sábado, 20 de dezembro de 2014

Livro de ciências da religião

A obra Compêndio de ciência da religião ganha em 3º lugar  o prêmio Jabuti da área de ciências humanas. Ela contém uma série de textos, muito bem organizados pelos Doutores Frank Usarski e João Décio Passos, que contemplam diversas temáticas inclusive sobre o ensino religioso. Esse livro apresenta uma reflexão ampla e profunda sobre os assuntos abordados.
Para ver mais detalhes da obra:
http://www.paulinas.org.br/loja/?system=produtos&action=detalhes&produto=524131

O ensino religioso: desafios e perspectivas

A revista de Teologia e Ciências da Religião apresenta uma edição sobre o Ensino Religioso. Você pode ler no Editorial:
Este número da Revista de Teologia e Ciências da Religião da UNICAP tem como tema “Ensino Religioso: desafios e perspectivas”. É importante lembrar que o Ensino Religioso tem como objetivo desenvolver a dimensão religiosa do ser humano, no conjunto de sua formação integral...
Continuar lendo ....
http://www.unicap.br/ojs-2.3.4/index.php/theo

Como surgiu o calendário

Um jeito divertido de saber como surgiram os diversos tipos de calendários é esta apresentação de uma rádio que explica o jeito caipira de como eles surgiram.
Como é bom a gente aprender rindo ...
A gravação é de 2007, mas como serve para nós ainda hoje.
Você vai ter que baixar para ouvir.
Calendario do caipira


Confirmação da teoria do big bang

Como pode um ponto inimaginavelmente pequeno transformar-se num volume dum berlinde de brincar, num tempo tão curto que mal o podemos medir?
Resposta: deixando uma marca indelével de ondas gravitacionais.
Continuar lendo:
http://www.astropt.org/2014/03/17/inflacao-cosmica-descoberta-espetacular-confirma-teoria-do-big-bang/

Entender como a ciência vê o universo

Uma sequência de programas apresentados pelo Fantástico da Rede Globo, o Poeira das estrelas, dá uma visão da ciência sobre o universo. É interessante a gente observar esses vídeos, pois  é dessa forma a compreensão dos cientistas, mas não de todos. É uma visão interessante de como é visto o universo a partir da ciência, de suas principais teorias, como a do big bang, por exemplo.
Acesse o link que lá você observa a sequência do programa Poeira das estrelas:
https://www.youtube.com/results?search_query=Poeira+das+estrelas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

RELAÇÃO DE CONTEÚDOS: 6º AO 9º ANO


6º ANO
7º ANO
8º ANO
9º ANO
1. Cultura de tradição oral nas religiões:
1.1. Oralidade e religiões antigas
1.2. Os mitos e a identidade religiosa
2. Textos das tradições religiosas:
2.1. Textos Sagrados
2.2. Textos das religiões Orientais
3. As Lideranças religiosas
3.1. O iniciadores das religiões
3.2. Projetos missionários e proféticos
4. Revelações nas religiões:
4.1. As revelações nas religiões Orientais
4.2. As revelações nas religiões Ocidentais
1. As origens das tradições religiosas:
1.1. As religiões mundiais
1.2. Religiões afro-brasileiras e indígenas
2. A ética nas religiões:
2.1. O bem e o mal
2.2. Valores religiosos
3. Costumes religiosos na família e na sociedade
3.1. Critérios de costumes familiares
3.2. Os costumes religiosos na sociedade
4. As denominações religiosas no Brasil:
4.1. História das religiões
4.2. Novos movimentos religioso
1. Os ritos e os símbolos religiosos:
1.1. Diversidade religiosa
1.2. Divindades e fé
2. Morte ressurreição e reincarnação:
2.1. Vida além-morte
2.2. Ideias de retorno e morte
3. A violência no contexto religioso:
3.1 O fundamentalismo das religiões
3.2 O diálogo como superação da violência
4. Celebrações do Judaísmo
4.1. O ano novo judaico: o dia do julgamento
4.2. O contexto da páscoa
1. A vida comunitária nas tradições religiosas:
1.1. Problemas sociais e religião
1.2. Leis, normas e comportamento
2. Espiritualidades:
2.1 Vida espiritual religiosa
2.2. Vida espiritual dos sem-religião
3. Transcendente nas religiões
3.1. As divindades
3.2. O ser humano e o sentido da vida
4. As dimensões coletivas das manifestações religiosas:
4.1. A relação entre estado e religião
4.2. Religião e política no Brasil

Texto: Espiritualidade


Organizadores: Prof. Esp. Francisco Ribeiro da Silva e Me. Manoel Gomes Rabelo Filho

Resumo: Este texto contem uma apresentação das ideias dos Professores Dr. José Policarpo Júnior e Dr. Marcelo Pelizzoli sobre o significado de espiritualidade no contexto filosófico do humanismo e no contexto religioso.

Entre espiritualidade e religião há uma relação possível, mas não necessária. As tradições religiosas promovem e ajudam o fiel a desenvolver a espiritualidade no sentido que Dalai-Lama nos coloca: “A espiritualidade produz uma mudança interior no ser humano”. Mas isso não é necessário e nem todas as religiões ou vivências religiosas conduzem ao desenvolvimento da espiritualidade.1
Há uma série de polêmicas relacionadas às questões de espiritualidade e religião. O primeiro aspecto a se compreender é que a espiritualidade está para a religião assim como o mito está para a mística. A religião é uma dimensão instituída de ritos e vivências de algo anterior, que é a mística, a conexão do ser humano com o sagrado. Esta conexão entra numa dimensão fundante do ser humano em todas as tradições religiosas, antes do cristianismo, antes das organizações religiosas propriamente ditas. As religiões constituem uma vivência mais organizada da espiritualidade, mas a espiritualidade é anterior. A própria palavra espiritualidade tem a ideia de espírito. Há pessoas que a entendem como algo fantasmagórico, mas nas tradições mais antigas, como em grego Pneuma é o ar e ao mesmo tempo é espírito, em hebraico Ruah que é o sopro e também espírito e o Spiritus em latim. Todos possuem uma ideia conectada com a natureza, não uma coisa abstrata. Religião possui uma ideia de religar o homem com o sagrado. Na tradição Ocidental, muito marcada pelo cristianismo, se volta muito à questão de Deus, de religar o homem com Deus, ao monoteísmo, que não é a maioria da humanidade, nunca foi.2

