terça-feira, 11 de junho de 2013

Texto base do referencial - 2


Dando continuidade dos textos base do referencial curricular para proporcionar aos professores e alunos o conhecimento das religiões em várias dimensões: filosófica, antropolótica, sociológica, psicológica e histórica:
veja também: Eixo 1
 
3.1.1 A função política das ideologias religiosas

A religiosidade representa para a sociedade uma parcela significativa de suas atividades. Ao se estudar a sociedade a política e as instituições, a sociologia pretende desvendá-lo como fato social. Em relação à religiosidade, alguns estudos querem desvendar o que representam as ideologias religiosas.
Nas sociedades antigas a função da política das ideologias religiosas era integrada na sociedade. Isto significa que não se via muita distâncias entre as manifestações religiosas e as outras organizações sociais existentes. Nas tradições religiosas dos indígenas e de aborígenes australianos há esta integração. O que há de elemento cultural está intimamente associada às manifestações religiosas e vice-versa. As implicações que a política e a organização social têm sobre esse tipo de sociedade influenciam diretamente nas ideologias religiosas.
Na Idade Média as implicações da ideologia religiosa sobre as questões políticas são marcantes. Para os medievais Deus era o centro e a base para explicar tudo. Não havia ideias diferentes sobre crença religiosa e o pensamento girava em torno do que justificasse a única ideologia religiosa da época, pensar nas coisas do mundo identificadas com a existência de um Deus. Na Idade Moderna esse pensamento se modificou e até se contrapôs ao pensamento medieval. O centro e a base já não é mais Deus, mas o próprio homem. Os modernos pretendem separar a religião da política. As ideologias religiosas passam a ser vistas separadas do mundo das ciências e sua função política já não representam muita coisa no mundo Ocidental.
No mundo atual, verifica-se uma grande separação das coisas que são do mundo religioso do mundo político, mas existe uma função política das ideologias religiosas. E qual será esta função? As ideologias religiosas estão presentes nos campos da moral, dos comportamentos, das artes e das decisões sobre com quem dialogar.
Buda (Sidharta) tomou uma decisão política importante que marcou o Budismo. Ele decidiu sair dos palácios para se aproximar do outro, e mais especialmente do sofrimento do outro. Jesus não queria o comércio no Templo e não aceitou como os judeus queriam julgar os que estavam com fome e colhiam o trigo no dia de Sábado para o seu próprio alimento. Deus queria que Moisés fosse libertar o povo da escravidão. A sua aparição na Sarça ardente revela que Deus tinha um plano para Moisés. No Candomblé, os Orixás encaminham respostas aos crentes para a prática do bem e defesa da natureza. Os Pajés procuram orientações dos espíritos para que tragam o bem para a aldeia e vivam em harmonia com a natureza.
O posicionamento político desses líderes religiosos revelam que as ideologias religiosas dirigidas para a prática do bem podem exercer uma função política com significado expressivo. Nesses casos as religiosidades estão sempre ao lado do “outro”, num diálogo com os menos favorecidos – os pobres, os que tem fome, os encarcerados, a natureza – e com a intenção de promover mudança social.

3.1.2 A função social das diversas religiões

Nas sociedades as religiões exercem a função de desenvolver um sistema de proteção da vida, de extensão do significado da existência humana e de interação e identificação do grupo social consigo mesmo e com o Transcendente. Quanto à sua função social a religião pode ser colaborativa no discurso público sobre a saúde, a educação, a segurança pública e o desenvolvimento nacional. Ela também pode ser executora e disseminadora desse discurso, visto que se apresenta numa posição privilegiada para esse feito.
Numa expressão, resumindo essa função, seria como “a busca da felicidade” em todas as suas dimensões, não somente a espiritual. A sociedade pode buscar na religião a identidade dos elementos de convivência social. A ideia de comunidade, por exemplo, estabelecida a partir de relações próximas e da realização de ritos comuns, pode dar sentido de pertença à vida de um grupo social.
A religião dá um sentido universal aos sentimentos humanos mais profundos. Ela pode incluir um corpo de doutrina formal, chamado de teologia, um ritual, uma experiência pessoal, os valores morais e uma organização de fiéis e sacerdotes. Quanto à sua definição a religião pode ser apresentada como o sentimento de solidão experimentada por indivíduos que se relacionam com o divino ou ainda consideram buscar um “Caminho” como no Budismo, no Xintoísmo e o confusionismo. Mas o que permanece é a ideia de um poder sobre-humano, como força abstrata e impessoal chamada Deus, fantasma ou espírito.
Para ilustrar vejam os exemplos: os Melanésios do Pacífico Sul consideram religião à crença num poder sobrenatural que pertence à religião dos invisíveis. Suas práticas representam o uso de meios para adquirir esse poder em benefício deles. Não é comum para este povo a noção de Ser supremo. Nas religiões afro-brasileiras o Olorum (o ser supremo) ocupa um lugar tão elevado que não existem rituais para ele, rituais são apenas para os Orixás. O indígenas brasileiros em algumas tradições precisam da ajuda do Pajé para negociar com os espíritos, que podem causar doenças. A cura da doença depende de como o Pajé acalma esses espíritos.
A função social da religião neste sentido é o pedido de ajuda que os humanos fazem ao divino. Isto faz viver melhor neste mundo e a ter boas relações com os outros, com a natureza de forma solidária e colaborativa. Não importa se a religião privilegia mais o ritual, ou a doutrina, a crença, ou o ser supremo.


