiosas diferentes e que constitui importante interação no reconhecimento da diversidade religiosa do Brasil.

    1. Sociologia e tradição religiosa

A sociologia como estudo das sociedades vê as tradições religiosas como o conjunto de fatos sociais representados pelo ser humano. Numa comunidade humana há um conjunto de manifestações culturais, dentre as quais a religião, desenvolvidas a partir de representações e conhecimentos elaborados.
Uma tradição religiosa é, na verdade, produto do desenvolvimento cultural de um povo. Ela representa uma formulação a partir de conhecimentos adquiridos através dos mitos, das filosofias e das ciências e que não se reduzem a elas. Sendo assim, a religião não é nem filosofia e nem ciência. Seu objetivo não é o mesmo como os das outras formas de conhecimento, ainda que haja diálogo entre elas. Sua representação na sociedade parte de ideias relacionadas à realização humana, ao complemento dos sentimentos humanos e ao êxtase, ou seja, uma euforia que completa os desejos humanos.
A religião como instituição social influencia e é influenciada por seus fiéis. Ela ainda influencia e é influenciada pela sociedade. O que representam essas influências? Na instituição a religião passa a tomar grandes proporções. Ela se manifesta através de outras instituições como a família, o trabalho e até mesmo o estado.
A ética das religiões podem determinar algo dentro da sociedade. O sociólogo alemão Max Weber estudou sobre como a ética das religiões protestantes influenciava na formação dos países capitalistas mais desenvolvidos. Emile Durkheim tratou sobre o fenômeno religioso a partir da vida dos aborígenes australianos. É importante observar esses estudos porque a partir deles pode-se observar as influências mútuas entre religião e sociedade.
Outra influência bastante forte é a da Igreja Católica na Idade Média. Para a sociedade medieval tudo girava em torno de Deus. Tudo estava dirigido a ela e a igreja era que respondia a todos os dilemas sociais e religiosos. As respostas de todas os enigmas estavam na religião ou tinham a sua ingerência. Não havia nenhuma dúvida sobre Deus ou sobre o poder da igreja sobre a sociedade. Os que ousavam se opor eram considerados hereges e poderiam ser mortos pela instituição estado-igreja. A instituição era considerada dona da verdade, não havia como criticar.
O sincretismo como temática referente as tradições religiosas representa uma acomodação de diversas manifestações religiosas que passam a ter um novo jeito. O exemplo disto são as religiões que tiram ideias de outras reelaborando o conceito inicial. No Brasil, as religiões afro-brasileiras deram novo significado aos santos católicos, considerando-os energia semelhante aos Orixás. A Igreja Universal do Reino de Deus reelaborou o conceito de cura através da imposição das mãos já existentes nas religiões afro-brasileiras.

3.1.1 A função política das ideologias religiosas

A religiosidade representa para a sociedade uma parcela significativa de suas atividades. Ao se estudar a sociedade a política e as instituições, a sociologia pretende desvendá-lo como fato social. Em relação à religiosidade, alguns estudos querem desvendar o que representam as ideologias religiosas.
Nas sociedades antigas a função da política das ideologias religiosas era integrada na sociedade. Isto significa que não se via muita distâncias entre as manifestações religiosas e as outras organizações sociais existentes. Nas tradições religiosas dos indígenas e de aborígenes australianos há esta integração. O que há de elemento cultural está intimamente associada às manifestações religiosas e vice-versa. As implicações que a política e a organização social têm sobre esse tipo de sociedade influenciam diretamente nas ideologias religiosas.
Na Idade Média as implicações da ideologia religiosa sobre as questões políticas são marcantes. Para os medievais Deus era o centro e a base para explicar tudo. Não havia ideias diferentes sobre crença religiosa e o pensamento girava em torno do que justificasse a única ideologia religiosa da época, pensar nas coisas do mundo identificadas com a existência de um Deus. Na Idade Moderna esse pensamento se modificou e até se contrapôs ao pensamento medieval. O centro e a base já não é mais Deus, mas o próprio homem. Os modernos pretendem separar a religião da política. As ideologias religiosas passam a ser vistas separadas do mundo das ciências e sua função política já não representam muita coisa no mundo Ocidental.
No mundo atual, verifica-se uma grande separação das coisas que são do mundo religioso do mundo político, mas existe uma função política das ideologias religiosas. E qual será esta função? As ideologias religiosas estão presentes nos campos da moral, dos comportamentos, das artes e das decisões sobre com quem dialogar.
Buda (Sidharta) tomou uma decisão política importante que marcou o Budismo. Ele decidiu sair dos palácios para se aproximar do outro, e mais especialmente do sofrimento do outro. Jesus não queria o comércio no Templo e não aceitou como os judeus queriam julgar os que estavam com fome e colhiam o trigo no dia de Sábado para o seu próprio alimento. Deus queria que Moisés fosse libertar o povo da escravidão. A sua aparição na Sarça ardente revela que Deus tinha um plano para Moisés. No Candomblé, os Orixás encaminham respostas aos crentes para a prática do bem e defesa da natureza. Os Pajés procuram orientações dos espíritos para que tragam o bem para a aldeia e vivam em harmonia com a natureza.
O posicionamento político desses líderes religiosos revelam que as ideologias religiosas dirigidas para a prática do bem podem exercer uma função política com significado expressivo. Nesses casos as religiosidades estão sempre ao lado do “outro”, num diálogo com os menos favorecidos – os pobres, os que tem fome, os encarcerados, a natureza – e com a intenção de promover mudança social.