O que é espiritualidade?
Espiritualidade é uma compreensão determinada do ente humano, de todos os seres, e também um modo de viver, correspondente a tal compreensão. Para o meio intelectual é muito fácil separar o que é da existência – o que se vive – do que é da esfera do pensamento. Na espiritualidade esta separação é impossível, ou inadequada. É preciso que a compreensão do ser humano seja associada ao modo de viver, tudo o que promove no ser humano a sua unificação consigo mesmo, com os outros, com o ambiente, com o cosmos, e para aqueles que acreditam com o sentido último, isto é espiritualidade. Essa unificação é promovida por atividades humanas que são do âmbito do invisível. No campo da filosofia as atividades espirituais como a razão, o acesso aos valores, o querer, o julgar são atividades espirituais, isto é, não são do visível, mas do invisível. Nem por isso são atividades menores. São essenciais ao ser humano. Ele só se unifica consigo mesmo e com os outros, com o ambiente por meio do cultivo desta dimensão que é a esfera do invisível.3
A espiritualidade é uma compreensão, não meramente racional, é um diálogo da vida inteira do sujeito da vida com a verdade, da adaptação do ser humano ao social, ao natural e acima de tudo uma vivência. A espiritualidade é uma dimensão prática de sentido, não é simplesmente dizer “eu acredito que Jesus salva” e eu estou salvo. Isso não tem relação com a espiritualidade, pois ela é a vivência naquilo que ocorre. Lévinas diz que “espiritualidade é a fome do outro”. Com isso ele dá um corte nas dimensões muito abstratas e dogmáticas da espiritualidade, porque é a fome que o outro está passando, que é um ser humano como eu, e ao mesmo tempo a fome que eu tenho do outro, do grande Outro, a fome que se tem em nível de espiritualidade no sentido mais profundo que você pode chamar de Deus, pode chamar de natureza, de amor. É importante pensar uma espiritualidade não dicotômica. Temos uma tradição milenar de uma espiritualidade dicotomizada – reforça a separação extrema entre bem e mal, entre Deus e o diabo – reforçada pelas religiões. Aquela noção maniqueísta do mundo, ou se é do bem ou do mal. É claro que todos querem pertencer ao grupo do bem. Como vencer isso, visto que uma espiritualidade que afirma serem os outros do diabo e a si mesmos como salvos não é espiritualidade, porque trai toda a tradição de espiritualidade, no sentido de uma tradição adequada, do sujeito no mundo, do papel de aceitação do outro, da aceitação da vida que no fundo é o amor. Se observarmos Cristo, Buda e outros possuem esta tradição. Na Índia existem templos com casais realizando ato sexual, o que não há em um templo Ocidental. Para um dogmático do Ocidente isto representa a decadência, significa um pecado. Para uma pessoa que não tem essa dicotomia, o sexo é a perfeição da espiritualidade.4
Para Comte-Sponville – autor de O espírito do ateísmo – ser ateu não é negar a existência do absoluto, é negar que o absoluto seja Deus. Há, no Brasil, o crescimento dos sem-religião, isto representaria o fim espiritualidade nessas pessoas? Certamente que não, o próprio Luc Ferry em sua obra – A revolução do amor: Por uma espiritualidade laica – trata da importância da espiritualidade laica. É possível uma espiritualidade laica entre ateus, no entanto têm-se a dúvida se os ateus aceitariam o termo espiritualidade, mas deve-se ter atitude de respeito quando não há a aceitação.5
Carl Gustav Jung afirma que o último obstáculo para se chegar ao sagrado – o mais profundo, podendo ser Deus – é a religião. Muitas vezes a religião pode reproduzir – como dizia Sigmund Freud – dimensões neuróticas do ego, do sujeito, os medos mais profundos, da sua carência, da sua falta, da sua dimensão de incompletude do ser humano. Há, portanto, um limiar complexo, muito próximo entre neurose e uma espiritualidade mais sadia. Vê-se problemas de pessoas que tem uma visão dogmática, que cai numa neurose, até numa psicose.6
É possível que a religião seja a ponte para algumas pessoas desenvolverem a espiritualidade autêntica. É claro que absolutizar não é o caminho. Muitas pessoas encontram de fato este aspecto valioso, por meio das religiões.7
As religiões são veículos que conduzem a algum lugar. Esse lugar é a dimensão mais profunda do ser humano, que é a dimensão da vivência do sagrado. É algo mais profundo que dá um sentido de transcendência do ser humano, da busca pela alteridade, pelo outro, pela sua completude, é a ideia de religação. As religiões tem grande importância, por outro lado podem criar obstáculos dos mais terríveis. Observa-se isto através de um fenômeno, que está aparecendo no Brasil e não era muito comum, chamado fundamentalismo, que é o maniqueísmo ou dogmatismo da concepção de um povo eleito, o único salvo. A noção de que se vai para o inferno, de que só uma religião salva, de que só há uma forma de Deus. Existe uma visão de um Jesus branco e de olhos azuis, que é um deus judaico e depois passado para a Europa – uma noção europeia de deus.8 Significa que a visão que se tem de Deus é antropomórfica. Os seres humanos dão forma para o sagrado conforme a cultura. O Buda, no Japão, tem os olhos puxados. Não importa se Deus é amarelo, branco ou não for nenhuma pessoa, não é necessário nem ser uma pessoa, ele pode ser impessoal. No Budismo e em várias religiões ele é impessoal. Isso não interessa, o que interessa é que a vivência desse sagrado seja um bom veículo, e que chegue ao local.9
Em certo sentido já nascemos com a espiritualidade. Ela é desenvolvida, cultivada. Em outro sentido ela é inata – já nascemos com ela – na medida em que já desenvolvemos uma compreensão da espiritualidade. A tradição budista diz que o Buda, após se iluminar percebe que tudo é perfeito, que todos os seres já eram perfeitos, antes dele se iluminar, que o nosso mundo é perfeito, isto é, existia uma perfeição intrínseca, quando a pessoa percebe a profunda conexão com todos os seres e com todos os contextos, ela entende que tudo já é espiritual. Para que alguém desenvolva ou se aproxime desta compreensão, certamente, a espiritualidade vai ter que ser cultivada, desenvolvida. Não há forma única e nem a educação garante coisa alguma. Existem meios de facilitar o progresso nesse caminho, mas não há uma garantia neste sentido. Sem dúvida é algo que precisa ser aprendido para nos relacionarmos de forma criativa, respeitosa, profunda, valiosa com seres humanos e precisamos aprender com isso. Esse aprendizado implica algumas construções internas e algumas construções de interação. Tudo isso precisa vir a ser desenvolvido, não nasce pronto. As experiências valiosas e significativas são formadoras do humano. Se aprende a ser justo fazendo experiência de justiça. Por exemplo Matin Luter King foi uma pessoa que enfrentou a situação, desenvolveu uma compreensão e soube estar a altura desta compreensão para vivê-la.10
A mística é o sentido último de toda espiritualidade. É a conexão mais profunda com o que se pode chamar de Numinoso, isto é, o sagrado. Desse encontro dos sentidos mais profundos da vida humana que envolve coisas práticas da relação entre seres humanos, a ética, o meio ambiente, o cosmos. Para diferenciar mito e mística, primeiro é necessário dizer que o mito, de mithos (grego), de narrar, contar dimensões essenciais de como era no início, de dar sentido para um contexto, para um país. Portanto, isso não é asneira, não é lenda ou mentira. A vida é muito mítica e as religiões trabalham diretamente com o mito. As ideias de Nossa Senhora da Conceição como virgem, o mundo feito em seis dias e no sétimo Deus descansou, não tem a ver com a verdade do ponto de vista histórico. O mito não está interessado com a verdade, mas interessado em entrar na experiência da vivência desse sagrado que se chama mística. O que ocorre com o dogmatismo, que resultam nas guerras religiosas, é que as pessoas se fixam na verdade histórica de seus mitos e isso é uma coisa mais terrível que existe. Há pessoas nas universidades que acreditam que teve uma arca de Noé, isto é a coisa mais grotesca que se possa acreditar. Inclusive os judeus daquela época não conheciam sequer uma dúzia de animais. Nem em todos os navios do mundo se colocaria toda a biodiversidade. O mundo criado em sete dias? O que é o número sete? O que é esse deus dos céus, dos ventos, das tempestades? Como isso foi criado? Por quem foi criado? Vê-se que isso é figuração, é historinha, não interessa se foi assim no passado. O que interessa é a vivência do sagrado que é a chamada mística. O único contexto em que as religiões não brigam – onde um judeu deixa um árabe entrar na sinagoga, um árabe deixa um judeu entrar na mesquita, um cristão pode rezar aqui, o ateu se encontra em pé de igualdade com um não-ateu – é o da mística. Quando se lê os místicos árabes, budistas, mestre Eckehart, São João da Cruz, Tereza D' Ávila encontra-se semelhança inacreditável, porque eles entraram no caminho da iluminação do sentido último das coisas, no sagrado. Neste ponto não tem uma discussão, caem todos os mitos, todos os deuses, seja um deus monoteísta ou não e fica só a essência, como diz o Novo Testamento, o que interessa é o espírito, a letra é morta. Muita gente não consegue entender isso.11
Existem os conflitos por questões históricas de definição de campos de poder, mas isto não é necessário. As próprias ciências se contestam entre si. Ninguém pode pensar a ciência como se fosse uma orquestra, com um regente e todos os instrumentos seguindo uma mesma melodia. A ciência não é assim, mas é cada instrumento tocando a sua melodia, esquecendo as dos demais. O campo científico essa estruturado desse modo. No Brasil, um dos países de maior projeção no mundo, é que essa discussão está embaraçada, obstada. Nos Estados Unidos, em 2012, a instituição Maine life promoveu um simpósio de estudos contemplativos em Denver. Estavam presentes cientistas das várias partes do mundo e de várias áreas das ciências como as neurociências, a medicina, a psicologia, as ciências da educação, a física e a química. E todos, tratando de uma forma respeitosa com os saberes que vem das tradições contemplativas, entre elas o Budismo estava presente e que teve mais influência por causa de Dalai-Lama. Isto é possível e está sendo feito. Não significa que não haja atrito, pois existem várias dificuldades.12