1.4 Psicologia e tradições religiosas: Em todas as religiões a questão da psicologia é latente pois a influência dos líderes é notada nos formatos das religiões (sermões, castigos, direcionamentos):


As tradições religiosas possuem aspectos que podem ser definidos como gerais, ou seja, possui em todas as culturas humanas. Um desses aspectos é a espiritualidade. As visões que se tem da espiritualidade mudam, mas seu entendimento, sua existência e seu cultivo permanecem. A psicologia da religião pretende esclarecer a dimensão espiritual humana a partir das tradições religiosas.
A psicologia estuda a psique humana, com o objetivo de entender as dimensões existenciais. Estudos sobre a mente e o conhecimento pretendem indicar formas de tratamento de possíveis doenças, bem como a tentativa de soluções de problemas. Para a religião o estudo da espiritualidade auxilia no bem-estar psicológico, satisfação com a vida, felicidade, melhor saúde física de mental. A espiritualidade pode dar sentido à vida das pessoas auxiliando-o na morte e no sofrimento.
Aurora Camboim e Julio Rique afirmam que “a espiritualidade é a busca pessoal por respostas compreensíveis para questões existenciais sobre a vida, seu significado e a relação com o sagrado ou transcendente que podem (ou não) levar ou resultar do desenvolvimento de rituais religiosos e formação de uma comunidade.” Existem preocupações com o sentido da vida, com o que vem além dela, com o existir além da matéria, com a vida após a morte. Essas e outras preocupações são pensadas pelos que cultivam a espiritualidade.
A espiritualidade pode ser considerada como um fator positivo na saúde das pessoas e beneficiam na ajuda contra o stresse. A espiritualidade e a religiosidade ocorrem na adolescência de uma forma intensa. Sejam em posicionamentos radicais de ateísmo ou misticismo fervorosos. Na fase adulta há uma estabilidade das inquietações religiosas, na fase de envelhecimento

1.4.1 A tradição religiosa na construção do inconsciente pessoal e coletivo

Na visão de Carl Jung o inconsciente pessoal é composto por material reprimido e de complexos. Diferente disto, o inconsciente coletivo possui tendência de sensibilidade a certos símbolos e apresentam sentimentos profundos. Os símbolos religiosos e os conteúdos espirituais são importantes para a organização da personalidade. O estudo dos sonhos e dos desenhos feitos por Jung podem mostrar o inconsciente.
Essas ideias sobre o inconsciente cultivam a espiritualidade. Uma das tarefas da espiritualidade é dialogar com o mais profundo do nosso ser. Esse contato faz com as pessoas identifiquem algo diferente no seu interior. É isso o que algumas tradições religiosas chamam Deus. A sociedade moderna precisa buscar a dimensão espiritual como algo que dá ao homem o complemento para o seu ser.
Os seres humanos possuem a dimensão da corporalidade e uma mente que é carregada de desejos e sonhos. Mas existe uma dimensão que faz perguntas sobre a existência humana: de onde venho? para onde vou? o que estou fazendo aqui? Que energias que estão em nós e não somos dono, mas que temos uma missão de domesticar e fazer um projeto de vida de união com todas as pessoas? O nosso interior possui um mistério do qual muitas vezes se é incapaz de reconhecer, mas que nos torna estranhos de nós mesmos.
A dimensão espiritual é o que eleva o ser humano. Ela está centralizada no interior e eleva o ser humano para além deste universo. O seu resgate para o mundo atual é urgente, pois essa dimensão está no mais profundo de nós. É importante dialogar com ela, escutar a sua voz, na perspectiva de compreender o mundo e se aproximar de valores não materiais. O nosso inconsciente pessoal e coletivo nos dá a possibilidade de viver essa dimensão que une o homem ao cosmos, fortalece a sua capacidade de pensar nas coisas, no mundo e nos outros. Essa é a tarefa da espiritualidade e independe da tradição religiosa. Qualquer tradição religiosa aponta caminhos, dentro de suas limitações e condições, para olhar essa dimensão.

1.4.2 A inter-relação religiosa.

A fé apresenta ao ser humano uma ponte entre o que ele é o que a dimensão transcendente lhe apresenta. Não existe a fé sem sentir o transcendente. Esse sentimento revela e dá possibilidade de se criar e fazer crescer a interação do ser humano. A visão do homem integral na perspectiva de se entender e de ser relacional. Sem entender o foco principal do princípio e da origem da religião, que é a dimensão espiritual, não existe a possibilidade de inter-relação religiosa.
Não dá para entender a religião como uma “neurose coletiva” de dependência em relação ao pai e a mãe e que isso é projetado para um grande pai e mãe numa figura divina, como entendia Freud. Ele ainda afirma que a religião serviria como uma terapia para as pessoas não se tornassem neuróticas.
Diferente disto Leonardo Boff entende que a “neurose coletiva” é uma coisa constante que não dá sossego ao ser humano. Não há algo escrito em nós, no nosso código genético, para se chegar à felicidade. Isso para Boff é um propósito do criador, pois o ser humano precisa criar a sua felicidade. Ela não é dada nem no código genético nem na sociedade. O que há é um conjunto de respostas em que ele se dá e vai construindo a sua felicidade. A felicidade é um processo de auto-realização e um processo de individuação humana. Ele pode enfrentar tudo na vida, é um ser humano liberado. Essa é uma construção humana, pessoal e coletiva.
O crescimento da dimensão coletiva para possibilitar uma inter-relação religiosa entre os indivíduos de uma comunidade faz buscar respostas não somente na individualidade. Embora que a sua concretitude individual seja importante para a solução de problemas comunitários, é importante também o estabelecimento de uma convivência profundamente solidária. Ligar a busca do transcendente à busca pela relação com o outro facilita o conhecimento de si e do outro. Isso dá abertura maior ao ser humano liberado e o eleva para além da materialidade.


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