3.1.2 A função social das diversas religiões

Nas sociedades as religiões exercem a função de desenvolver um sistema de proteção da vida, de extensão do significado da existência humana e de interação e identificação do grupo social consigo mesmo e com o Transcendente. Quanto à sua função social a religião pode ser colaborativa no discurso público sobre a saúde, a educação, a segurança pública e o desenvolvimento nacional. Ela também pode ser executora e disseminadora desse discurso, visto que se apresenta numa posição privilegiada para esse feito.
Numa expressão, resumindo essa função, seria como “a busca da felicidade” em todas as suas dimensões, não somente a espiritual. A sociedade pode buscar na religião a identidade dos elementos de convivência social. A ideia de comunidade, por exemplo, estabelecida a partir de relações próximas e da realização de ritos comuns, pode dar sentido de pertença à vida de um grupo social.
A religião dá um sentido universal aos sentimentos humanos mais profundos. Ela pode incluir um corpo de doutrina formal, chamado de teologia, um ritual, uma experiência pessoal, os valores morais e uma organização de fiéis e sacerdotes. Quanto à sua definição a religião pode ser apresentada como o sentimento de solidão experimentada por indivíduos que se relacionam com o divino ou ainda consideram buscar um “Caminho” como no Budismo, no Xintoísmo e o confusionismo. Mas o que permanece é a ideia de um poder sobre-humano, como força abstrata e impessoal chamada Deus, fantasma ou espírito.
Para ilustrar vejam os exemplos: os Melanésios do Pacífico Sul consideram religião à crença num poder sobrenatural que pertence à religião dos invisíveis. Suas práticas representam o uso de meios para adquirir esse poder em benefício deles. Não é comum para este povo a noção de Ser supremo. Nas religiões afro-brasileiras o Olorum (o ser supremo) ocupa um lugar tão elevado que não existem rituais para ele, rituais são apenas para os Orixás. O indígenas brasileiros em algumas tradições precisam da ajuda do Pajé para negociar com os espíritos, que podem causar doenças. A cura da doença depende de como o Pajé acalma esses espíritos.
A função social da religião neste sentido é o pedido de ajuda que os humanos fazem ao divino. Isto faz viver melhor neste mundo e a ter boas relações com os outros, com a natureza de forma solidária e colaborativa. Não importa se a religião privilegia mais o ritual, ou a doutrina, a crença, ou o ser supremo.


1.4 Psicologia e tradições religiosas: Em todas as religiões a questão da psicologia é latente pois a influência dos líderes é notada nos formatos das religiões (sermões, castigos, direcionamentos):

As tradições religiosas possuem aspectos que podem ser definidos como gerais, ou seja, possui em todas as culturas humanas. Um desses aspectos é a espiritualidade. As visões que se tem da espiritualidade mudam, mas seu entendimento, sua existência e seu cultivo permanecem. A psicologia da religião pretende esclarecer a dimensão espiritual humana a partir das tradições religiosas.
A psicologia estuda a psique humana, com o objetivo de entender as dimensões existenciais. Estudos sobre a mente e o conhecimento pretendem indicar formas de tratamento de possíveis doenças, bem como a tentativa de soluções de problemas. Para a religião o estudo da espiritualidade auxilia no bem-estar psicológico, satisfação com a vida, felicidade, melhor saúde física de mental. A espiritualidade pode dar sentido à vida das pessoas auxiliando-o na morte e no sofrimento.
Aurora Camboim e Julio Rique afirmam que “a espiritualidade é a busca pessoal por respostas compreensíveis para questões existenciais sobre a vida, seu significado e a relação com o sagrado ou transcendente que podem (ou não) levar ou resultar do desenvolvimento de rituais religiosos e formação de uma comunidade.” Existem preocupações com o sentido da vida, com o que vem além dela, com o existir além da matéria, com a vida após a morte. Essas e outras preocupações são pensadas pelos que cultivam a espiritualidade.
A espiritualidade pode ser considerada como um fator positivo na saúde das pessoas e beneficiam na ajuda contra o stresse. A espiritualidade e a religiosidade ocorrem na adolescência de uma forma intensa. Sejam em posicionamentos radicais de ateísmo ou misticismo fervorosos. Na fase adulta há uma estabilidade das inquietações religiosas, na fase de envelhecimento