Isso se deve ao fato de que a academia ainda tem aquele ranço racionalista-científico que é o modelo de ciência moderno vindo do séc. XVI e XVII em diante, que é cartesiano-newtoniano, mais racionalista, mecanicista, e que para poder sobreviver, se impor como ciência e modificar o mundo teve que, de alguma forma, superar as interdições, as proibições da religião cristã. Houve choque desde a origem da ciência moderna até a ciência contemporânea. Deve-se observar que o modelo das ciências humanas, sociais, a antropologia, por exemplo, são diferentes das ciências “duras” no caso da física. Hoje se fala muito da ligação da física quântica com espiritualidade, como os de Marcelo Gleiser. Mas há muito charlatanismo, o uso de espiritualidade e física quântica, que não se configura nem como científico, nem como espiritual, mas puro materialismo espiritual para ganhar dinheiro. A ciência, de alguma forma, tem que iluminar os erros da espiritualidade ou da religião. Por exemplo, a pessoa que acredita na arca de Noé ou que o mundo foi feito em seis dias, ou que o homem caiu de paraquedas tem só sete ou oito mil anos de aparecimento no planeta, isto se torna algo da idade das trevas. Veja que a ciência é muito competente para mostra que o mundo (a terra) tem 4,5 bilhões de anos. Hoje você tem um arsenal científico que não há como negar. Por exemplo quando se escreveu a Bíblia judaica e depois a cristã, o modelo de ciência era completamente fragilizado, era mínimo. Eles não tinham nem a ideia do que era o sol, a terra, nem micróbio, nem célula. Por isso que tem que entender como historinha, mito e se ficar com o sentido mais profundo, que é o da espiritualidade. Outro detalhe é que a razão pode convencer, a razão convence, o mito – que trabalha mais de uma forma emocional – e a religião arrastam o sujeito para a morte, para se auto imolar. Então é uma força descomunal, psicológica, profunda de um lado e de outro uma força racional. Portanto, já se tem uma diferença muito forte e na ciência se criou, entre os cientistas, o mito da ciência, transforma-se em uma “religião” também. Observa-se que o mito, a força mítico-emocional ou religiosa, está aí presente.13 A acupuntura, por exemplo, é hoje assumida como algo válido. Só que os seus fundamentos não vem da medicina tradicional, como é propagada e ensinada no Ocidente. Precisaria para isso alargar o campo conceitual da própria medicina. Até a medicina tradicional do Brasil que assumiu como uma das especialidades, não estaria disposta a dar o passo, está disposta a aceitar os resultados, mas não a fundamentação que produz esses resultados.14
Na visão cristã de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ir para o céu”, ter-se-ia muito a se dizer sobre isto. É interessante pensar o porque isto acontece. Talvez seja porque eles estão interessados na espiritualidade mais que outros. A questão da relação entre espiritualidade e negócio evoca dois outros conceitos. O primeiro é o de Teologia da Prosperidade. Vê-se em algumas tradições religiosas evangélicas pentecostais e até neopentecostais, mais que em outras. A Teologia da Prosperidade monta um franchising, isto é um negócio. Os pastores brigam por espaço nos meios de comunicação. Essa é uma tradição calvinista, isto é, quando se é abençoado com o dinheiro é sinal de que se está no bom caminho e se contribui mais, e se não contribui pode ir para o mal caminho. A contribuição deve ser feita em pagamentos de carnês, e outros meios, senão se é excluído. Isso é terrível. Tem o banco do Vaticano no catolicismo, encontrados em vários lugares. O outro conceito é o de Materialismo Espiritual. O materialismo das coisas é quando se quer possuir coisas e o materialismo espiritual é espiritualizar no sentido de dizer que “sou salvo”, ou “sou santo”, ou “sou iluminado”. Isto é algo egótico, neurótico, quando alguém quer se colocar acima das miserabilidades humanas, da dor humana, acima dos outros, criando um gueto. Esse materialismo espiritual é elitista. No Filme O Segredo, o materialismo espiritual é demonstrado de forma absurdamente escandalosa. Nele é retratado uma mística no sentido ruim do termo, no qual quando se acredita que vai ganhar o primeiro milhão, se ganha. É o sentido de se pensar quanticamente para mudar o mundo ao seu redor e para isto vai enriquecer para ser melhor e livre das dores do mundo. Se o mundo está ruim, está mal é porque você está pensando mal, não tem justiça política. Então isso é terrível para a política, pois acaba com ela.15
No nosso mundo nada funciona sem o dinheiro, tudo precisa que o dinheiro circule. A questão é, qual é a forma digna de se fazer e que traga o mínimo de sofrimento aos seres, ou o maior benefício possível para que as iniciativas sejam realizadas? Pode-se ver algumas iniciativas como a do indiano que criou um banco popular para financiamentos. Acredito que essa iniciativa é inspirada pela espiritualidade. A pessoa que tem a visão do âmbito dos negócios, mas sabe que aquilo tem que chegar a um maior número possível de pessoas. Ela, então, imagina um meio mais hábil e mais adequado para que isso seja possível. Estrutura um meio viável e assim o realiza. Pode-se afirmar que isto seja apenas um ato econômico, mas não foi. Tem uma inspiração muito sutil e valiosa, por trás, fazendo isso. Quer dizer que as religiões em geral, do modo como elas estão organizadas, se quando elas pensam no modo que tem para alcançar metas que são genuinamente espirituais, sem dúvida ela terão que ter alguma sustentação baseada nos negócios para que isso seja sustentável. A forma é de se perguntar sempre, a que isto se destina? A quem está beneficiando? E por último acredita-se que isso é um critério de visualizar essa relação de espiritualidade e negócio e por fim um outro critério também é a questão do sofrimento humano. É preciso acabar com essa espiritualidade do super-herói. Jesus, que é uma figura paradigmática para nós ocidentais, tem como sua principal simbologia a cruz. Um Deus que morre e parece que é derrotado pelas circunstâncias exteriores. A espiritualidade que não assume o sofrimento humano e não se prepara para que isso seja possível, não aceita a sua possibilidade, já é uma espiritualidade falha e falsa. Não devemos cultivar a espiritualidade para sermos super-heróis, muito bem sucedidos, mas para servirmos ao mundo. Algumas formas de servir o mundo leva ao sofrimento.16
Considerando o sentido mais puro da palavra política, que é a cidadania – Polis = cidade – que é o bem comum, certamente a espiritualidade pode contribuir muito. As Cebs que foram desenvolvidas no Brasil, desde os anos 70, são uma coisa muito linda, muito bonita e com uma mística. A mística do movimento sem-terra de buscar a justiça, a repartição da terra, de um mundo mais justo e a mística dos movimentos sociais. Essa mística de mudança está na ideia de messianismo e tem um conceito de que um mundo melhor se faz e vem. Messiânico tem esse significado, por outro lado há um risco enorme nessa área também, porque existem estados inteiros não só de pessoas, mas de fundamentalistas. Aí retoma-se a questão da religião enquanto instituída. Estados, onde quem manda são os religiosos. Essas dimensões tem que ser consideradas. No Brasil há a ascendência de bancadas cristãs na Câmara Federal. Esta situação pode mudar muito a configuração política, conforme o que essas pessoas pensarem. O que pode ocorrer em termos sociedade? É uma área perigosa, mas ao mesmo tempo necessária. Observa-se que as pessoas que tem a formação, uma espiritualidade, uma capacidade pro amor e a generosidade, os valores que a espiritualidade traz contribuem, o que é muito bom. Um empresário com esse entendimento, o que não faria em termos de um capital social de uma visão socializante ou um político com um visão dessas, talvez não roubasse. Membros do PT durante um tempo tinham uma visão mística de mudar o mundo mesmo. Não era por dinheiro, nem por nada, mas muito disso se perdeu. Estamos numa crise contemporânea e isto aumenta muito a busca pela espiritualidade, tanto para o bem e quanto para o mal. Pode-se chegar a um dogmatismo mais tacanho, violento, contra os direitos das pessoas, a liberdade ou o inverso disso. Vê-se a espiritualidade crescendo, diálogos inter-religiosos, as pessoas abrindo a sua mente e vendo que a união é necessária para fazer algo, senão tudo se perde. Isso está acontecendo neste momento.17
No quadro histórico em que nos encontramos, a democracia é um regime histórico. Acredita-se que a defesa dos meios democráticos de governo é uma atitude da espiritualidade. Mesmo dentro da democracia não se pode idealizar nada, quando nos referimos ao momento histórico em que se encontra o ser humano. Essa conexão é melhor sendo feita do ponto de vista da espiritualidade da política e não exatamente da religião e da política, porque é a questão do posicionamento diante das medidas de circunstâncias que demandam realmente uma afirmação. Um exemplo: Quais os motivos que levam a um parlamentar no Congresso Nacional a votar sim ou não numa determinada matéria? Se ele está movido intrinsecamente por uma convicção, por um princípio que seja o melhor para a população. Isso de fato é fundamental. Infelizmente sabe-se que muitos parlamentares, e não generalizando, pois não é a maioria, não votam exatamente por esses motivos. Isto quer dizer, mesmo numa democracia, exercer a política com dignidade, com respeito, com legitimidade, pressupõe uma certa segurança, uma certa fortaleza espiritual, porque as pressões dos lobs dos governos e às vezes também, os movimentos sociais, porque nem sempre os movimentos sociais querem coisa justa, mas podem querer coisa injusta para oprimir um outro segmento social. É preciso que haja pessoas que estejam bastante convictas, muito firmes interiormente para defender a sua posição de forma legítima e justa. Isso é um ato espiritual na política.18
A espiritualidade na vida cotidiana requer cultivo do seu estado interior, por exemplo pelo silêncio: observar, tomar consciência de si, de como se relaciona com o mundo, o outro, o que faz da vida, como compreender o mundo, as coisas, como olho para o outro, a outra religião, a natureza, os animais, como me alimento, como tenho simplicidade, generosidade, os valores mais fundamentais da vida. A espiritualidade é isso, é o fundamento da minha relação com o mundo, neste sentido é a fome do outro e a fome que o outro tem.19
Olhar para si, reconhecer os seus lados sombrios, buscar conectar-se consigo mesmo em primeiro lugar, depois com os demais à sua volta. Inspirar-se para ter uma vida valiosa, para trazer as coisas boas do mundo, que já tem muitas coisas ruins, ou pelo menos para que não se gere mais sofrimento, mais coisas ruins. Se possível fazer alguma coisa positiva e viver desse modo. Se uma pessoa procura pautar sua vida, no seu cotidiano, nas coisas pequenas, desde tomar um copo d'água e oferecê-lo ao outro, até a vida profissional. Essa é uma forma possível de viver a espiritualidade.20

Referência

ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.

Notas:
1POLICARPO JÚNIOR, José. Espiritualidade. In: ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.
2PELIZZOLI, Marcelo. Espiritualidade. In: ESPIRITUALIDADE: Opinião Pernambuco. Entrevista com José Policarpo Júnior e Marcelo Pelizzoli. Direção: Andreia Rocha; Haymone Neto. Produção: Andreia Rocha; Bruna Aldabalde; Camila Barreto; Cleyton Silva; Haymone Neto. Recife: TVU – TV Universitária, 2013. 54'07''. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pIhLdHF7gM0>, Acesso em: 11 nov 2014.
3POLICARPO JÚNIOR. op. cit., 2014.
4PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
5POLICARPO JÚNIOR, José. op. cit., 2014.
6PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
7POLICARPO JÚNIOR, José. op. cit., 2014.
8Esta é uma representação de Jesus construída pelos europeus, visto que o que se sabe é que seria impossível Jesus ter esta aparência. A aparência de um judeu de sua época e situação geográfica …..
9PELIZZOLI, Marcelo. op. cit., 2014.
10POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
11PELIZZOLI, op. cit., 2014.
12POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
13PELIZZOLI, op. cit., 2014.
14POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
15PELIZZOLI, op. cit., 2014.
16POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
17PELIZZOLI, op. cit., 2014.
18POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.
19PELIZZOLI, op. cit., 2014.
20POLICARPO JÚNIOR, op. cit., 2014.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Formação dezembro 2014 - Avisos

Avisamos que o último encontro da formação do ensino religioso será realizado:
  • Quinta-feira - Dia 04/12/2014
  • Local - Auditório da Sede de Secretaria de Educação/antigo CEIA
  • Horário-08h às 12h.
  • Assunto: Espiritualidade

Aviso: Alertamos que as postagens enviadas para o blog só será aceita até o dia 08 de dezembro de 2014, inclusive a atividade que será pedida no encontro do dia 04/12.

Coordenação ER.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Encontro Novembro 2104

Avisamos que o encontro de formação do Ensino Religioso do mês de Novembro de 2014 será dia 06, quinta feira, como combinado.
Local: Secretaria de Educação - Auditório
Horário: 8h às 12h.
Tema: Religiões na pós-modernidade.
Para acessar o Texto: A religiosidade na pós-modernidade logo abaixo.

A religiosidade na pós-modernidade



Me. Manoel Gomes Rabelo Filho1

Resumo: Este texto apresenta características da pós-modernidade e suas implicações para as religiosidades. É discutido o sentido que a modernidade dá à religiosidade e à religião e suas respectivas mudanças em relação à pós-modernidade. Enfrenta-se os problemas decorrentes das críticas às religiões feitas pela modernidade e o avanço das religiosidades na pós-modernidade.

Palavras-chave: Pós-modernidade, modernidade, religiosidade, identidade, ateísmo.


As características da pós-modernidade apresentam intensas repercussões na sociedade e como consequência na religiosidade. A alteração da vida social e a interconexão entre o global e o pessoal geram novas formas de auto-identidade, fragmentando o indivíduo. Há uma tendência de reorganização do tempo e do espaço, que se reconfiguram a partir do desenvolvimento das tecnologias. Aumentam as dúvidas sobre as realidades da vida chegando-se a uma dúvida radical que faz revisar hipóteses a cada momento. Cresce a confiança em relação a algumas ameaças e novos riscos são introduzidos, especialmente aqueles que as gerações anteriores nunca enfrentaram. A comunicação influencia a auto-identidade e existe uma diversidade de opções de estilos de vida. Dessa forma há uma crise de identidade em relação a tradição, as antigas formas de comportamentos, abalando os quadros de referências.2


A sociabilidade e o conhecimento apresentam-se, através da experiência vivida, como alternativas de sobrevivência no meio cultural. É a alteridade o núcleo central das culturas, e nela está a raiz da vida social. Construímos legitimidade e respeito a partir da alteridade e da diferença e isto nos faz ver nossa própria identidade. O desenvolvimento da identidade pela sociabilidade pode buscar a legitimidade através de um critério ético que proporcione cuidados à existência humana. “A vida tem que ser respeitada para que seja garantida a sua integridade, o que existe é uma atitude de reverência e de cuidado com todos os seres”.3 A diferença, portanto, desenvolve a diversidade e dá espaço para a democracia e para uma convivência plural, mesmo através de conflitos, que em grande parte são conflitos legítimos. No imaginário moderno perpassam a concepção de uma modernidade com o sentido de libertação da sociedade humana das amarras da tradição e da ignorância, o que representa a visão medieval da vida. Dessa forma é que a modernidade se caracteriza pela negação de qualquer forma social pré-moderna, uma descontinuidade histórica, um período transitório com rupturas e fragmentações. Existe uma sensação de mudanças desenfreadas, um desenraizamento e uma perda de referenciais da vida social e pessoal.4


O sentido dado a esta modernidade e a pós-modernidade é que destitui suas referências para fornecer uma gama complexa de indicações desconexas. Uma época que destrói parte do que se vivia antes, e reconstrói o novo com o objetivo de alicerçar uma nova sociedade e que volta a destruir para alcançar novas implementações. O moderno encontra-se num ambiente de aventura que ameaça destruir o que temos, o que sabemos e o que somos, para que, de forma criativa, se possa destruir e ao mesmo tempo inovar, realizando uma “autodestruição inovadora” nos processos culturais, sociais e religiosos.5