1.4.1 A tradição religiosa na construção do inconsciente pessoal e coletivo

Na visão de Carl Jung o inconsciente pessoal é composto por material reprimido e de complexos. Diferente disto, o inconsciente coletivo possui tendência de sensibilidade a certos símbolos e apresentam sentimentos profundos. Os símbolos religiosos e os conteúdos espirituais são importantes para a organização da personalidade. O estudo dos sonhos e dos desenhos feitos por Jung podem mostrar o inconsciente.
Essas ideias sobre o inconsciente cultivam a espiritualidade. Uma das tarefas da espiritualidade é dialogar com o mais profundo do nosso ser. Esse contato faz com as pessoas identifiquem algo diferente no seu interior. É isso o que algumas tradições religiosas chamam Deus. A sociedade moderna precisa buscar a dimensão espiritual como algo que dá ao homem o complemento para o seu ser.
Os seres humanos possuem a dimensão da corporalidade e uma mente que é carregada de desejos e sonhos. Mas existe uma dimensão que faz perguntas sobre a existência humana: de onde venho? para onde vou? o que estou fazendo aqui? Que energias que estão em nós e não somos dono, mas que temos uma missão de domesticar e fazer um projeto de vida de união com todas as pessoas? O nosso interior possui um mistério do qual muitas vezes se é incapaz de reconhecer, mas que nos torna estranhos de nós mesmos.
A dimensão espiritual é o que eleva o ser humano. Ela está centralizada no interior e eleva o ser humano para além deste universo. O seu resgate para o mundo atual é urgente, pois essa dimensão está no mais profundo de nós. É importante dialogar com ela, escutar a sua voz, na perspectiva de compreender o mundo e se aproximar de valores não materiais. O nosso inconsciente pessoal e coletivo nos dá a possibilidade de viver essa dimensão que une o homem ao cosmos, fortalece a sua capacidade de pensar nas coisas, no mundo e nos outros. Essa é a tarefa da espiritualidade e independe da tradição religiosa. Qualquer tradição religiosa aponta caminhos, dentro de suas limitações e condições, para olhar essa dimensão.

1.4.2 A inter-relação religiosa.

A fé apresenta ao ser humano uma ponte entre o que ele é o que a dimensão transcendente lhe apresenta. Não existe a fé sem sentir o transcendente. Esse sentimento revela e dá possibilidade de se criar e fazer crescer a interação do ser humano. A visão do homem integral na perspectiva de se entender e de ser relacional. Sem entender o foco principal do princípio e da origem da religião, que é a dimensão espiritual, não existe a possibilidade de inter-relação religiosa.
Não dá para entender a religião como uma “neurose coletiva” de dependência em relação ao pai e a mãe e que isso é projetado para um grande pai e mãe numa figura divina, como entendia Freud. Ele ainda afirma que a religião serviria como uma terapia para as pessoas não se tornassem neuróticas.
Diferente disto Leonardo Boff entende que a “neurose coletiva” é uma coisa constante que não dá sossego ao ser humano. Não há algo escrito em nós, no nosso código genético, para se chegar à felicidade. Isso para Boff é um propósito do criador, pois o ser humano precisa criar a sua felicidade. Ela não é dada nem no código genético nem na sociedade. O que há é um conjunto de respostas em que ele se dá e vai construindo a sua felicidade. A felicidade é um processo de auto-realização e um processo de individuação humana. Ele pode enfrentar tudo na vida, é um ser humano liberado. Essa é uma construção humana, pessoal e coletiva.
O crescimento da dimensão coletiva para possibilitar uma inter-relação religiosa entre os indivíduos de uma comunidade faz buscar respostas não somente na individualidade. Embora que a sua concretitude individual seja importante para a solução de problemas comunitários, é importante também o estabelecimento de uma convivência profundamente solidária. Ligar a busca do transcendente à busca pela relação com o outro facilita o conhecimento de si e do outro. Isso dá abertura maior ao ser humano liberado e o eleva para além da materialidade.

Referências
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