Entende-se a cultura e a sociedade modernas como o estilo de vida que usa a modernidade como justificação do projeto capitalista. A burguesia fez isto, ao valorizar a modernidade como um contexto sócio-histórico seu, ao dar todas as capacidades instrumentais de dominação da natureza e de outros seres humanos à razão humana. Esta visão estabelece que a religiosidade é uma chave de leitura exclusiva do mundo medieval, ao qual a sociedade deveria combater e superar. Assim é que Marshall estabelece um conceito de modernidade como a era da razão instrumental:


É o estilo de vida, de organização social e uma forma de representação da realidade que se desenvolve sobretudo a partir do século XVII, na sociedade européia, que foi apropriado pelo capitalismo no qual a destruição criativa e a razão instrumental são suas marcas registradas.6


A religiosidade na pós-modernidade precisa manter o diálogo com a cultura recente, questionando os preconceitos e mantendo a tradição desenvolvida pelos povos. Rompe-se neste sentido, com as verdades absolutas e inquestionáveis e busca-se uma espécie de “mega-ecumenismo” incluindo grupos religiosos e arreligiosos. As críticas à religião, desenvolvidas de forma eficiente por uma diversidade de pensadores a partir do século XIX, sobre a legitimidade e a coerência da religiosidade, proporciona reflexão e abertura para o diálogo. K. Max, S. Freud e F. Nietzsche convencem muitos religioso.7


A religiosidade que descarta as críticas com pressupostos reflexivos abandona o caminho para uma discussão madura. Identifica nas controvérsias os elementos com fatores positivos de respeito, diálogo e o fortalecimento da própria identidade religiosa.


Este diálogo fornece caminhos para entender a relação entre religiosidade e pós-modernidade. Apresentam-se mundos de problemas e visões da realidade diversificadas, as mudanças são sugeridas continuamente. Insatisfação e angústia continuam. É fato que “na modernidade as pessoas precisam ser convencidas e na pós-modernidade elas precisam ser seduzidas”.8 Existem situações que trazem dor e sofrimento, mas existem as apaixonantes que podem resgatar o sentido da vida. “O novo é fascinante porque abre sulcos no deserto, ressuscita os ossos, mobiliza pessoas, grupos e instituições e, sobretudo, renova razões para viver e sonhar.”9 A busca destas razões é o que move o mundo humano. As razões científicas possuem intenções de objetividade e as razões religiosas fornecem resgates morais e simbólicos. Em cada forma racional de entender este mundo há um conjunto de pretensões que geram condenações mútuas.


Bombas atômicas na guerra nuclear, guerra fria entre Ocidente e Oriente, muro de Berlim que separa povos, cercas como símbolo da liberdade na era cristã Ocidental, o novo vigor do capitalismo pelo neoliberalismo, revelam-se como problemas pós-modernos. A supremacia da lei do mercado está acima das intenções de se fazer o bem. A tecnologia vem sendo consumida como uma necessidade, substituindo a produção de bens elementares para atender a desejos cultivados pelo neoliberalismo. Pergunta-se, onde está Deus nesta série de injustiças sociais? Onde está o sagrado das religiões que poderia fornecer orientações para estas realidades irreconciliáveis? “O contrário de tudo isso é Deus. Deus está presente no contrário. Nossa luta em favor da justiça e da paz brota da convicção de que Deus está na injustiça proclamando o seu contrário, ele está na guerra anunciando o seu contrário.”10 O sagrado das religiões se revelam nas entranhas dos problemas humanos, até mesmo aqueles que fazem mal para os outros seres humanos, tendo como perspectiva a superação do profano, identificada aqui como as injustiças que estão veladas nas explorações e opressões. Do ponto de vista cristão é o profeta que denuncia tudo isso, mesmo que os problemas não apareçam de forma clara.


A modernidade procurou mostrar-se superior às religiões pelas críticas que fazia à Idade Média e à cristandade. Esta modernidade aponta para as realidades sociopolítico-econômicas justificando os seus ganhos e o colonialismo, buscando, pela morte do outro, o desenvolvimento de totalidades que centralizam-se na própria identidade, “a ponto de quase não sobrar lugar para o diferente dela”.11


A religiosidade, entendida como “a dimensão mais profunda da totalidade da vida humana [...] é a busca da abertura ao transcendente, àquilo ou Àquele que ultrapassa a superfície da vida, é o sentido radical da existência.”12 Ela é a busca do sentido radical, ao sentido mais fundamental da existência humana e de sua totalidade. Este significado de religiosidade pode interagir com as ideias da pós-modernidade, visto que ele não é exclusivo das religiões, mas possui uma abertura aos valores das situações concretas. Uma das chaves para este problema é procurar enfrentá-lo de forma a verificar fatores positivos, tanto das religiões em relação à modernidade quanto da pós-modernidade em relação às religiões. O diálogo só não é possível se cairmos num fundamentalismo religioso ou num relativismo científico e filosófico. As interrogações atuais devem partir de uma reflexão de uma metodologia diferentes das do passado e que permitam dar sentido e profundidade aos referenciais modificados pela pós-modernidade. Neste sentido é possível educar a pessoa humana que o único ponto de referência para si mesma é que não tem passado e nem futuro, apenas um presente? Para que serve a educação da religiosidade, se não há paradigmas e nem é possível uma ética que tenha valor universal? Como trabalhar para não chegarmos à relativização do absoluto e à absolutização do relativo?13


Estes questionamentos revelam o paradigma que envolve a religiosidade na pós-modernidade. Os referenciais, os contextos e os valores estão em cheque em vista do fortalecimento do capitalismo globalizado e neoliberal. É como se fosse o fim da história para a existência humana, retratando aspectos mecânicos, simplistas e redutores da realidade a uma ordem específica na qual somente o capitalismo faria sentido.


A Idade Moderna tentou reduzir a realidade às leis e princípios aplicados a partir da relação de causa e efeito tanto nas ciências quanto na vida cotidiana. Pretendia-se desenvolver um pensamento que dominasse a natureza e que tornasse o ser humano um sujeito objetivo, com poderes de dominação sobre os outros e a natureza, negando a alteridade.


A pós-modernidade pretende quebrar essas amarras de elementos fixos na realidade e entendê-la como complexa e plural. Uma compreensão da realidade que ouça mais a memória do que o progresso ilimitado. A objetividade moderna busca o verdadeiro mantendo autoridade a alguém, já o pós-moderno afirma que este verdadeiro não é natural, mas construído humanamente e possível de ser dissolvido.


Nietzsche, considerado um dos iniciadores da pós-modernidade, escandaliza por afirmar a morte de Deus. Mas qual é o Deus que ele pretende destruir com o seu niilismo? Ele pretende destruir a ideia de pressupostos, das certezas absolutas, de um deus com valores que suplanta o ser humano, um deus violento, um deus que justifica a estrutura da sociedade a qual Marx criticava, o deus que ilude por uma falsa ideia de salvação. Ele deseja destruir ainda uma fé que faz fugir da realidade, que faz sofrer. Nietzsche quis dizer que não há um fundamento para nada, nem para afirmar que Deus exista ou não exista, que uma religião tenha ou não que existir. Neste pensamento estão um dos fundamentos do ateísmo moderno, mas ao mesmo tempo morre um tipo de moral religiosa e uma lei universal que mais justificam a forma com que vivemos do que a transformam. Se não é negar e nem afirmar Deus ou a religião, então em que sentido pode-se dizer que Nietzsche tinha razão?


[...] se a religião não pode ser afirmada racionalmente, também não pode ser negada racionalmente. Por isso a pós-modernidade não tem medo de dizer que a religiosidade, a religião e Deus podem existir e podem ser captados por outras vias e outras dimensões que não seja simplesmente a racionalidade.14


Tomou-se apenas um autor para ilustrar as críticas que são feitas à religião pela pós-modernidade. Essa crítica não é simplesmente centrada na negação ou afirmação de algo, mas foca a condição específica da pós-modernidade que é deixar em suspense a afirmação, levando em consideração o contexto, a situação específica que nos faz afirmar algo como verdadeiro. Estão sendo observadas outras dimensões e não somente a racionalidade irrestrita para se confirmar algo.


Vale concluir que a religiosidade na pós-modernidade é representada como uma dimensão humana efusiva, que se destaca como meio simbólico do ser humano, enquanto celebra. É o que questiona sobre o sentido último da existência do ser humano, enquanto reflete. A religiosidade é a visão de mundo que catalisa interpretações justificadoras do sentido da vida. Ela é provedora da flexibilização das visões individualistas, solitárias e promotora de orientações comunitárias que alcançam outros sentidos, para além das nossas próprias possibilidades finitas.



Referências

CARIAS, Celso Pinto. Teologia para todos: manual de iniciação teológica a partir de seus principais temas. Petrópolis: Vozes, 2007.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

LYON, David. Pós-modernidade. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2005.

PADEN, William E., Interpretando o sagrado: modos de conceber a religião. São Paulo: Paulinas, 2001.

SANCHES, Wagner Lopes. Pluralismo religioso: as religiões do mundo atual. Temas do Ensino Religioso. São Paulo: Paulinas, 2010.

SANDRINI, Macos. Religiosidade e educação no contexto da pós-modernidade. Petrópolis: Vozes, 2009.

VIEIRA, José Álvaro Campos. Os sem religião e a concepção de espiritualidade não religiosa de Marià Corbí. Demanda Universal, 2012.



1Mestre em Ciências da Religião – UNICAP/2012, Coordenador do Ensino Religioso de Roraima.


2GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.


3SANCHES, Wagner Lopes. Pluralismo religioso: As religiões do mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 18.
4SANCHES, 2010, p. 26.

5Ibidem, p. 28-29.

6MARSHALL apud SANCHES, op. cit., 2010, p. 29.

7CARIAS, Introdução à Teologia. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 13.

8SANDRINI, Marcos. Religiosidade e educação no contexto da pós-modernidade. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 9.

9SANDRINI, op. cit., 2009, p. 10.

10Ibid., 2009, p. 15.

11BOFF apud SANDRINI, op. cit., 2009, p. 17.

12SANDRINI, op.cit., 2009, p. 17.

13SANDRINI, op. cit., 2009, p. 24.

14SANDRINI, op. cit., 2009, p. 144.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Política, violência e drogas no contexto religioso do Brasil



Me. Manoel Gomes Rabelo Filho


A violência no Brasil
A violência no Brasil tem demandado ações repressivas e preventivas do poder público, ao qual se dá ênfase nas ações repressivas, fato que muitas vezes fortalece o comportamento desviante. A maior parte da violência ocorrida vitimam jovens entre 18 e 29 anos e nesta mesma faixa etária é também de onde parte a maioria das agressões.
Os motivos que envolvem os jovens em ações violentas estão relacionados a fatores como a baixa autoestima; inadequações em espaços de convivência; abusos físicos, sexual e psicológico; constrangimentos pela condição socioeconômica, de gênero ou raça. Além disso, existem as dificuldades normais da idade do jovem com relação ao seu meio; problemas na vinculação familiar, comunitária ou escolar; a construção da autoimagem; influências de amigos e as inter-relações do seu grupo com a sociedade. Somando-se a isso a fragilização das instituições tradicionais, as manifestações da personalidade antissocial e a experimentação exploratória do mundo focando uma afirmação da liberdade.1
É claro que existem alguns exageros relacionados às interpretações acerca da associação entre o jovem e a violência. No caso dos adolescente, há valorização, focadas pela mídia, de sua presença como autores de crimes violentos. Esta exposição cria na sociedade repulsa e repreensão. Além disso há alguns mitos na América Latina que afirmam ser os jovens e adolescentes pobres, desordeiros, considerados suspeitos em potencial tanto na política quanto no contexto escolar. Somados a isso existem as complicações referentes à idade da adolescência como rejeições de casa, fora e na escola, o desemprego, o alcoolismo e a violência doméstica. Esses fatos fazem com que os adolescentes sejam estigmatizados, criminalizados gerando efeitos perversos, como a exclusão severa que os tornam vulneráveis ao delito e presas fáceis de bandos, com o consequente fortalecimento de políticas severas de repressão, neste sentido.2
Em relação à mortalidade, no Brasil são vitimados jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos, pobres, não brancos, com pouca escolaridade e que vivem em áreas carentes. Já as vítimas de violência não letais estão os jovens de 19 a 29 anos que sofrem lesões corporais dolosas e tentativas de homicídios na maioria. Os jovens de 25 a 29 anos são vítimas de furtos a transeuntes e roubo de veículos. Já os adolescentes de 12 a 17 anos são maioria vítimas de estupro e de atentado violento ao pudor.
Em relação aos responsáveis pela violência estão os jovens de 18 a 29 anos que estão em grandes cidades e que usam de uma sofisticação da violência pela disseminação do porte de arma de fogo e pela generalização de uma cultura da violência. Os fatores disso são as contradições sociais que supervalorizam o consumismo exacerbado, as desigualdades sociais e o mercado de trabalho. Com o aumento da violência delitual, diminui a idade dos seus autores. Para entender porque isto ocorre não se pode analisar somente o recrutamento para atividades criminosas, as facilidades para obter arma de fogo no país, o processo de educação e formação, a banalização da violência e a dinâmica das desigualdades e exclusão social. É necessário também incluir na análise dos envolvimentos em violências (como autores ou vítimas) outros fatores como as perspectivas de ganhar dinheiro fácil e rápido com pequenos e grandes delitos, o reconhecimento ao causar medo e insegurança aos outros e ao ostentarem armas de fogo, a afirmação de uma nova identidade. Além disso as brigas e ameaças são usadas como instrumento de resolução de conflitos e disputas pessoais.3

A violência no contexto religioso brasileiro
Em relação à uma espécie de adaptação desta realidade brasileira ao contexto religioso podemos tirar algumas conclusões importantes. Em geral a violência neste âmbito ocorre devido à diversas formas de intolerâncias.
No contexto mundial, por causa da intolerâncias religiosa, muitas guerras foram deflagradas, pessoas mortas e outras violações do direito à religião. Pode-se definir a intolerância religiosa como um desrespeito às crenças religiosas dos outros, seja por falta de conhecimento, seja por imaginar que a religião do outro seria uma ameaça à sua. Essas formas de intolerância podem aparecer como perseguição religiosa, desqualificação do outro ou agressão física. Historicamente a intolerância religiosa acontece devido à discriminação com relação aos adeptos de uma religião, por não pertencer a uma religião ou por não pertencer à nenhuma religião. No I século da nossa era os cristãos eram discriminados por judeus e pagãos, mas depois ocorreu o inverso, foram criadas muitas formas de acabar com as heresias e com isto os cristãos passaram a perseguir os não cristãos e as mulheres, sendo estas consideradas como bruxas. No holocausto, os judeus, os ciganos, os homossexuais e os deficientes físicos eram perseguidos e mortos pela justificativa do ideário ariano de Adolf Hitler apoiado em algumas ideias religiosas.4
No contexto brasileiro, muitas dessas ideias cristãs foram usadas como justificativas para a escravização dos povos africanos. No imaginário cristão, negro, herege e pagão não tinham alma, não eram considerados filhos de Deus e poderiam ser tratados apenas como coisa. A intolerância e o racismo, fundamentados na fé e por ser de outro grupo étnico, eram justificadores também da violência. Até a década de 1960 as religiões Afro-brasileiras eram perseguidas pela polícia no Brasil. Há caso de evangélicos e neopentecostais que são hostilizados por sua forma de vestir, por darem o dízimo e por professarem publicamente a sua fé. Existem diversos programas de TV que satirizam e discriminam estes cristãos.5
Neste entendimento verifica-se que é a intolerância a grande causadora dos processos violentos no contexto religioso do Brasil, seja ela advinda da dificuldade de aceitação das diferenças étnicas, seja da falta de compreensão em relação às religiosidades diferentes ou ainda à pessoa que não possui religião. Citamos alguns casos de intolerância:
  • Em 1995, o Bispo Sergio von Helder, da Igreja Universal o Reino de Deus (IURD), desferiu chutes a uma santa católica;
  • Depois disto diversos templos da IURD foram atacados por católicos e a rede Record foi perseguida com o pedido de cassação por parlamentares católicos;
  • Um homem foi preso em 2004 ao jogar uma imagem de Nossa Senhora no chão, de dentro de uma catedral em São Paulo. O homem se dizia evangélico e tinha uma camisa com a frase “Exército de Jesus”.
  • A Jovem Larissa Rafaela Condo de Lima, 15 anos, se suicida ao tomar uma substância venenosa depois de apanhar do pai evangélico para que seguisse as regras da igreja.
  • Na posse dos deputados estaduais no estado do Piauí em 2010 foi convidado apenas representante da igreja católica e os pastores evangélicos foram esquecidos. (A lei 5112 referenda que ao participarem autoridades eclesiásticas deve haver a presença de no mínimo dois credos religiosos).6
A intolerância caminha pelas dificuldades de aceitação do outro, do diferente. Diante da não aceitação da prática religiosa, as reações são de violência física, escrita ou verbal com a finalidade de combater, avançar sobre a religião do outro com garras, como se suas manifestações religiosas fossem o caminho do mal. Muitas vezes o discurso religioso cristão se torna tão exclusivista que demoniza as outras religiões. Até mesmo dentro do próprio cristianismo as diversas denominações religiosas negam-se entre si, se autodenominando como verdades absolutas, com doutrinas tão imperiosas que não poderia ser mais implacável que o Deus mais impiedoso.
Estas verdades são tão fixas que passam a esquecer a verdade bíblica maior do cristianismo que é o amor ao próximo, o respeito ao estrangeiro, à mulher e aos pagãos. São também formas de violência o confronto verbal ou escrito que diminuem o outro, em especial àqueles que negam chance de defesa.

Para além da não-violência na intolerância religiosa
Fica fácil descobrir nos textos bíblicos passagens que contradizem a violência em decorrência da intolerância religiosa. O Novo Testamento está cheio de testemunhos do amor de Deus para com os seus filhos, o amor de Jesus Cristo para com os seus discípulos e não só com eles, mas também para com pessoas totalmente desconhecidas como a viúva, o estrangeiro, o cego, o aleijado. Ao mesmo tempo em que pode-se observar qual leitura dos textos bíblicos foram feitas para se chegar ao respeito ao outro no nosso contexto social, “a leitura latino-americana dos textos bíblicos transformou, diversas vezes, aquilo que era intolerância como sendo reação dos oprimidos ou reação a uma divindade opressora. Isso significa que a divindade era porta-voz de um projeto político.”7
A tolerância requer uma associação, uma convivência com aquele que é diferente. Jesus não se limitou a ajudar os seus semelhantes, mas foi além, aceitando tanto os judeus quanto os estrangeiros. Portanto, tolerar fortalece a convivência com as diferenças e nos faz aceitar o diferente. O que pode unir as pessoas não é somente o que há de comum entre elas, mas também o que se pode aprender com as respectivas diferenças.
Houve um projeto político, junto com o sistema religioso, dos colonizadores portugueses e espanhóis na América Latina. Certamente não era uma religiosidade pura, mas era “detentora de valores culturais e políticos e uma visão de sociedade”.8
Na realidade, existe o desejo de se criar uma sociedade segundo os valores que se pensa como corretos. Na Guerra entre Estados Unidos e Iraque “o cristianismo, encarnado na cultura americana, foi visto por alguns grupos islamistas como promotor de valores maléficos. Por outro lado, os americanos se referiram aos islamistas, principalmente da base fundamentalista, em especial o Irã e o Iraque, como participantes do 'eixo do mal'”.9
No Brasil colonial o confronto entre católicos e protestantes entre os séculos XVI-XVII, dá conta de que os protestantes eram considerados como hereges, cismáticos e excomungados. Havia um combate constate do Estado Colonial Português e da estrutura hierárquica da Igreja Católica às outras denominações cristãs. No século XVIII houve o fechamento da colônia para os não- portugueses, em especial os advindos das regiões da Europa onde haviam protestantes, mas é em especial com a expulsão dos jesuítas em 1759 que a concepção filosófico-teológica de considerar outros grupos religiosos, diferentes do catolicismo como infiéis, se modifica. No século XIX o quadro da intolerância religiosa não se modifica muito e, com a chegada da República, surgem as ideias iluministas de liberdades e junto a esta, a liberdade de culto ao qual era defendida como liberdade de consciência. Os protestantes eram vistos como um corpo estranho, isto é, como ministros do erro. É neste período, e com ideias advindas do século XVIII, que o protestantismo encontra condições políticas favoráveis para sua permanência no império e no início da República. Nos anos 30 do século XX a Igreja Católica tenta uma reaproximação com o Estado e os principais alvos a combater eram o protestantismo, o espiritismo e a maçonaria. A Igreja Católica cria o Secretariado Nacional para a defesa da fé (SNDF) e mantém uma relação conflituosa com as outras manifestações religiosas.10 Com relação a produção de documentos referentes a esta época não havia uma preocupação acadêmica, a preocupação era de defender a sua denominação religiosa, tanto do protestantismo quanto do catolicismo.11
Este pequeno esboço histórico dá a ideia dos embates entre o catolicismo e o protestantismo no Brasil tanto para que o catolicismo continuasse com o poder, fato que não ocorreu devido às constantes crises ocorridas entre o estado e a igreja nos períodos a partir do século XVIII. Já o protestantismo, com o advento das liberdades religiosas, ganha mais espaço, ao que o catolicismo reagiu duramente.12 Estes focos de intolerância religiosa não deslancharam para uma violência física, pelo menos a nível institucional. Pretendia-se desqualificar, agredir de forma escrita, negando seus direitos às liberdades.
Tem-se que se considerar os diversos casos existentes de protestantes que teriam sido atacados por grupos de católicos ou impedidos de realizar seus cultos:
  • José Manuel da Silva Vianna, membro da Igreja Evangélica em Pernambuco, foi interrompido pelo subdelegado de polícia e com palavrões mandou encerrar a reunião que ocorria em Recife, em março de 1873. Mesmo com apelos às autoridades sobre a ilegalidade de proibir o culto, passaram alguns meses sem ser permitidas as reuniões;
  • No dia 19 de outubro de 1873 na cidade do Recife, ao celebrar um casamento o Pastor Kalley informa que o subdelegado, tendo sido avisado da reunião, acusou de pecado por ter realizado não um casamento, mas um ato de prostituição. Ele não sabia, ou não quis saber ou acreditar que o Império autoriza casamento acatólico. Saíram e na praça seguidos por uma multidão de pessoas que gritavam fazendo gestos ameaçadores, foram lançados tijolos, pedras e lama, e um grupo de cerca de 500 pessoas faziam zombaria assobiavam e atiravam pedras, terra etc.13

Drogas e a religião
As drogas com substâncias psicotrópicas são utilizadas no contexto religioso desde a antiguidade. Os Maias usavam uma espécie de contas dos colares do sacerdote, fabricados com cogumelo, em que os jovens engoliam em uma cerimônia litúrgica e entravam em transe. Nestes casos as drogas são usadas como forma de aperfeiçoar a espiritualidade.
O Santo Daime, religião de cunho cristão fundada na década de 1960, usa um chá alucinógeno durante suas cerimônias. Este chá, denominado Ayahuasca, é feito a partir da mistura de um cipó chamado jagube e da folha rainha, ambos plantas nativas da Amazônia. No contexto religioso do Santo Daime não se verifica nenhuma alteração no comportamento dos participantes do ritual, fato confirmado por Antropólogos, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e o Exército do Brasil ao averiguar o fenômeno em 1982.14
A Igreja Americana Nativa usa em seu cerimonial um cacto enteógeno chamado Peyote, a qual foi organizada em 1880 em Oklahoma (EUA) e possui elementos do cristianismo e dos nativos norte- americanos.15
Em diversas formas de xamanismo o tabaco é usado em cerimônias. Nos rituais de pajelança de muitos povos indígenas da América do Sul os pajés o utilizam como um dos elementos para entrar em transe. Entre os Macuxi, o Piasan (Pajé) usa o tabaco com a função de defumar contra os maus espíritos e para fazer o xamã ter visões. Pode ser usado o tabaco misturado com a casca da árvore casca-preciosa para o fumo, ou ainda podendo ser preparada uma bebida juntos.16
Tradicionalmente, ao longo da história os xamãs usam substâncias psicotrópicas para alterar seus estados de consciência com os objetivos de premonição, entrar em contato com as forças espirituais e para obter manifestação do mundo espiritual. A ideia é de que supostamente houvesse poderes curativos dessas plantas sagradas, muito mais do ponto de vista místico do que químico.17

Referências

CASTRO, Jorge Abrahão de. AQUINO, Luseni Maria C. de. ANDRADE, Carla Coelho de. Juventude e políticas sociais no Brasil, Brasília: Ipea, 2009.
DROGAS e religião: essa mistura é justificável? Disponível em: <http://blog.maisestudo.com.br/drogas-e-religiao>, Acesso em 10 ago 2014.
EVERY-CLAYTON. Joyce Elizabeth Winifred. A inserção do protestantismo no nordeste. In: VASCONCELOS, Sylvana Maria Brandão de (Org.). História das religiões no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2001. [v. 5 – cap. 13].
FERREIRA, Helder, et. all. Juventude e políticas de segurança pública no Brasil. In: CASTRO, Jorge Abrahão de. AQUINO, Luseni Maria C. de. ANDRADE, Carla Coelho de. Juventude e políticas sociais no Brasil, Brasília: Ipea, 2009.
GUALBERTO, Marcio Alexandre M. Mapa da intolerância religiosa: 2011. Violação do direito ao culto no Brasil. Multiplike, Tecnologia, Informação e comunicação, 2011.
SANTOS, Marcel de Lima. Xamanismo: a palavra que cura. São Paulo: Paulinas, 2007.
SILVA, Clemildo Anacleto da. RIBEIRO, Mario Bueno. Intolerância religiosa e direitos humanos. Porto Alegre: Sulina; Editora Universitária Metodista, 2007.
VASCONCELOS, Sylvana Maria Brandão de (Org.). História das religiões no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2001. v. 5.
1FERREIRA, Helder, et. all. Juventude e políticas de segurança pública no Brasil. In: CASTRO, Jorge Abrahão de. AQUINO, Luseni Maria C. de. ANDRADE, Carla Coelho de. Juventude e políticas sociais no Brasil, Brasília: Ipea, 2009, p. 194 ss.
2Idem.
3Idem.
4GUALBERTO, Marcio Alexandre M. Mapa da intolerância religiosa: 2011. Violação do direito ao culto no Brasil. Multiplike, Tecnologia, Informação e comunicação, 2011.
5Idem.
6GUALBERTO, Marcio Alexandre M. Mapa da intolerância religiosa: 2011. Violação do direito ao culto no Brasil. Multiplike, Tecnologia, Informação e comunicação, 2011.
7SILVA, Clemildo Anacleto da. RIBEIRO, Mario Bueno. Intolerância religiosa e direitos humanos. Porto Alegre: Sulina; Editora Universitária Metodista, 2007, p. 9.
8Idem.
9Idem, p. 10.
10Idem, p. 73.
11Idem, p. 74. Há uma lista de obras em que o autor cita e informa serem polêmicas e outra de obras de cunho acadêmico, tanto do lado protestante quanto do católico.
12Idem, p. 76.
13EVERY-CLAYTON. Joyce Elizabeth Winifred. A inserção do protestantismo no nordeste. In: VASCONCELOS, Sylvana Maria Brandão de (Org.). História das religiões no Brasil. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2001. [v. 5 – cap. 13], p. 443, passim.
14Drogas e religião: essa mistura é justificável? Disponível em: <http://blog.maisestudo.com.br/drogas-e-religiao>, Acesso em 10 ago 2014.
15Ibidem.
16DINIZ, Edson. Xamanismo Macuxi. In: Jounal de la Société des Americanistes. Tome 60, 1971. pp. 65-73.
17SANTOS, Marcel de Lima. Xamanismo: a palavra que cura. São Paulo: Paulinas, 2007.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mestrado - UFRR

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) por meio do Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe (Necar) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Amazônia (PPG-DRA) divulga o edital de seleção para o curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Amazônia. As inscrições iniciam dia 6 de outubro e encerram no dia 31 de novembro de 2014.
Mais detalhes:
http://ufrr.br/ppgdra/index.php/291-necar-ppg-dra-divulga-edital-para-selecao-de-mestrado-2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Formação de outubro


Avisamos que o encontro de formação continuada está confirmado:
Data: 02/10/2014, quinta-feria.
LOCAL: Auditório da Secretaria de Educação (antigo CEIA).
Tema: Política, violência e drogas no contexto religioso.
A coordenção

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Mestrado e Doutorado de Goiás

A PUC de Goiás abre inscrições para os cursos de Mestrado e Doutorado na área de Ciências da Religião. clique abaixo para ver o edital.
Edital-mestrado-doutorado-PUC-GO

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Inscrições Mestrado

Estão abertas as inscrições para o curso de Mestrado em diversas áreas pela UERR. As áreas são Educação, ciência e agroecologia.
Neste endereço está disponível o edital

sábado, 6 de setembro de 2014

Postagem dos textos

Para a postagem do texto clique no link Postagens - Textos, abaixo de Página inicial, do lado direito.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Informações sobre inscrições

Informações acercar da Formação Continuada:
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CURSOS – CEFORR

INSCRIÇÕES ABERTAS:

11 DE AGOSTO A 01 DE OUTUBRO

FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O ENSINO RELIGIOSO
TEMA DO ENCONTRO NÚMERO DE ENCONTROS CARGA HORÁRIA DATA DE REALIZAÇÃO
RELIGIÕES ORIENTAIS NO BRASIL 01 4h 07/08/2014
O SINCRETISMO DAS RELIGIÕES 01 4h 04/09/2014
POLÍTICA VIOLÊNCIA E DROGAS NO CONTEXTO RELIGIOSO 01 4h 02/10/2014
A RELIGIOSIDADE NA PÓS-MODERNIDADE 01 4h 06/11/2014
ESPIRITUALIDADE 01 4h 04/12/2014



  • Carga horária no semestre: 20h presencial, 40h a distância;
  • Carga horária por encontro: 4h presenciais e 10h a distância
  • Público alvo: Professores da rede pública de ensino
  • Início das atividades: 07/08/2014
  • Horário: 08h as 12h
  • Local: Auditório da Secretaria de Educação (Antigo CEIA) - Rua Barão do Rio Branco, 1495, Centro.

INCRIÇÕES:
  • Local de inscrição: Secretaria acadêmica do CEFORR.
  • Período de inscrição: 11 AGOSTO A 01 DE OUTUBRO.
  • Documentos necessários: 1 foto 3x4, cópia CPF, Identidade, Cópia do contracheque.

INFORMAÇÕES:
  • Coordenação do Ensino Religioso ou Gerência de Formação em Ciências, Gestão e Tecno logia Educacionais – CIGETEC – Fone 3621-3555.
  • Secretaria Acadêmica do CEFORR – Fone: 3621-3002.
  • Emails: Coordenação do Ensino Religioso: ensinoreligiosoderoraima@gmail.com / CEFORR – ceforr.secd.rr@gmail.com/ CIGETEC – cigetecrr@gmail.com.







RELEASE

CEFORR ABRE INSCRIÇÕES PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DO ENSINO RELIGIOSO RORAIMA

O Centro Estadual de Formação dos Profissionais da Educação de Roraima – CEFORR/SEED estará com as inscrições abertas de 11 AGOSTO A 5 DE OUTUBRO de 2014, para a FORMAÇÃO CONTINUADA DO ENSINO RELIGIOSO DE RORAIMA.

OBJETIVO:
Proporcionar informações referentes ao Ensino Religioso no Brasil e no mundo, bem como os aspectos pedagógicos e legislativos de como se pode atuar em sala de aula, fundamentados nas concepções do diálogo e do conhecimento do fenômeno religioso na pluralidade das religiões.

INSCRIÇÃO:
  • Local: Secretaria Acadêmica do CEFORR.
  • Período: 11 AGOSTO A 01 DE OUTUBRO
  • Documentos necessários: 1 foto 3x4, cópia do RG e CPF.
FORMAÇÃO:

  • Início da formação – Conforme cronograma anexo.
  • Horário: Matutino – Cronograma.
  • Local: Local: Auditório da Secretaria de Educação (Antigo CEIA) - Rua Barão do Rio Branco, 1495, Centro.

INFORMAÇÕES: